sábado, agosto 29, 2009

O menino do pijama listrado


Filme baseado no livro de John Boyne, traz o garoto Bruno de oito anos como protagonista, e nos diz o quanto, nós seres humanos, podemos desenvolver situações de uma estupidez ilimitada. O auge do nazismo vivido por uma família que deveria ter apenas uma cabeça pensando e as outras alheias ao processo, mas nunca é assim. A descoberta é uma das razões fundametais da nossa existência, nosso ser (mente e corpo) encontram sentido na busca daquilo que não conhecemos, experimentamos, vimos, sentimos como queiram. Triste como foi e como deve ser tudo que se refere ao Auschwitz. Good movie.

Lembrando Chomsky

Quando as pessoas dominam verdadeiramente um tema, se fazem compreender facilmente, porque falam com simplicidade. Simplicidade não é o mesmo que superficialidade. É possível dizer coisas importantes e profundas de forma clara, mesmo quando tratamos de assuntos bem complicados. Por outro lado, quando o falante começa a entrelaçar conceitos que remetem a outros conceitos; quando suas palavras formam círculos que impedem qualquer afirmação, o discurso vira um refúgio e, nesta metamorfose, o que se propõe não é mais um diálogo, mas uma encenação.

Um dos críticos deste mau uso das palavras é Noam Chomsky, um dos grandes intelectuais de nosso tempo, a quem devemos descobertas que revolucionaram a linguística. Chomsky nunca entendeu o significado de expressões como, por exemplo, “dialética”. Para ele, sempre que alguém lhe tentou explicar o sentido do conceito, ou dizia algo sem sentido, ou produzia uma verdade trivial. Brincando com suas próprias posições, Chomsky diz que talvez lhe falte um gene para entender palavras do tipo. No interessantíssimo Para Entender o Poder (Bertrand Brasil, 2005), o polêmico dissidente americano concluiu que, por trás de conceitos assim, há muita “falcatrua”. Chomsky tem sido, também, um dos mais importantes críticos do papel da imprensa, o que explica a razão pela qual não costuma ser muito “popular”. Uma de suas teses sustenta que a imprensa não vende jornais. O verdadeiro produto que a imprensa vende é seu público e quem compra este produto, é claro, são os anunciantes. Talvez, dito assim, soe muito simples. Mas o que há de verdadeiro nesta simplicidade é seu incômodo.

O jornalismo precisa ser simples, porque seu desafio é o de alcançar o maior número de pessoas, informando-as. O que não significa que precise ser superficial. Nas primeiras horas após a desocupação da fazenda Southall, tínhamos um sem-terra morto. Depois, com as informações de que a vítima não estava armada e que foi alvejada pelas costas, o que passamos a ter foi um assassinato. Ou, se a linguagem jurídica for preferível, um homicídio. O MST não “ganhou um mártir”, como se chegou a afirmar, porque a conclusão faz crer que o impróprio no disparo é seu efeito político, não o cadáver. Os relatos colhidos sobre o que foi feito pela Brigada Militar apontam não para uma “operação desastrada”, mas para a prática da tortura contra dezenas de pessoas. Não há desastre ou “erro” na tortura, há vergonha e crime.

Simples assim. E se uma representante do Ministério Público anuncia que a operação policial demonstrou “profissionalismo”, então há um espanto que precisa ser explicado, para que o próprio Ministério Público não se confunda com o “Ministério da Verdade” de George Orwell e sua “novilíngua”. Na distopia proposta pelo livro 1984, um dos conceitos criados pela “novilíngua” era “duplipensar”. Com a expressão, o governo totalitário pretendia induzir os indivíduos a conviver simultaneamente com duas crenças opostas, aceitando ambas. Uma polícia que atua com profissionalismo não tortura, não humilha e não produz cadáveres. Não há “dialética” a ser invocada e não dizê-lo claramente é amparar a mão que puxou o gatilho. Simples assim. Ou, talvez, me falte um gene para compreender a covardia.

Marcos Rolim é jornalista.

OBS: esse texto está na ZH desse domingo, dia 30/08/2009 e é uma resposta ao texto que o faz companhia na mesma página de Percival Puggina que demoniza o MST (o que não é surpresa) de modo tão raivoso que assusta.

Portentosa ruína

A prestigiosa coluna do Ancelmo exibiu na edição de "O Globo" de sexta-feira passada uma curiosa e significativa montagem fotográfica. Apresentados como "o time dos ex-petistas", Plínio de Arruda Sampaio, Marina Silva, Milton Temer, Flávio Arns, Cristóvão Buarque, Luiza Erundina, Carlos Nelson Coutinho, Chico Alencar, Heloísa Helena, Fernando Gabeira e Leandro Konder tiveram suas feições recortadas e coladas por sobre uma fotografia da seleção brasileira. Tal plantel, vestido com o manto sagrado verde-amarelo e chamado de escrete, seria apenas uma entre tantas formações possíveis na cada vez mais numerosa "Legião de Ex-Petistas".

O texto que serve de legenda para a foto-montagem cuida de explicar que, além da LEP, Legião dos Ex-Petistas, com o que daria para formar vários times de altíssimo nível, cresce também a LENAL, Legião dos Novos Amigos do Lula, na qual militam titulares como Sarney, Renan e Collor. Ao tratar da diferença entre os dois times, o jornalista lança mão de um bordão da coluna que fala por si só: "...deixa pra lá". A imagem montada fala mais do que mil palavras. Além de expressar uma tomada de posição, ela revela um dado importante do atual momento político brasileiro.

Está em curso, o noticiário das últimas semanas expõe de maneira cruel, mais uma mudança de patamar na complexa dialética que articula o lulismo ao petismo. Nasceram juntos, cresceram entrelaçados. Nos momentos de afirmação de ambos como instrumentos de mudança, parecia impossível destrinchá-los. Cresciam como verso e reverso de uma mesma moeda. Nos vestíbulos da chegada ao governo, a dialética desta relação foi reconfigurada. Mudou o sentido da articulação lulo-petista. A partir de então, outra lógica passa a operar e sua feição atual está bem expressa na criativa matéria do jornalista Ancelmo Gois.

O lulismo agora floresce sobre os escombros do petismo. Um cresce e o outro definha, na dialética perversa que se afirma como imperativo categórico e determina a mudança na natureza de ambos. Para garantir a governabilidade do Lula, o PT se vê obrigado a percorrer a via-crúcis da mais completa desmoralização. A saída de Marina Silva e Flávio Arns, o ridículo soberbo do episódio Mercadante e o papelão da bancada petista como tropa de choque do Sarney no Senado Federal são as mais recentes manifestações de tal processo.

O Partido dos Trabalhadores, de saudosa memória, virou almoxarifado de peças de reposição para a engrenagem infernal da pequena política. Sentou na janelinha da governabilidade conservadora e, como um novo PMDB, se converteu em poderosa máquina eleitoral. A antiga identidade, o passado de glórias, o patrimônio de tantas lutas sobrevivem como registro na história. O retrato na parede de uma portentosa ruína.

Léo Lince é sociólogo.

OBS: Não acho que a coluna de Ancelmo em 'o globo' seja prestigiosa, muito menos o jornal que a hospeda.

quinta-feira, agosto 27, 2009

Yeda “investe” R$ 34 mil na UERGS e articula ajuda milionária para GM


O déficit zero, decantada conquista do governo Yeda Crusius, é um discurso que se esboroa diante da realidade que nos apresenta escolas de lata e postos de saúde cheios de goteira. Só um número, revelado esta semana, dá conta do embuste: no orçamento para 2009, que Yeda jurava ser realista, seus técnicos previram um gasto de R$ 37 milhões com a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), mas até o mês de julho, nem um quarto (24%) deste dinheiro foi aplicado na universidade. Pior, no item “investimentos” o Estado gastou 1%. Isto mesmo, um por cento (!) o que equivale a míseros R$ 34 mil reais para a manutenção e a melhoria de dezenas de unidades espalhadas pelo Estado inteiro.

São dados da Secretaria da Fazenda que revelam muito mais do que cifras; revelam, na verdade, a opção política de um jeito de governar tucano nem um pouco novo porque já foi visto em nível federal com Fernando Henrique quando as universidades públicas foram sucateadas. Yeda tem horror à idéia de fortalecer a UERGS não só porque ela foi criada pelo governo Olívio Dutra, mas porque foi criada para dialogar com o desenvolvimento endógeno, capacitar a produção local e não para moldar futuros peões das ultrapassadas indústrias de segunda geração do tipo montadoras de automóveis.

E por falar em General Motors, já tramita na Assembleia Legislativa um benevolente projeto de lei em que Yeda concede maravilhosos incentivos fiscais à montadora. A oposição, premida pelo temor de que qualquer movimento mais brusco de reação seja ordinariamente noticiado como uma “Ford 2″, atua com todo o cuidado. A idéia é demonstrar ao povo gaúcho que o que Yeda está oferecendo à GM em isenção de impostos, se fosse aplicado, por exemplo, no setor moveleiro, calçadista ou nas cooperativas e no setor primário, geraria mais empregos, mais renda e, por conseguinte, mais desenvolvimento ao Rio Grande do Sul. A benesse de Yeda representa alguns bilhões a menos nos cofres públicos e, na ponta do lápis, significa que todo o comemorado investimento da montadora no Estado, será completamente pago… pelo povo gaúcho. (Maneco)

Foto: Yeda e Britto reunidos ontem em São Paulo. Qualquer semelhança entre seus governos não é mera coincidência. (Jefferson Bernardes/Palácio Piratini)

Fonte: RS urgente

quarta-feira, agosto 26, 2009

Número de assassinatos entre negros no Brasil é duas vezes maior que entre brancos

O número de negros assassinados no Brasil é duas vezes maior do que o de brancos, apesar de cada grupo representar cerca de metade da população do país.

A constatação é de um levantamento feito pelo Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), com base em dados do SUS (Sistema Único de Saúde) referentes a 2006 e 2007.

Nesses dois anos, 59.896 negros foram assassinados. Entre os brancos, o número foi de 29.892. A diferença entre o número de homicídios de negros e brancos é maior entre as crianças e jovens de 10 a 24 anos. Entre os maiores de 40 anos, o número de homicídios é quase o mesmo nos dois grupos.

Segundo o coordenador do laboratório, Marcelo Paixão, os números mostram que os negros estão sujeitos a uma exposição maior de risco que os brancos, em várias partes do país. "Isso é determinado por razões que são sociais, ou seja, pelo modo de inserção das pessoas no interior da sociedade, e que fazem com que elas tenham maiores probabilidades de virem a sofrer um atentado violento contra suas vidas ao longo de seu ciclo de vida", explicou.

Um dos fatores sociais que poderia explicar esse risco maior é o local de moradia, já que muitos negros moram em áreas mais violentas, como as favelas do Rio de Janeiro, de São Paulo ou de Pernambuco.

Além disso, de acordo com Paixão, há pesquisas que mostram que a letalidade policial --a morte provocada por policiais-- é maior entre os negros do que entre os brancos. Um terceiro fator seria a baixa autoestima da juventude negra que vive em áreas pobres e que não vê escolhas para a sua vida, e que, por isso, teria mais probabilidades de se envolver em situações de risco.

A maior desigualdade entre homicídios de brancos e negros é encontrada na região Nordeste. Enquanto a relação populacional da região é de 2,4 negros para cada branco, a relação de mortes é de dez negros para cada branco.

Já a região Sul é a única do país onde essa tendência não é sentida, visto que a relação populacional e a relação de homicídios por cor é igual: 0,2 negro para cada branco.

Fonte: Agência Brasil

segunda-feira, agosto 17, 2009

A luta pela terra em São Gabriel






O vídeo de 9 minutos tem depoimentos de assentados do MST no município de São Gabriel (RS). São imagens do acampamento sem-terra captadas no último sábado, 15 de agosto.


Fonte: Diário Gauche

quinta-feira, agosto 13, 2009

Operação Pandemia

AQUI,

temos um vídeo interessante sobre a nova gripe. Será que ela tem origens biológicas? Será que a grande mídia que divulga-a tão densamente tem algo a ver com essa intriga que o vídeo desnuda? O capital está por trás dessa gripe e de outras como podemos ver, e nesse caso ele tem nome, país e dono. Sair de um laboratório farmacêutico para ser secretário da defesa americano? Conseguem ver nexo nisso? Sim né! Vejam o vídeo.

OBS: "O jardineiro fiel" de Fernando Meirelles é um bom filme.

Que se matem!

A Globo fez questão de detalhar o caso de roubo de Edir Macedo e sua turma (com a quadrilha do governo Yeda o jornal nacional não perdeu nem 2 minutos, para o Edir deram 10) e por conseqüência atacar a emissora concorrente que vem ganhando audiência. Por sua vez, a Record respondeu ao monopólio nascido na e com o apoio da ditadura. Ambas emissoras pra mim são um deserviço para o páis, mas principalmente para a consciência dos trabalhados, da juventude e dos pequenos. A cosntrução das duas foi feita de modo ilegal e imoral não tenham dúvida, uma tira dos fiéis e a outra se colou no poder reacionário para se reproduzir.
Aqui está a resposta da Record, me interessa que se matem e se afundem em brigas e denúncias, quem sabe alguém perceba e conheça o podre que envolve a grande mídia brasileira que é comprometida com o que há de mais indigno nesse mundo.

quarta-feira, agosto 12, 2009

Ruína de Yeda e omissão da imprensa

Os leitores dos jornalões editados em São Paulo e Rio de Janeiro já conhecem com muitos detalhes cada falcatrua cometida no Senado Federal. Até os pecadilhos dos parlamentares, coisas consideraras (por eles próprios) "menores", como ceder passagens aéreas para familiares, vão logo parar nas manchetes – o último desses casos envolve o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Se alguém perguntar aos leitores o que está acontecendo no Rio Grande do Sul, porém, é provável que a resposta seja evasiva. De fato, a gestão Yeda Crusius (PSDB) à frente do governo gaúcho é uma tragédia de graves proporções e não está merecendo dos grandes jornais uma cobertura à altura do desastre – político e gerencial – em curso nos pampas.

É bem verdade que nos últimos dias, especialmente depois que o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul (MPF-RS) protocolou, em 5 de agosto, uma ação de improbidade administrativa na Justiça Federal de Santa Maria contra a governadora e outros oito réus, os jornalões do Rio e São Paulo decidiram dar uma colher de chá e publicaram reportagens sobre o assunto. Tudo muito insuficiente.

Sim, insuficiente, porque o descalabro começou antes mesmo de Yeda Crusius botar os pés no Palácio Piratini, em janeiro de 2007. Durante a campanha, a então candidata se indispôs com seu vice, Paulo Afonso Feijó (DEM), porque ele defendia as privatizações como saída para resolver os problemas financeiros do estado. Desautorizado, Feijó permaneceu na chapa, foi eleito e depois rompeu politicamente com Yeda. Ainda durante a campanha, o marqueteiro Chico Santa Rita abandonou o comando da estratégia de marketing acusando a governadora de deixar de pagar os salários da sua equipe. Em seguida, já eleita, mas antes de tomar posse, Yeda pediu ao então governador Germano Rigotto (PMDB) que enviasse à Assembléia Legislativa um projeto para cortar despesas e aumentar o ICMS. Tal projeto foi derrubado em 29 de dezembro de 2006, em uma votação que teve como articulador político o vice-governador. Só que contra, e não a favor do projeto de Yeda...

Consequências eleitorais
A crise, permanente, se arrasta desde a campanha eleitoral de 2006. De lá para cá, Yeda jamais conseguiu momentos de tranqüilidade política no Piratini. A grande imprensa do Sudeste vem noticiando tudo com muita discrição e sem contextualizar o problema. Aliás, um problemão. O ruinoso governo de Yeda de certa forma quebra a espinha dorsal do discurso tucano da "excelência da gestão", que deveria ser o diferencial da candidatura presidencial do partido em 2010. Pior ainda, no campo político a governadora conseguiu se isolar de tal maneira que DEM e PMDB, tradicionais aliados do PSDB no estado, já pularam da canoa de Yeda. Se ela insistir em se candidatar à reeleição, qual será o palanque do presidenciável tucano em terras gaúchas? José Serra (ou Aécio Neves) estarão ao lado de Yeda, única governadora brasileira que tem taxa de rejeição superior à de aprovação? Difícil, a julgar pela defesa tímida que os próceres tucanos vêm fazendo do governo da correligionária gaúcha. E alguém leu análises sobre isto nos jornalões?

Boa parte das matérias, aliás, conseguiram inverter a questão, atribuindo ao PSOL uma importância que nem mesmo a deputada federal Luciana Genro (RS) poderia almejar. Sim, porque o desastre político do governo Yeda tem como protagonista a própria governadora, que em um raro espetáculo de inabilidade política conseguiu perder apoio de aliados tidos como muito fiéis, a exemplo do DEM e do PMDB. Definitivamente, não foram as denúncias da filha do ministro Tarso Genro que colocaram Yeda nas cordas, foi a própria governadora que preferiu se postar no corner. E isto também ficou de fora da cobertura dos jornalões sobre o caso.

Cobertura descontextualizada
A falta de contextualização vai além dos aspectos político-partidários. O Rio Grande do Sul vive uma crise estrutural há muito tempo, com problemas especialmente nas finanças do estado e na sua economia. O PIB gaúcho, que representava em 2008 quase 7% do nacional, permanece neste patamar há pelo menos 10 anos. Ao contrário da região Nordeste, altamente beneficiada pelo crescimento dos últimos anos, a economia do Rio Grande vive uma situação que já antes da crise econômica mundial beirava à estagnação.

A situação econômica do Estado deveria necessariamente aparecer nas matérias e reportagem sobre a crise do governo Yeda porque é parte explicativa dos problemas enfrentados pela governadora. De fato, a tentativa, talvez um tanto açodada, de zerar o déficit do Rio Grande em quatro anos foi uma das causas de boa parte dos problemas da governadora. Em casa que falta pão, como se sabe, todos gritam e ninguém tem razão.

Com a cobertura fragmentada e direcionada para os momentos mais espetaculares – as denúncias, o anúncio do processo, os rompimentos com os aliados –, a imprensa do eixo Rio-São Paulo acaba prestando um desserviço aos seus leitores, que ficam com a impressão de que Yeda Crusius é apenas uma vítima do radicalismo do PSOL ou da fúria do Ministério Público. Há uma ótima história para ser contada por trás de um governo ruinoso, mas a mídia parece não querer contar. Por preguiça ou por motivos obscuros. Em ambos os casos, perde o leitor.

Luiz Antonio Magalhães é jornalista e Editor Executivo do Observatório da Imprensa, onde este texto foi originalmente publicado. Também é editor do blog Entrelinhas.

terça-feira, agosto 11, 2009

Alguém roubou algo, de alguém em algum lugar...

Veja o vídeo de uma sátira que explica o título do post e cabe exatamente para o caso do corrupto governo gaúcho.

Ninguém questiona que houve uma fraude no Detran gaúcho. Um roubo de aproximadamente 44 milhões de reais. O máximo que os advogados de defesa dos acusados fazem é questionar o envolvimento de seus clientes com a quadrilha. Alguém roubou, mas não foi o meu cliente. Alguém roubou, mas não fui eu. Enfim, alguém roubou. Um roubo de 44 milhões de reais. Dinheiro público. Há uma profusão de gravações, cartas, documentos, testemunhos e denúncias apontando para os integrantes da quadrilha. A maioria deles está sendo defendida por advogados caros, que contam com amplo e generoso espaço midiático para fazer a defesa de seus clientes e desfilar as teses da defesa como se fossem análises jurídicas. Alguém roubou, mas não foi o meu cliente.

A governadora do Estado é acusada de integrar essa quadrilha. Antes do Ministério Público Federal, essa acusação já foi feita por ex-integrantes do governo. É curioso que, ao invés de uma rejeição indignada da acusação, os defensores de Yeda Crusius repitam, incessantemente, com um cinismo mal disfarçado: “não há provas!”. Até bem pouco tempo, a ordem era dizer: “não há fatos novos!”. Os fatos não cessam de ocorrer. O discurso envelheceu. Agora, é preciso perguntar: “onde está a gravação com a voz da governadora confessando que roubou?” “Onde está a foto ou o vídeo da governadora com a mão na cumbuca?”. Viram, não há provas. E os advogados se divertem em suas conversas com Lasier Martins. Alguém roubou no Detran, mas não foi a governadora. Nem foi meu cliente. Que prendam o alguém.

Fonte: RS urgente

domingo, agosto 09, 2009

Resenha: Mészáros: Crise e Revolução

Os sete ensaios de interpretação histórica reunidos por István Mészáros em ‘A Crise Estrutural do Capital’ articulam-se em torno de um objetivo central: definir o marco histórico mais geral dentro do qual se dá a crise econômica mundial. Com textos escritos ao longo de várias décadas, o mais antigo em 1971 e o mais recente em 2009, a publicação condensa a quinta-essência da reflexão do filósofo húngaro - um dos expoentes do pensamento marxista contemporâneo - sobre as causas e as conseqüências da "crise estrutural do sistema de metabolismo do capital" – o processo que condiciona as mudanças tectônicas de nossa época. Preparado especialmente para o público brasileiro, o livro conta ainda com uma providencial introdução de Ricardo Antunes, na qual se encontra uma didática exposição do sistema teórico de Mészáros, o que facilita muito a vida dos leitores que não conhecem a complexidade de sua filosofia.

livro_a_crise_do_capital_gd.jpgTendo como prisma o papel primordial da luta de classes na determinação do movimento histórico, a reflexão apresentada em ‘A Crise Estrutural do Capital’ organiza-se em função de duas questões fundamentais: entender por que o capital não é mais capaz de encontrar soluções duradouras para seus próprios problemas, ficando, por essa razão, condenado a exacerbar todas as suas taras; e desvendar, nas contradições inscritas no próprio desenvolvimento capitalista, os requisitos e as condições para ir além do capital.

Tomando como substrato de sua interpretação o movimento histórico das últimas quatro décadas, seu diagnóstico sobre a natureza do capitalismo contemporâneo é implacável. Sem espaço para acomodar as contradições com o trabalho, o processo de valorização do capital assume um caráter particularmente reacionário, violento e predatório, inaugurando uma época histórica marcada por forte instabilidade econômica, grandes convulsões sociais e inevitáveis turbulências políticas.

Crítico das estratégias gradualistas, que buscam soluções institucionais para os problemas gerados pela crise estrutural, restringindo a ação política aos marcos da ordem. A razão desta impossibilidade é que a absoluta subordinação do Estado burguês à lógica do capital torna o poder público impotente para conter os excessos do capital. Em tais circunstâncias, a intervenção do Estado na economia perde todas as suas propriedades curativas para se converter em causa adicional de agravamento da crise do capital, realidade que fica evidente na patética estratégia de "nacionalização da bancarrota" que caracteriza a política econômica das potências imperialistas para combater as crises dos negócios, como a provocada pelo estouro da bolha especulativa em 2008.

Ainda que a crise estrutural do capital bloqueie o crescimento da economia mundial, desencadeando uma tendência estrutural à estagnação, não há em Mészáros nem sombra de uma teoria do colapso que poderia colocar em causa a própria sobrevivência do capitalismo. Neste ponto, seu raciocínio não deixa margem para confusão. Se as bases do regime não forem negadas, o capital sempre encontrará, à custa de grandes sacrifícios humanos e ambientais, um meio de restaurar as condições para a sua valorização, mesmo que apenas para preparar uma nova crise econômica ainda mais violenta no futuro. Em outras palavras, largado à sua própria sorte, o desenvolvimento capitalista torna-se uma crise permanente. Sua interpretação sobre o significado da crise estrutural para o futuro da humanidade segue por outro caminho.

A incapacidade de o capital encontrar soluções duradouras para seus problemas abre ‘brechas’ para a primazia da política, criando condições para o aparecimento de conjunturas revolucionárias que podem (ou não) ser aproveitadas para ir além do capital. Preocupado em tirar as conseqüências práticas de seu diagnóstico, Mészáros estabelece as diretrizes que devem orientar a organização da revolução e o caminho para o socialismo.

Sem se intimidar com assuntos-tabu, ‘A Crise Estrutural do Capital’ contém uma profunda crítica às experiências socialistas do século XX. Para evitar os impasses das revoluções operárias que ficam a meio caminho entre o capitalismo e o socialismo, sujeitas permanentemente aos riscos da restauração capitalista, a ruptura com o sistema de metabolismo do capital deve ser total. A superação das teias que atam a humanidade às determinações da lógica do capital requer não apenas a negação da santíssima trindade que sustenta o sistema de metabolismo do capital - propriedade privada, trabalho assalariado e Estado como aparelho de poder – como também a afirmação de um modo alternativo de organizar a vida material - a produção planejada de valores de uso por indivíduos sociais livremente associados.

Ainda que a forma de argumentação e a linguagem de Mészáros possam dar a impressão, muitas vezes, de que suas soluções sejam abstratas, descoladas da realidade, sua teoria da transição tem conseqüências práticas concretas. Revelando a forte influência de Rosa Luxemburgo em suas convicções políticas, o segredo da transição reside em devolver o controle efetivo das decisões estratégicas, econômicas e políticas aos produtores diretos, subordinando integralmente a esfera da produção material à esfera social, pois, somente assim as transformações promovidas no calor da luta revolucionária podem funcionar como ‘alavancas estratégicas’ de impulso permanente à criação de uma sociedade sem classes, baseada na igualdade substantiva como princípio organizador da vida social.

Publicado com a evidente intenção de dialogar com os intelectuais e os militantes do movimento socialista brasileiro, na expectativa de que o agravamento da crise estrutural do capital abra novas ‘brechas’ para a práxis revolucionária, ‘A Crise Estrutural do Capital’ é um livro criativo e ousado. Em suas páginas o leitor encontrará as grandes controvérsias que cercam o debate sobre as condições e os desafios da transição socialista. Sua leitura incita a reflexão e o estudo. É um convite não apenas para voltar a ler Marx, Engels, Lênin, Rosa Luxemburgo e todos os clássicos do marxismo revolucionário, como também para retomar a rica e profícua produção intelectual do próprio Mészáros.

Plínio de Arruda Sampaio Jr. é professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas – IE/UNICAMP. Resenha do livro A Crise Estrutural do Capital, de István Mészaros, publicado pela Editora Boitempo, 2009.

Fonte: Correio da cidadania

sexta-feira, agosto 07, 2009

Venezuela recupera rádios para o serviço público


Por: Elaine Tavares

A mídia comercial brasileira, copiadora número um da matriz CNN, que transmite em espanhol, para toda a América Latina, bombardeou os leitores/espectadores/ouvintes com críticas ao governo venezuelano que, na semana passada, encerrou a transmissão de 34 emissoras de rádio naquele país. Não faltaram os comentários raivosos sobre a "ditadura chavista" e muito menos as entrevistas - à exaustão - com os representantes da direita golpista da Venezuela falando da "falta de democracia" de Hugo Chávez.

O que a maioria dos veículos não disse - e se disse foi de forma superficial - é que estas emissoras estavam irregulares perante a lei de radiodifusão. Algumas delas seguiam funcionando mesmo depois que os legítimos possuidores da concessão já haviam falecido, sendo utilizada a conhecida figura do "laranja". Conforme a lei daquele país, isso não é possível. As ondas eletromagnéticas são uma concessão pública e cabe ao Estado fazer cumprir a lei, caso contrário cai por terra o conceito liberal de "estado democrático e de direito". Mas, aos liberais, isso, vindo de Chávez, é ditadura. Coisa difícil de entender, não?

Outra informação que a mídia não dá de forma clara é que as freqüências, que funcionavam de forma ilegal e que foram retomadas pelo Estado, passarão por nova licitação e devem ser entregues às entidades comunitárias, para que voltem a apresentar o caráter público que deviam ter. Segundo o ministro de Obras Públicas y Vivienda, Diosdado Cabello, a anulação das concessões se deu não só naquelas em que o titular já havia falecido, mas também nas que estavam com a validade da concessão vencida e sequer se dignaram a comparecer ao órgão responsável por esta questão, a Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel) durante o período que havia sido indicado através de correspondência, demonstrando completo desrespeito com a lei.

O Ministro também informou que existe na Conatel um número muito grande de pedidos de concessão e que agora o órgão deve abrir novas licitações. O presidente venezuelano Hugo Chávez afirmou que não há qualquer ataque à liberdade de expressão; pelo contrário, os veículos foram devolvidos ao povo, uma vez que não cumpriam com suas obrigações.

Mas o certo é que este ato ainda vai render muito pano para manga, principalmente nos grandes veículos de comunicação do chamado "mundo livre", o qual só considera liberdade de expressão a sua própria. Já cumprir a lei e verdadeiramente democratizar a comunicação passa a ser coisa de "ditador". Ninguém na televisão foi capaz de informar que no Brasil existem centenas de emissoras comerciais funcionando com a concessão vencida, enquanto as rádios comunitárias seguem sendo estouradas pela Anatel.

Só para lembrar, recentemente o ministro do STF, Gilmar Mendes, acabou com a exigência do diploma para a profissão de jornalista justamente em nome da chamada "liberdade de expressão" dos donos de empresas. Não é à toa que, de maneira hipócrita, os bocas-alugadas estejam fazendo discursos inflamados contra a decisão do governo venezuelano. Já pensou se aqui no Brasil o governo decidisse cumprir a lei? Só em Santa Catarina tramita um processo contra a poderosa Rede Brasil Sul de Comunicação - que, de forma aberta e pública se expressa como um oligopólio - mas caminha a passos lentos. E tudo o que se quer é que a Constituição seja cumprida. Mas, quando ela vai contra os poderosos aí fica parecendo que é coisa de "ditador". No mundo liberal burguês a lei só se cumpre contra os pobres.

terça-feira, agosto 04, 2009

Classe Média - Max Gonzaga e Banda Marginal

Aqui no Youtube

Sou classe média
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito
Na imparcialidade da revista semanal
Sou classe média
Compro roupa e gasolina no cartão
Odeio “coletivos”
E vou de carro que comprei a prestação
Só pago impostos
Estou sempre no limite do meu cheque especial
Eu viajo pouco, no máximo um pacote cvc tri-anual
Mais eu “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Mas fico indignado com estado quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado que me estende a mão
O pára-brisa ensaboado
É camelo, biju com bala
E as peripécias do artista malabarista do farol
Mas se o assalto é em moema
O assassinato é no “jardins”
A filha do executivo é estuprada até o fim
Ai a mídia manifesta a sua opinião regressa
De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal
E eu que sou bem informado concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal
Porque eu não “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida