Sexta-feira, 24/12/2010
Carlos Heitor Cony
Tempos natalinos provocam mão de obra suplementar em nosso cotidiano. Somos obrigados às confraternizações, aos votos de boas-festas, a dar e a receber presentes, um saco. A mensagem de solidariedade humana fica reduzida a uma mesa de churrascaria, ao chope quente e à picanha fatiada com batatas fritas engorduradas.
Os apelos comerciais, que antes da era eletrônica enchiam a nossa paciência, os jornais e revistas, os agressivos outdoors que poluíam o já poluído cenário urbano, invadem agora a telinha de nossos notebooks, oferecendo-nos em suaves prestações mensais aquilo de que não precisamos.
Em alguns países, a tradição de dar e receber presentes, transferida para 6 de janeiro, Dia de Reis, é mais lógica e tem um exemplo ilustre. Afinal, os magos levaram incenso, ouro e mirra e receberam em troca a oportunidade de seguirem a estrela que brilhou para eles nos céus da Judeia. Haveria algum sentido na atual troca de presentes.
Limparíamos o Natal da febre consumista a que estamos habituados. A grande festa da cristandade paganizou-se com símbolos nem sempre bonitos e sempre aleatórios. Olhar a cara do Bom Velhinho, borrado de Kodacolor, esbarrar em árvores de natal complicadíssimas, ouvir o “jingle bells” e o “Noite Feliz” por toda parte. Novamente, um saco.
Nada disso facilita o mergulho que devemos fazer em nós mesmos, acreditemos ou não na mensagem que se iniciou naquela noite de Belém, em torno de uma manjedoura, com um burro e uma vaca no lugar de todos nós. Eles sabiam o que faziam.
Sempre impliquei com Papai Noel. Gosto de dar e de receber presentes, mas vejo no Bom Velhinho uma edição mercadológica do rei Momo, de quem também não gosto, mas considero mais necessário e autêntico.
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