quarta-feira, novembro 26, 2014

Temos uma avaliação em série?



O programa Profissão Repórter de 25/11/2014 mostrou a realidade de uma escola em Goias que passou a ser gerida pela polícia militar, em 15 cidades há escolas conduzidas pela corporação nesse estado. Práticas disciplinares aos moldes do exército, com base no silêncio, no medo, na memorização, no decorar e na punibilidade caracterizam a escola. 

Hinos são as únicas músicas que podem ser ouvidas e continência e mãos para trás são condutas obrigatórias. A palavra ditadura é proibida de ser dita nas aulas de história, se ordena que se fale em "revolução militar". O fardamento pago e a padronização estética dos jovens são pré-requisitos para frequentar a escola. 

As grandes justificativas para existência de escolas que reproduzem valores moralistas e práticas autoritárias, que inclusive ferem direitos humanos como a liberdade de se expressar em linguagem ou esteticamente, são os resultados que elas obtêm em avaliações nacionais como o IDEB ou o ENEM, assim como os altos índices de aprovação dos seus alunos em vestibulares.

Diante desse quadro é impossível não se perguntar sobre o tipo de avaliação da educação que estamos fazendo, temos ferramentas e modelos avaliativos que avalizam e legitimam modelos pedagógicos militarizados e anti-democráticos? Avaliações em grande escala que priorizam o quantitativo, o resultado, mesmo que não intencionem, distribuem lugares sociais e prestígio que privilegiam ortodoxias pedagógicas que visam o produto independente do quão se perde no processo. 

O adestramento moral e ético não importa, desde que os alunos decorem o conteúdo das avaliações e tenham bom rendimento. A incapacidade de leitura política e a formação de um sujeito obediente ao invés de respeitoso não importa, desde que o seu desempenho em testes seja profícuo. O doutrinamento conservador, machista, homofóbico e violento não é captado pelos instrumentos avaliativos que coroam e destacam as escolas. 

Nossa avaliação não está premiando aqueles que marcham e repetem mais do que aqueles que questionam e refletem? Preceitos de humanismo, diversidade, pluralidade não devem ser avaliados?

Gregório Grisa 

quarta-feira, novembro 19, 2014

Empresa não doa, faz investimento




Por Marcelo Freixo em seu site 

A operação Lava-jato escancara um problema histórico da democracia brasileira e que vai muito além da chegada do PT à presidência da república: a hegemonia do poder econômico nos processos eleitoral e político. Precisamos responder a pergunta: quem nós queremos que sejam os fiadores e os protagonistas de nossa democracia, as pessoas ou um pequeno grupo de empresas?

Para começarmos a responder a este questionamento, é necessário debatermos o atual modelo de financiamento de campanha, estruturado para dar força desmedida ao poder econômico e submeter os interesses da maioria da população à lógica do patrocínio empresarial.

As empreiteiras que estão sendo investigadas pelas fraudes na Petrobras, por exemplo, são as principais financiadoras – e investidoras – de campanhas em todo o Brasil. O único partido com representação no Congresso Nacional que não recebeu dinheiro destes grupos foi o PSOL. Nós somos a favor do financiamento público e da proibição das doações empresariais. Esperamos que o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que em abril deste ano pediu vistas da ação que proíbe o financiamento empresarial, libere o processo para a conclusão do julgamento.

Segundo matéria da agência de notícias APública, entre 2002 e 2012, a Odebrecht, Camargo Corrêa, OAS e Andrade Gutierrez doaram R$ 479 milhões a comitês partidários e candidatos. O PSDB recebeu R$ 12,1 milhões; o PMDB, R$ 10,5 milhões e o PT embolsou 10 milhões. Nas eleições deste ano, só a Camargo Corrêa desembolsou R$ 44 milhões.

No Rio, por exemplo, a OAS foi a que mais repassou dinheiro às duas campanhas de Sérgio Cabral ao governo, em 2006 e 2010. Foi contabilizado R$ 1,8 milhão. Além disso, a empresa doou R$ 850 milhões para o comitê financeiro do PMDB entre 2006 e 2012. Em compensação, a dadivosa OAS participa da construção da Transcarioca, da Transolímpica e do VLT e integra os consórcios Porto Novo e do Metrô Rio.

O mesmo ocorreu na eleição municipal de 2012. Eduardo Paes recebeu dinheiro das construtoras olímpicas. A Carvalho Hosken e a Cyrela doaram juntas R$ 1,150 milhão ao prefeito e ao PMDB. A Carvalho Hosken é proprietária da área onde será erguida a Vila Olímpica e membro do Rio Mais, consórcio que construirá o Parque Olímpico. Já a Cyrela participa da construção do campo de golfe na Área de Proteção Ambiental de Marapendi, na Barra. A gestão do chamado Porto Maravilha, região com área superior à do bairro de Copacabana, foi entregue ao trio OAS, Odebrecht e Carioca Engenharia.

É uma reação em cadeia que compromete a legitimidade de todo o processo democrático. As contradições começam nas eleições e se estendem ao planejamento e execução de políticas públicas. Em campanhas cada vez mais caras e em que o peso da grana é cada vez maior, os patrocinadores interferem nos pleitos ao eleger enormes bancadas de legisladores vinculados aos seus interesses, são políticos que leiloam seus mandatos. Eles alimentam e se beneficiam desta lógica. Na Assembleia Legislativa do Rio, as construtoras ajudaram a eleger 37 dos 70 deputados neste ano. Eles receberam, ao todo, R$ 12,3 milhões.

No Poder Executivo, os financiadores dos candidatos vitoriosos se tornam seus grandes sócios, seja na execução de obras, na operação de serviços públicos, na gestão de espaços públicos ou na concessão de benefícios fiscais e aditivos contratuais. São grupos que diversificaram tanto suas atividades que são praticamente onipresentes na economia. No Rio, por exemplo, a Odebrecht é responsável pelo Consórcio Maracanã, pela Supervia e Arco Metropolitano. A OAS controla a Metrô Rio. A Camargo Corrêa opera as barcas, a Via Lagos e a Ponte Rio-Niterói. A Andrade Gutierrez está construindo a Transcarioca.

Os resultados deste modelo são sentidos no dia a dia das cidades através do encarecimento dos serviços públicos, do crescimento da especulação imobiliária, da retirada dos mais pobres dos centros urbanos, do autoritarismo e da falta de diálogo entre o Estado e a população. As pessoas precisam ser ouvidas e participar de forma ativa das decisões que interessam à cidade, mas a gestão pública está submetida aos interesses de um grupo de empresas que mantém negócios com o poder público.

Este cenário explica o motivo de uma empresa, cujo objetivo primordial é aumentar seus lucros, destinar milhões de seu orçamento a candidatos e partidos políticos, inclusive em períodos não eleitorais. Numa lógica de mercantilização da cidadania e da transformação da política em negócio, elas nada mais fazem do que diversificar ainda mais os seus investimentos. Quem paga a orquestra escolhe a música.

A mudança no modelo de financiamento de campanha é fundamental para reduzir a influência do poder econômico, mas, por si só, não vai resolver todas as contradições do sistema político e eleitoral. Por isso, a realização de uma reforma política que aprofunde as mudanças e amplie o diálogo entre o Estado e a sociedade é essencial.

domingo, novembro 02, 2014

Manifestação reivindica a proibição de se manifestar

As aberrações de um grupo de lunáticos reivindicando intervenção militar e defendendo Bolsonaro, na rua e nas redes sociais, não me produzem raiva, mas tristeza. Me comovem negativamente por duas razões básicas:



1- porque o fato dessas pessoas pensarem e expressarem isso é o retrato de como as forças da ditadura permanecem vivas e influentes, mostra o quão todos os crimes de lesa humanidade, como tortura, estupro e assassinados são banalizados por alguns; e pior que isso, são reivindicados como "salvação do país" por muitos destes.
2- porque noto um desconhecimento colossal de parcela das pessoas que lá estão fazendo esse papel ridículo e degradante, sobre a história do país e, principalmente, sobre o que significou a ditadura empresarial-militar. São centenas os filmes, documentários, depoimentos, livros, pesquisas para se estudar, é abundante o material disponível para se libertar da ignorância e conseguir compreender seu entorno um pouco além do umbigo. Nos próximos dias sairá o relatório da Comissão Nacional da Verdade que será outra ferramenta pedagógica importante para estudos.
Se manifestar com liberdade, reivindicando não ter mais liberdade para se manifestar é um ato que só pode ser feito por quem usufruiu individualmente de privilégios na ditadura, por quem tem prazer em saber da existência de violenta repressão ou por quem não consegue viver sem exercer poder tirânico sobre os outros.
Quero deixar claro que não concebo esse tema no campo das divergências políticas e ideológicas, o trato como sintoma claro de problemas de sanidade mental, de saúde mental, de transtorno de personalidade. Isso se expressa tanto no saudosismo da "ordem" e da violência de Estado, como no grau de contradição, irracionalidade e falta de lógica dos argumentos, xingamentos, cântico e cartazes que expressavam tal saudosismo.

Com isso registro que na vida real ou virtual não terei tolerância com a defesa da total intolerância, ou seja, com a defesa da ditadura empresarial-militar e de seus representantes como Bolsonaro e outros. Não há nenhuma chance de uma pessoa que defenda tais dogmas e crimes representar um convívio saudável e agregador, pelo contrário.