sábado, agosto 31, 2013

A Síria

Nem tudo que parece muito complicado de entender sempre o é, o caso da guerra iminente na Síria é até simples. A Síria tem um imenso Gasoduto, reservas gigantes de gás natural. EUA, França e Israel o querem e farão a guerra para isso como fizeram na Líbia e Iraque, também por gás e petróleo. A Rússia tem uma base militar na Síria e também quer o gás, tem mais acesso a ele por ter relações melhores com o atual governo sírio. EUA com apoio turco e de Israel armaram a oposição na Síria para derrubar o governo e colocar um fantoche que atenda seus interesses, não deu certo, agora tentam encontrar na morte de civis supostamente promovida por Assad justificativa para guerra que matará mais civis. Enquanto EUA não derrubar o governo que impõe barreiras para suas corporações energéticas (e dos aliadas) extrair para si o gás isso não terá fim. Nada foge da velha prática de inventar pretextos para se invadir, enriquecer a indústria bélica, matar inocentes e se apossar dos recursos naturais dos países, simples assim. 

domingo, agosto 25, 2013

Mais Médicos e os cubanos

Que belo debate o Brasil está vivendo sobre a saúde pública e o Programa Mais Médicos. Belo porque nasce de uma proposta governamental que tira da inércia as políticas públicas da área e também por expor uma ferida grave do nosso país, qual seja, a falta de atendimento médico que atinge cotidianamente a maioria da população.
Creio que se pode salientar alguns consensos básicos sobre o tema, o Brasil precisa aumentar o investimento em saúde de modo significativo, a infraestrutura tem de ser constantemente qualificada, as 15 profissões da área da saúde precisam de valorização permanente.
Porém, não se vê só beleza nessa discussão, infelizmente ela está sendo palco para raivosos preconceitos, xenofobia, demonstrações de desinformação, superficialidade que nos faz desconfiar se não são intencionais, tamanha a bizarrice de alguns comentários vindo de setores privilegiados da população.
Antes de falar sobre esses comentários é preciso contextualizar o cenário, a polêmica e o desespero de parte da classe médica e dos conservadores se dá quando falam de médicos cubanos, por isso cabe destacar o seguinte.
O Programa Mais Médicos recebeu solicitação de 3.511 municípios apresentando demanda de 15.450 médicos. 1.096 profissionais com diplomas do Brasil e 244 formados no exterior (sendo 99 de nacionalidade brasileira e 145 estrangeiros) confirmaram sua participação no programa. Eles optaram e serão distribuídos em 516 municípios e 15 distritos sanitários indígenas.
Bom, 2995 cidades precisam ser atendidas porque ninguém se inscreveu para elas, nenhum médico brasileiro nem estrangeiro quer ganhar 10 mil reais e instalações para trabalhar nesses municípios. Diante disso o governo fez um acordo com o Estado de Cuba através da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) para trazer nos próximos meses 4 mil médicos daquele país, eles irão se enquadrar nas regras do Programa Mais Médicos. 400 deles chegam nesse fim de semana, abaixo o perfil deles divulgado no site da OPAS.
89% têm mais de 35 anos, sendo 65% do total na faixa etária de 41 a 50 anos; 84% têm mais de 16 anos de experiência em medicina; 60% são mulheres e 40% homens; Todos já cumpriram missões em outros países, incluindo participação em missões em países de língua portuguesa; Todos têm especialização em Medicina da Família e da Comunidade e; 20% têm mestrado em Saúde.
Não farei nenhum paralelo de comparação da saúde no Brasil com a de Cuba, esse não é o foco desse debate e os órgãos internacionais como Organização Pan-Americana de Saúde, Unicef, Organização Mundial de Saúde são ótimas fontes para pessoas curiosas sobre isso e bem intencionadas.  
Lendo os comentários nas redes sociais, em enquetes, temos alguns padrões nos posicionamento contrários:
- um avalia, de modo maniqueísta, o governo como uma conspiração comunista a serviço de Cuba que deseja enganar a população e perseguir os médicos. Delírio absoluto.
- outro perfil de comentário é mais calcado no senso comum desinformado que afirma que médicos cubanos serão escravos, uns mais ponderados questionam a forma de pagamento do convênio assinado.
Sobre a forma de pagamento, aqui temos um tema bom, nota-se o quão é difícil conceber algo que não se rege pela lógica liberal, como dói compreender que pode existir outro modo de remunerar o trabalho. Cuba tem um regime político diferente do Brasil, goste você ou não, as regras de convênios como esse são claras e legitimadas por dezenas de países.
 Os médicos cubanos são funcionários do Estado em Cuba, tem seus trabalhos garantidos, uma carreira. Em missões como essa no exterior eles recebem um adendo em seu salário (4 mil reais provavelmente a depender do custo de vida das cidades para onde serão destinados) e outra parte fica para o Estado que garantiu sua formação gratuita desde sua infância.
Gonzales, um dos médicos cubanos recém-chegados, quando perguntado sobre o quanto vai receber afirmou: “não sabemos ainda, mas será o necessário, pois tenho emprego garantido no meu país e parte dos recursos irá para ajudar o meu povo”.
Concordamos ou não com essa lógica, essa dinâmica, isso é ter contato com outro modo de ver a vida, de olhar para as relações sociais e humanas, assim como temos direito de termos nossas interações trabalhistas pautadas em uma lógica mais mercantil e individual, os profissionais de outros países tem o direito de pensar e agir diferente de nós.
Nesse caso, criticar o PT, ter uma postura arrogante se retirando do debate da urgência de atendimento médico que temos no país, deixar escapar do inconsciente um sério “complexo de superioridade” (que pensa ser 10 mil reais um salário escravo, que não quer permitir que outros profissionais vão aos rincões do país por eles serem estrangeiros) é um desfavor que parte da classe médica presta a sua nação.
Para maioria da população pobre brasileira que, não acessa a internet 53,5% (IBGE, 2011), que não tem acesso a essas polêmicas, que não tem alternativas para seus problemas de saúde, esse debate político e corporativo não interessa. O importante para eles e elas é sobreviver, se curar agora, melhorar minimamente a qualidade de vida e a condição do seu organismo.
Em muitos lugares onde serão alocados os médicos cubanos nunca se pensou em medicina preventiva, nunca se executou programas de medicina comunitária com equipes multidisciplinares. Essa ação governamental é emergencial, mas já vem tarde, era para ter sido feita a muito tempo, por qualquer governo. O Tocantins, em 1998 no governo de direita de Siqueira Campos (então no extinto PFL, hoje filiado ao PSDB e novamente governador) teve inciativa parecida ao trazer médicos cubanos por convênio.
Outro grupo de comentários que tratam do Revalida, da questão do idioma, questionam a competência dos estrangeiros, cegamente ainda afirmam que não faltam médicos, não merecem nota diante do real debate que deve ser feito. 
Qual é esse real debate? A lógica mercantil da nossa saúde, a formação para uma medicina que concebe a doença como mercadoria e fonte de lucro, as relações nefastas entre médicos e laboratórios farmacêuticos, a cultura da pulverização de medicamentos em detrimento de prevenção e ações integradas, a gestão pública e das fundações, o poder e o lucro dos planos de saúde e seus precários serviços, além daqueles consensos básicos listados no começo do texto que são estruturais.
Tenho um adendo fundamental sobre exigência demagógica pelo revalida em um programa emergencial com tempo de duração determinado, vou ser didático. É óbvio que a exigência de revalida em um programa como o “Mais Médicos” seria o principal motivo para o seu fracasso. Todo profissional que faz o revalida no Brasil pode trabalhar em qualquer lugar, com qualquer carga horária, se quiser somente na sua especialidade, e ainda cobrar a quantia que achar adequada pelos seus serviços, além de disputar livremente mercado com os profissionais formados no Brasil. Isso é tudo o que não prevê o programa, com a licença especial de 3 anos e com avaliação permanente das universidades, se garante o objetivo de segurar os profissionais somente na atenção básica de saúde, por 40 horas semanais, com a bolsa de 10 mil reais e, o principal, trabalhando estritamente nos municípios e regiões que forem alocados, que são as que mais necessitam de médicos. Sem comentar a burocracia e a morosidade que envolve o Revalida.
Por fim, penso que vale dizer que não costuro meu argumento no intuito de me por do lado do governo na rasa dicotomia entre “governo e cidadão de bem” que as entidades representativas da classe médica querem incutir na opinião pública. Sou critico do ponto de vista macro político ao governo do PT, mas creio que este não é o cerne da discussão em tela, apesar de ser um elemento dela.
 Todavia, não posso me furtar de marcar meu apoio ao Mais Médicos e a vinda de médicos cubanos para trabalharem nas circunstâncias colocadas. Ainda mais diante dessa onda de preconceito e de alucinações conspiratórias que a direita faz circular nas redes sociais e que infelizmente, por inúmeros motivos, conquista alguns desavisados que, ao invés de aproveitarem esse momento para oxigenar as consciências ao ter contato com princípios de humanidade e solidariedade tão deturpados em nossas rotinas, preferem reproduzir mantras corporativos, medos antiquados e moralismos constrangedoramente elitistas.





quarta-feira, agosto 21, 2013

Que ingredientes escolher?





A realidade tem mais ingredientes difíceis de lidar do que fáceis.

Organizar o pensamento e escolher o que dessa realidade daremos mais atenção e importância não é uma técnica de auto ajuda, mas um recurso de sobrevivência.

No caso da nossa consciência não obedecer nossas escolhas e insistir em trazer à tona coisas que não queremos, cabe-nos mapear alternativas para consertar tais problemas.

Mapear aí é sinônimo de "distribuir possibilidades", como faz o cozinheiro com os ingredientes antes de preparar o prato, sem alguns elementos a comida não pode ser feita. 

Então se ainda não temos soluções ou alternativas para determinados problemas, o melhor é dar tempo pra que possamos adquirí-las ou conquistá-las; aquela refeição pode ficar para outro dia.

Somos frágeis não só quando testados e somos fortes não só quando confortáveis. Podemos mostrar força se desafiados e fraqueza em coisas que dominamos. Viva a dialética. 

É curioso como no ato de criticar/questionar algum comportamento alheio, corre-se o risco de reproduzi-lo. 

Nossa vida urbana-virtual-corrida tem exigido mais do que equilíbrio emocional, ela cobra coerência nas relações pessoas, nas visões políticas e nos encaminhamentos profissionais. 

Diante disso, naturalizamos o fato de nos exigirmos o máximo todo tempo e isso não faz bem.
Esse tipo de auto exigência ligada a 'competência' e a 'produção' gera mais resultados para terceiros do que para si e os próximos. 

Sempre é tempo de parar para pensar e isso não significa perder o bom ritmo da vida ou ter atitudes irresponsáveis.

Gregório Grisa

terça-feira, agosto 20, 2013

Dados do "Mestres 2012: Estudos da demografia da base técnico-científica brasileira"

Nível de instrução da população brasileira com 10 anos ou mais.

Dados do "Mestres 2012: Estudos da demografia da base técnico-científica brasileira". Estudo feito pelo CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) ligado ao MCTI.

Sem instrução - 5,74%
Ensino Fundamental incompleto - 44,50%
Fundamental completo - 18,32%
Ensino médio - 23,4%
Ensino Superior - 7,46%
Mestrado - 0,32%
Doutorado - 0,12%

Outro dado interessante a se destacar nesse estudo é referente ao adicional de remuneração das pessoas ocupadas no Brasil com 10 anos ou mais, com determinado nível de instrução com relação ao nível imediatamente inferior. Pode-se constatar que quem tem o Ensino Médio completo ganha 42% a mais do que que possui somente o ensino fundamental e o impressionante número de que quem tem curso superior recebe remuneração 170% superior ao grupo formado só no nível médio. 

Sem instrução - 0
Ensino Fundamental incompleto - 5,05%
Fundamental completo - 25,94%
Ensino médio - 42,9%
Ensino Superior - 170,06%
Mestrado - 83,60%
Doutorado - 34,97%

Esse estudo também mostra que 70% das pessoas que possuem ensino superior são brancas, e são desse grupo mais 80% dos doutores . Os pardos representam  18% dos que tem ensino superior e 13% dos doutores. Já os que se declaram pretos no IBGE não chegam a 5% dos que possuem ensino superior e a 3% dos doutores. 

quarta-feira, agosto 14, 2013

Carta aos cursistas do Educação para a Diversidade

Caros cursistas do curso de Especialização Educação para a Diversidade, farei alguns comentários sobre nossa disciplina V que trata das relações étnicos-raciais. 
Primeiramente saúdo a qualidade e os esforços imprimidos na feitura das atividades que propomos, os apontamentos feitos por vocês no Caderno de Registros foram muito interessantes, histórias ricas em vida e experiências passíveis de divulgação e estudos.
Os espaços escolares em que vocês trabalham são diversos, uns demandam que o debate proposto pela disciplina seja cotidiano, outros exigem reflexões mais pontuais pela sua configuração. Porém, o que ficou claro é que todos educadores cursistas entendem a necessidade de avançarmos no Brasil no que se refere a aplicação da Lei 10.639, independente da composição da população do nosso meio. 
Vou mencionar alguns elementos que diagnostiquei como lacunas ou desafios expressos nas avaliações presenciais e nos cadernos de registros, o farei, por óbvio, sem generalizações.

- Notei que a muitos conceberam o racismo estritamente como "tratamento pessoal", privilegiaram essa dimensão nas suas observações. Se buscou encontrar ou não o racismo na realidade escolar com base nessa noção mais individual. O racismo não é somente um ato, um tratamento de alguém para outrem, o racismo pode ser um "não ato", uma não presença. O racismo pode estar onde não vemos ou sentimos, por vezes, o racismo anestesia nosso olhar para que nos acostumemos a não encontrá-lo. Lembro que há outras dimensões de racismo expressas no texto base que devem ser consideradas para melhor entendermos a realidade.  
- Evidências do tipo "os negros que são racistas" me exigem chamar atenção que devemos ter muito cuidado para não culpabilizar a população negra por sofrer discriminação, por vezes, essa população introjeta e reproduz o racismo. Isso não indica que os negros produzem o racismo, não podemos confundir a ação reflexo do oprimido com a violência expressa e criada pelo opressor, dizia Paulo Freire. 
- Há uma visível necessidade de amadurecimento e aprimoramento conceitual e de informação no que tange as políticas de cotas nas universidades. A lei federal que as institui prevê dez anos mínimos de duração, os educadores cursistas que estão no ensino fundamental e médio são corresponsáveis por capacitar as gerações que farão uso das cotas e não podemos correr o risco de deslegitimá-las diante desse público. Para isso disponibilizo, no link abaixo, um debate que participei  na Tv Câmara com argumentos e esclarecimentos legais e institucionais sobre as cotas. 

Com esse comentários reafirmo minha felicidade de ter trabalhado com vocês nessa disciplina e o privilégio que foi ter tido acesso ao trabalho e as reflexões de vocês.  

Link do programa: http://vimeo.com/50162892

Professor Gregório Grisa

terça-feira, agosto 13, 2013

Kwame Anthony Appiah

Ontem, dia 12/08/13, o projeto Fronteiras do Pensamento recebeu o filósofo ganês  Kwame Anthony Appiah, em uma palestra bastante diplomática o teórico ponderou sobre temas mundiais como questões religiosas, racismo e gênero. Tendo como base a noção de honra e suas resignificações, Appiah deu exemplos históricos, exitosos e fracassados,  de movimentos que pretenderam mudar costumes e atitudes que ferem a noção universal de direitos humanos, como a mutilação feminina na África e o ato atar os pés de meninas na China. Abaixo listo algumas reflexões que o autor trouxe em uma tradução livre minha.

Ter honra é ter o direito de ser respeitado e isso se dá dentro de um código de honra localmente delimitado.

Para dar fim a costumes violentos não basta os estrangeiros chegarem impondo tal mudança, é necessário um diálogo respeitoso, que convença da vergonha que representa para aquele país tal costume. Esse convencimento passa pela criação de instituições, pela disputa da intelectualidade e nem sempre será rápido. 

Tornar as coisas ilegais não muda a realidade, tem de se extrair a honra de tal atitude ou costume que fere os direitos humanos, mudanças culturais são precedidas pela mudança do conceito de honra em determinada sociedade.

Sobre as ações afirmativas o autor pensa que essas políticas não têm nenhum problema moral, e que nos EUA a justificativa de reparação histórica não é o principal argumento na defesa de cotas por ex. Ele afirma que a necessidade de diversificar as universidades e a comprovação de que as melhores instituições são aquelas que recebem pessoas de vários lugares, etnias e religiões é a base do argumento a favor.

Por fim, ele afirma que devemos conviver cada vez mais e que convivência não exige concordância plena. Falando sobre o Estado laico e defendendo a escuta das religiões para pensar políticas públicas, comentou da dificuldade de "converter" as pessoas quando o Estado era controlado por religiões no passado. Tomando esse raciocínio e discordando brevemente de Appiah, pensei nos nossos dias, em que o Estado ainda tem dificuldade de "converter" as pessoas para a sua laicidade, haja vista, a significativa quantidade de grupos religiosos representado no atual poder político brasileiro.   





sexta-feira, agosto 09, 2013

Sisu/Enem na UFRGS


Retirado da edição de 10/08/2013 do Correio do Povo.

Gregório Grisa

As razões básicas do porquê de a Ufrgs não aderir ao Sisu/Enem em 2014 já circulam na imprensa, quais sejam: risco de judicialização por suposta falta de isonomia do processo seletivo público, tendo em vista que as inscrições para o Enem já estão encerradas esse ano e o curto tempo de debate para determinar o peso das provas do Enem na seleção da Ufrgs por curso. Contudo, além do estudo que a Comissão Especial terá de fazer para formular a proposta de adesão em 2015 até outubro próximo, sobre porcentagem de vagas destinadas, operacionalidade da seleção mista e manutenção de provas específicas, gostaria de destacar aspectos estruturais referentes à adoção do Sisu/Enem pela Ufrgs.
Caminhos inversos guiarão minha reflexão, um que sai da Ufrgs rumo ao Sisu/Enem e outro que parte do Sisu/Enem em direção à nossa universidade.
A Ufrgs tem tradição e competência na confecção e execução do seu processo seletivo. Essa expertise não pode ficar restrita à instituição. Ao aderir ao Sisu/Enem, os quais necessitam de aperfeiçoamentos, a Ufrgs poderá e deve participar com significativa ingerência tanto do Sisu quanto da elaboração das provas do Enem, a fim de qualificar muitos aspectos dessa engrenagem de seleção. Por outro lado, a adoção do Sisu/Enem fará com que recebamos na Ufrgs estudantes de outros estados e mais alunos do interior do RS, aumentando nossa diversidade e exigindo que a política de assistência estudantil se oxigene. Teremos que transcender os critérios socioeconômicos do Pnaes (Programa Nacional de Assistência Estudantil) e desenvolver outras modalidades de assistências, como de caráter pedagógico, cultural e de inserção social, o que só somaria à universidade.
Como membro da Comissão Especial, creio que um processo misto de seleção, isto é, ingresso via Sisu/Enem e via Concurso Vestibular, fará com que tenhamos uma rica experiência acadêmica, pois garantiríamos que novos horizontes e desafios se anunciassem e, ao mesmo tempo, manteríamos o know-how do Concurso Vestibular da Ufrgs ativo e em constante aprimoramento.

membro da Comissão Especial Sisu / Enem da Ufrgs

quinta-feira, agosto 08, 2013

Livros do mês

As leituras desse mês estão sendo esses dois livros do Vladimir Safatle. "A esquerda que não teme dizer seu nome" terminei ontem, trabalho de cunho mais político. O autor avalia a condição da esquerda de modo muito interessante e polêmico em alguma medida.
Retoma a ideia central de redistribuição,  do caráter produtivo de tensionar o direito e nos lembra que não há equivoco maior do que opor o desejo dos indivíduos ao igualitarismo. Essa dicotomia é falsa, a busca pela igualdade não representa fechar os olhos para as demandas do sujeito contemporâneo, o que combate aquele discurso ingenuo e ultrapassado que afirma "mas tu é de esquerda não pode ir em tal lugar, ter tal coisa, fazer tal viagem, usufruir disso ou daquilo etc". Safatle faz forte crítica ao multiculturalismo, a qual não me filio, mas a reflexão tem esse brilho concordar e discordar. O livro vale muito a pena para entender nossos dias porque trata do desafio que está colocado para os movimentos de esquerda. O segundo livro estou começando, é de caráter mais teórico filosófico, isto é, de bem mais lenta digestão, é o trabalho de tese de livre-docência de Safatle na USP e se chama "Grande hotel abismo: por uma reconstrução do reconhecimento".




Para além.

Derrida dizia que o mundo nos prova todos dias que só podemos falar em democracia por vir, e nunca em democracia como algo que se confunde com a configuração atual do Estado de Direito. Justiça e direito estão em eterna tensão, muitas conquistas só são possíveis quando se vai além do direito, quando se vai ao limite da elasticidade do direito, da lei quando ela já não reconhece e comporta necessidades justas. 

sábado, agosto 03, 2013

As tribos da Esquerda

Sou de esquerda, o que isso significa? Muitos tentarão conceituar, uns conforme sua cartilha, suas teses e outros de acordo com a conjuntura e a relação de forças. As manifestações que tomaram o Brasil são tocadas por grupos de esquerda, coletivos e partidos que estão a esquerda do governo federal, acompanhados de alguns grupos que estão inseridos nele. Soma-se ainda os anarquistas anticapitalistas. 
Todo esse grupo, com o qual me identifico,  apesar de fazer barulho e lutar, não é estatisticamente representativo na sua quantidade, o que por si só já seria motivo para se unificar de alguma maneira.

Aí começa o problema.

O comentário que segue não pretende justificar o porquê não sou filiado a nenhum partido nem levanto bandeira de grupo específico, mas explica em muitos aspectos.
Todos os partidos e coletivos que vou mencionar são do campo político que circulo, com quem acho o diálogo produtivo e respeito muito suas trajetórias e lutas.

Essa análise é superficial de caso pensado.

Costumo dizer que a esquerda não se une nem pra salvar a mãe.

Coisas que vi: bom, o PSTU no momento "bate boca" com o PSOL e com os anarquistas do Black Bloc, diz que o primeiro pelegueia e não concorda com a estratégia do segundo. O PSOL nasceu com tendências que já se configuram em mini partidos, conheci pessoas que não se falam entre elas sendo filiadas no mesmo partido. O PCB, apesar das profundas interpretações do real, "bate boca" com a "marcha das vadias" em Brasília e já o fez com o MST, além de brigar entre si. O MST inserido no governo briga com o MST que se quer mais independente. 
Dentro do PT há inúmeros militantes honrados, conheço muitos da corrente do Trabalho entre outras, mas eles são excluídos dos processos quando se apresentam como tal, se revestem de "Levante da Juventude" porque talvez com outro nome não sejam tão julgados pelos "verdadeiros revolucionários". Por outro lado, os petistas não compõe com o PSOL porque este é "sectário" e constituído por vários grupos e isso não representa unidade suficiente para confiar. 

As disputas entram na ceara da subjetividade e dos detalhes, competem por quem fala mais alto nas reuniões, quem interrompe mais os outros, quem parece mais bravo, quem tem a estética mais revolucionária, quem aparenta ser mais radical no discurso. Encontram razões pequenas para viverem o prazer da divergência, da animosidade juvenil que produz adrenalina, se debatem pra ver quem é mais trotskista, quem interpreta melhor a Ideologia Alemã ou a Contribuição à Crítica da Economia Política. Não me refiro aqui a teoria marxiana e sim a quem a reivindica como sua, em alguns caso, tendo lido muito pouco.

Os julgamentos são acelerados, esse é pelego cooptado, aquele é sectário, tal grupo é centralizado, o outro aparelha tudo, o fulano quer se lançar pessoalmente, o ciclano é garoto de recado e por aí vai.

Diante de tudo isso a sinceridade das relações vai definhando, siglas mentem pra outras siglas, o antigovernismo cego e panfletário vence a construção possível de uma oposição séria e embasada, pautada em análises reais e não oportunistas. Cada grupo faz seu manifesto, seu jornalzinho, trocam cartas e farpas entre si, ao invés de responder à direita e à elite, se enfrentam em saladas argumentativas estéreis.

Isso cansa muito, enoja muito, emburrece muito, separa muito e desgasta qualquer desejo de se vincular. PSTU, PSOL, PCB, parte da oposição interna do PT, Coletivos (que estão na moda) vinculados a esses partidos brigam internamente e entre si. Quando conseguirão olhar pra fora e notar que literalmente (e infelizmente) são meia dúzia, que a esmagadora maioria da população ou não sabe que eles existem ou não entendem o que representam realmente? O que é uma pena. 

 Meus colegas, muitos alunos e alunas, amigos pensam se tratar de um monte de lunático que quer ser contra tudo que existe só por ser contra e deseja transformar o Brasil em uma comunidade primitiva. Essas pessoas do meu meio têm acesso a informação formal,  todavia, imaginamos agora os 53,5%  (IBGE, 2011) da população do país que não acessa ou nunca acessou a internet, por exemplo.

Triste, simples e patético, mas é isso que ouço e percebo.

Por isso realmente não me importa a agremiação para dialogar e construir, é com o ser humano na sua incompletude que se dá o encontro, os grupos são parte da maneira como nossa espécie se organiza, entendo, mas não deviam ser limitadores da ação e da unidade necessária diante de determinado contexto.

Se a sua luta e a minha forem por algo melhor para a sociedade vamos tocá-la, do jeito mais racional e, principalmente, do modo mais passível de conseguir avanços, mesmo que de pequeno porte. Alguém tem que ir até o limite da tensão para conquistar algo concreto, na política saber esse limite para sempre avançar é o maior desafio. Esse limite não pode ser arrebentado e ultrapassado com base em uma "análise de conjuntura realmente marxista" nem deve ser freado com base em conveniências particulares. Ambas ações descaracterizam e enfraquecem a luta. 

Esse relato se refere ao meu pequeno universo, trata de rusgas que a direita não cultiva, de métodos que a elite não utiliza. 

Criar uma frente de esquerda para disputa eleitoral é o menor dos desafios, o problema está no dia a dia, nos movimentos sociais, nos sindicatos, nas entidades estudantis e nas instituições. 

As posturas e o trato conquistam mais as pessoas do que grito de ordem e a repetição das teses 8 e 11 do Marx.

A forma, que canaliza o conteúdo, é o meio pelo qual não seremos estigmatizados antes de sermos ouvidos.

Há um gigante desafio pela frente, os militantes de esquerda estão protagonizando a única luta que pode mudar a sociedade, me filio de cabeça nessa luta, mas temos que pensar nesse modus operandi casmurro, para não vivermos mais um século sendo vanguarda que nada guarda ou sendo células que só falam com seu núcleo e ainda assim com dificuldade.

Gregório Grisa