quarta-feira, maio 30, 2012

Medo

A arte de encontrar
sentido em procurar
salva o que ninguém
vai salvar, por você

Não vá se enganar
e se ainda gostar
ir pra não voltar
é ficar,
mais perto do que
possa imaginar

Assim, dizer que acabou
ainda não é o fim
fugir do que achou
é ir sem (ti).


segunda-feira, maio 21, 2012

Não tenho medo da morte




Não tenho medo da morte
Gilberto Gil /Banda Larga Cordel


não tenho medo da morte
mas sim medo de morrer
qual seria a diferença
você há de perguntar
é que a morte já é depois
que eu deixar de respirar
morrer ainda é aqui
na vida, no sol, no ar
ainda pode haver dor
ou vontade de mijar
a morte já é depois
já não haverá ninguém
como eu aqui agora
pensando sobre o além
já não haverá o além
o além já será então
não terei pé nem cabeça
nem figado, nem pulmão
como poderei ter medo
se não terei coração?
não tenho medo da morte
mas medo de morrer, sim
a morte e depois de mim
mas quem vai morrer sou eu
o derradeiro ato meu
e eu terei de estar presente
assim como um presidente
dando posse ao sucessor
terei que morrer vivendo
sabendo que já me vou
então nesse instante sim
sofrerei quem sabe um choque
um piripaque, ou um baque
um calafrio ou um toque
coisas naturais da vida
como comer, caminhar
morrer de morte matada
morrer de morte morrida
quem sabe eu sinta saudade
como em qualquer despedida.

sexta-feira, maio 18, 2012

VETA TUDO DILMA: EM DEFESA DO CÓDIGO FLORESTAL


Por Luiz Zarref
Dirigente da Via Campesina Brasil

O projeto que altera o Código Florestal brasileiro, votado nesta semana na Câmara dos Deputados, representa a pauta máxima ruralista. A bancada apoiadora do agronegócio e defensora daqueles que cometeram crimes ambientais mostrou sua coesão e conseguiu aprovar um texto de forma entrelaçada, comprometendo todo o projeto.

O texto está de tal forma que se a presidenta Dilma Rousseff vetar partes dele, continua a mesma coisa. Exemplo: se vetar a distância mínima de floresta recuperada na beira de rios que ficou em 15 metros – atualmente é de 30m -  o texto ainda fica sem nenhuma menção de recuperação nestas áreas. O turismo predatório em mangues também fica permitido, segundo o projeto.
Os ruralistas também aproveitaram para dificultar o processo de Reforma Agrária, com a restrição de dados governamentais para a população e até mesmo com a tentativa de anular as áreas improdutivas por desrespeito ao meio ambiente, tal como manda a constituição.
O pousio, ou seja, o descanso que se dá a terra cultivada, ficou sem qualquer restrição de tempo e de técnica. Isso acaba com o conceito de área improdutiva. O texto viabiliza as áreas que estavam paradas desde a década de 1990 com regeneração de florestas. São 40 milhões de hectares nesta situação.
Além disso, os ruralistas fragilizaram o Cadastro Ambiental Rural, de forma que a população não tenha acesso aos dados, escondendo todos aqueles que cometem crimes ambientais e ferindo o princípio da transparência governamental para a sociedade.
A presidenta Dilma tem até a semana que vem para anunciar seus vetos, mas movimentos sociais e organizações ambientalistas já estão mobilizados para que a presidente derrube integralmente o projeto que saiu do Congresso Nacional.
A presidenta tem nas mãos ainda vasto apoio de parlamentares, organizações camponesas, sindicatos, sociedades científicas, entidades da igreja pelo veto global.
O papel dos setores progressistas é fazer pressão, enfrentar ideologicamente os ruralistas e criar um clima para que a presidenta Dilma faça o veto completo desse projeto. O meio ambiente e a Reforma Agrária estão seriamente comprometidos com esse texto que sai do Congresso Nacional.

terça-feira, maio 15, 2012

As muitas "verdades"

OBS: mais uma vez nesse texto uso como apoio o biólogo Richard Dawkins em algumas passagens. 

"O fato de que vivemos no fundo de um posso profundo de gravidade, na superfície de um planeta coberto de gás que gira em volta de uma bola de fogo nuclear a 150 milhões de quilômetros e achamos isso normal é obviamente uma indicação do quão torta tende a ser a nossa perspectiva."

Sabemos já que uma rocha é composta majoritariamente de vazio no que se refere a sua materialidade física, porém, nós humanos as entendemos como sólidas porque não conseguimos atravessá-las. Nosso cérebro evoluiu de animais de tamanho médio que  também não conseguiam atravessar rochas, por isso as consideramos sólidas, essa é a nossa "verdade", embora não seja a "verdade". Na "verdade" para um animal, é aquilo que seu cérebro precisa que seja, para ajudá-lo a sobreviver. Se nossos ancestrais se jogassem contra rochas morreriam, assim como se tentassem voar.

"O que vemos no mundo real não é o mundo real intocado, mas um modelo do mundo real, regulado e ajustado por dados sensoriais, um modelo que é construído para que seja útil para lidar com o mundo real. Bactérias, águias e roedores tem outra percepção da matéria." 

Nosso cérebro evolui para ajudar nosso corpo a viver no mundo na escala em que esse corpo funciona, não evoluímos para navegar no mundo dos átomos. Partículas atravessam paredes porque o seu "na verdade" é outro. Pense nisso. 

Em um planeta, e possivelmente o único planeta no universo, moléculas  que normalmente não formariam nada mais complicado que um pedaço de pedra reúnem-se em grupos de matéria do tamanho de pedras, de uma complexidade tão inacreditável que são capazes de correr, pular, nadar, voar, enxergar, escutar, capturar e comer outros pedaços animados de complexidade; capazes em alguns casos de pensar e sentir e de se apaixonar por outros pedaços de matéria complexa. Você é um conjunto de moléculas. 

"A evolução da vida complexa, e de fato a sua existência num universo que obedeça as leis da física, é uma surpresa maravilhosa - ou seria, se não fosse o fato de que a surpresa é uma emoção que só pode existir no cérebro que seja produto desse mesmo processo tão surpreendente"

Por isso a ciência e a arte são os meios com os quais tento me consolar, me encantar e a busca por saber mais é a atividade que nos liberta cada vez mais das nossas ainda limitadas percepções. A igreja, a crença em Deus e as superstições como signos, mantras e afins são hoje infinitamente mais relevantes para a imensa maioria das pessoas, infelizmente. Vejam como está o mundo, como estão as pessoas e suas relações com a natureza e com os outros. Por fim, é só um desabafo bem pessoal.

quinta-feira, maio 10, 2012

Negros adoecem mais e morrem mais cedo que os brancos

Dados da Unicamp mostram que a discriminação racial explica a desvantagem dos negros também no acesso aos serviços de saúde
10/05/2012

Cida de Oliveira, 




O risco de morte por desnutrição é 90% maior entre crianças negras do que entre brancas. Entre os adultos, as chances de morrer por tuberculose é 70% maior na população negra. E o número de consulta no pré-natal é quase 50% menor entre as gestantes negras. Os dados são do Núcleo de Estudos da População (Nepo), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que há 25 anos subsidia a implementação de programas e políticas públicas para reverter uma realidade em que nascimentos prematuros, mortalidade infantil, adulta e materna, entre outros agravos, apresentam altas disparidades quando relacionados à raça e cor.

Segundo a socióloga e demógrafa Estela Maria Garcia Pinto da Cunha, que coordena o núcleo, a discriminação racial presente na sociedade determina diferentes padrões de atendimento e tratamento de saúde para a população negra no país. Conforme afirmou, "existe uma posição de desvantagem da população negra com relação à branca justificada por uma condição social inferior, mas não somente por isso. Há um componente de discriminação racial também”. 
Outro indicador da desvantagem é a transição demográfica pela qual o Brasil vem passando, com a queda na taxa de fecundidade feminina. Um relatório da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), feito com participação de pesquisadores do Nepo, mostra que a taxa de fecundidade total das mulheres brancas é 34% inferior à das negras. De acordo com o núcleo, a manutenção deste diferencial reflete as desigualdades no acesso aos serviços de saúde da mulher e a contraceptivos. Ainda segundo os pesquisadores da Unicamp, a histórica vulnerabilidade social da população negra, desde a época da escravidão, permanece sobretudo na saúde.



 Com informações do Jornal da Unicamp

quarta-feira, maio 09, 2012

Consolo

* Esse pequeno texto é uma adaptação minha de alguns comentários de Richard Dawkins no livro Deus um delírio.

Chegou a hora de encarar o importante papel que Deus cumpre de nos confortar; e o desafio humanitário, se Deus não existir, de colocar alguma coisa em seu lugar. Muita gente que admite que Deus não existe, e que ele não é necessário para a moralidade, ainda recorre ao que frequentemente considera um trunfo: a suposta necessidade psicológica ou emocional de um Deus. Se você tirar a religião o que vai colocar no lugar? O que você tem a oferecer as pessoas que estão morrendo e seus parentes? 
A primeira coisa a dizer em resposta a isso é algo que nem deveria precisar ser dito. O poder de consolo da religião não a torna verdadeira. Mesmo que, em uma hipótese absurda, se comprovasse que a crença em Deus é absolutamente essencial para o bem-estar emocional e psicológico das pessoas e que os ateus fossem neuróticos desesperados levados ao suicídio por uma angustia cósmica por não crer - nada disso contribuiria para que se conceba a crença religiosa como verdadeira. Poderia ser evidência a favor da vantagem de se convencer que Deus existe, mesmo que ele não exista. Há significativa diferença entre crer em Deus e crer na crença, isto é, a crença de que é desejável acreditar mesmo que a crença em si seja falsa. Talvez se você repetir alguma coisa o bastante consiga se convencer de sua veracidade. 
É incrível quanta gente parece não saber a diferença entre "x é verdade" e "é desejável que as pessoas acreditem que x é verdade". Ou talvez elas não caiam nesse erro lógico, mas consideram a verdade pouco importante se comparada com os sentimentos humanos. Não quero desprezar os sentimentos humanos. Mas deixemos claro, em qualquer conversa, sobre o que estamos falando: sentimentos ou verdade. Os dois são muito importantes, mas não são a mesma coisa. 

segunda-feira, maio 07, 2012

Decisão do STF e os mitos


Fonte: Jornal Correio do Povo de 04/05/2012

Gregório Grisa

O julgamento do STF, o qual considerou as cotas raciais plenamente constitucionais, por unanimidade, serviu para derrubar uma série de mitos. Vou salientar alguns nesse texto. O primeiro seria o de que o Brasil vive em plena democracia racial e que não há racismo. O fato de você não se achar racista e tratar cordialmente pessoas de outra cor ou etnia não significa que não haja racismo interpessoal e estrutural e, muito menos, que as desigualdades raciais não sejam muito graves. O segundo: que as cotas raciais iriam promover uma "racialização" da universidade. Até onde se sabe não há dado empírico que sustente tal receio, pelo contrário, a diversidade tem sido um ponto positivo, segundo alunos e professores de instituições com cotas.

O terceiro mito reside na defesa de que o mérito é um critério justo para se ingressar no ensino superior. O mérito pessoal é apenas um dos elementos a ser levado em conta. Em uma sociedade desequilibrada como a nossa, no que tange às oportunidades materiais e simbólicas, o mérito como único critério apenas reproduz hierarquias sociais históricas. Outro argumento que cai por terra é o de que cotas ferem o princípio constitucional da igualdade. Segundo os ministros do STF, as cotas são ações que buscam exatamente esse princípio, isto é, dão vida à transição necessária da igualdade de direito, estabelecida como ideal em lei, à igualdade de fato, que se busca na vida concreta.

Existem ainda outros mitos desnudados pelos votos dos ministros, porém, é importante dizer que a quantidade de cidadãos contrários a essa política pública - que se dá pela crença nesses mitos - também se explica pela campanha aberta que a maior rede de comunicações do Brasil faz, há uma década, contra as cotas. O imaginário coletivo acerca do tema vem se constituindo pelas noções, interpretações e informações que esse grupo hegemônico produz.

doutorando em Educação

quinta-feira, maio 03, 2012

Piso e abonos


Coluna de Juremir Machado no Correio do Povo de 02/05/2012

Em se tratando de pagamento do piso do magistério, faço parte dos que só querem entender a diferença entre o proposto pela equipe de Yeda Crusius e o defendido pelo time de Tarso Genro. Yeda entrou na Justiça. Tarso também. Yeda não queria pagar o piso como básico. Tarso também não quer. Salvo se mudar o índice de reajuste. Yeda propôs um abono que fixaria o menor valor recebido por um professor em R$ 1.500,00. Tarso, seguindo o atual valor do piso, propõe um abono que eleva o menor salário percebido a R$ 1.451,00. O abono de Yeda incidia sobre a totalidade dos ganhos, o de Tarso sobre o básico. Yeda não queria negociar com o Cpers. Tarso está negociando com o Ministério Público. Yeda recusava o índice de reajuste do piso pelo custo-aluno Fundeb. Tarso também. Yeda queria mexer no plano de carreira. Tarso, na prática, está fazendo isso, sem precisar da Assembleia Legislativa. Se a sua proposta passar, os professores de nível 1, com ensino médio, receberão o mesmo que os de nível 5, com ensino superior. É o chamado achatamento.

Onde estão as diferenças? Os defensores do atual governo sustentam que Tarso quer pagar o piso, mas, nos moldes da lei federal, não tem recursos para isso, enquanto Yeda simplesmente era contra e não queria pagar por considerá-lo inconstitucional. Os críticos do governo reagem dizendo que tudo aquilo que foi detonado quando proposto por Yeda agora é legitimado ao ser anunciado por Tarso. A grande diferença entre os dois governos estaria na "judicialização" ou não do problema. Yeda foi ao STF. Ao assumir, Tarso quis tirar o Rio Grande do Sul da ação que tramitava em Brasília. Mais tarde, foi à Justiça por conta própria. Surge uma nova diferença: Yeda teria pretendido uma alteração definitiva do plano de carreira e um achatamento salarial permanente. Tarso estaria propondo algo provisório, à espera da Justiça. O Cpers rejeitou os avanços de Yeda. Faz o mesmo com Tarso. Não pode mais ser acusado de partidarismo ou de petismo.

Como fica o observador externo? Tenta compreender. Há aumento salarial com Tarso. Até o final do mandato seriam 40%. Mesmo assim, abaixo da lei. Os yedistas rotulavam o Cpers de radical. Quem faz isso hoje é o PT. A oposição atual, situação de ontem, passou a defender o pagamento integral do mesmo piso que considerava inviável. A situação atual, oposição de ontem, passou a considerar inviável o pagamento integral do mesmo piso que defendia ontem. Se o abono de Tarso emplacar, o PT dirá que está pagando o piso (ninguém recebendo abaixo dele). Vai contrariar o STF, para quem o piso é o básico sobre o qual incidem as vantagens, e confundir cabeças. Dirá: que importa, se os professores recebem mais? Era o que dizia Yeda em favor do abono trucidado pelo petismo.

Outra diferença: Yeda não queria pagar o piso, que não era ideia dela. Tarso deveria pagá-lo por ser o pai da criança. O peixe morre pela boca. O PT paga por prometer o que não sabia se poderia cumprir, talvez imaginando que o STF declararia o piso inconstitucional ou que o índice, muito alto, seria mudado. Os yedistas me detestavam por causa do piso. Os tarsistas começam a torcer o nariz para mim. Meu destino é ser odiado.