Sabem jovens
mais velhos, que passaram dos 55 e 60 anos, estamos em um tempo em que vossas
conquistas oferecem à nossa geração a possibilidade e a necessidade de
superá-las. Isso é do ciclo da vida, que por vezes se rompe mais brutalmente e em outros
casos até se paralisa. Esperar é a arte da nossa raça, relevar e se acostumar são
algumas de nossas características, todavia, agir, se revoltar e intervir também
são ações que nos constituem. As condições históricas se apresentam e as
pessoas escolhem que caminho seguir, meus avós e meus pais tiveram suas
condições, a minha geração tem a atual.
A atual
condição histórica nos permite dizer basta! É tempo de acabar com absurdos
politicamente construídos e economicamente naturalizados. Não há mais espaço
para verborragias juridicamente calcadas e para discursos plasticamente bem
constituídos, mas pouco dotados de realidade. O malabarismo retórico chegou ao
seu limite, com o país em crescimento nada mais justifica a manutenção de
salários de fome para os professores brasileiros, serviços de saúde e outros
tão mal ofertados.
Nossa
geração entende como funciona o poder, como se dão as alianças, as relações
público-privadas, as escolhas de gestão e é por isso, não pelo contrário, que
não suporta mais tamanhas discrepâncias. Não se pode deixar dormir quem tem a
responsabilidade ética de imprimir mudanças reais e estruturais quando as
condições históricas existem. É premente que os governantes saibam que somente
reclamar das mãos atadas pelo atual sistema e fazer análises teóricas para sustentar
essas queixas, não é o suficiente. É necessário coragem de romper com a lógica
vigente, a vida demora pouco, a qualidade da vida dos muitos que a vivem em um
sopro, sem desenvolver minimamente suas capacidades, depende dessa coragem.
Há um conjunto
de meios, métodos e estratégias para exigir que as mudanças aconteçam, nossa
geração está experimentando, aprendendo a voar no voo mesmo, indo à rua,
fazendo barulho, se organizando, estudando, produzindo, se comunicando,
amadurecendo de acordo com seus acessos e vivências. Hão-de existir erros,
excessos e medos, como se verá coragem, criatividade e acertos.
O que tem de
ficar claro é que em outras épocas as condições históricas impunham cuidados e
as esperanças murchavam diante da alienação, da desinformação, da dificuldade
de se entender as instituições públicas e da morosidade com que se previa algum
processo de mudança. Agora não há tempo a perder, a vida é mais urgente, o
tempo passa mais rápido hoje, uma ponta da corda está quase encostando na outra.
Nossa geração ta entendendo que os meios estão disponíveis para que as
transformações aconteçam com mais velocidade, para que a democracia dê um salto
qualitativo maior do que propriamente nascer, como ocorreu na geração de vocês.
Os jovens
mais velhos, que passaram dos 55 e 60 anos, minimamente progressistas que estão
no poder político, irão morrer logo, daqui a algumas décadas no máximo. Eles
têm a chance de iniciar uma mudança rumo à racionalidade da gestão da coisa
pública, sem isso, seus legados serão pueris, menores do que poderiam ser.
Outros países,
onde a tendência política de gestão é até difícil diagnosticar, pela capacidade
de organização e adoção de simples critérios para priorizar o que deve ser
feito, conseguem encontrar alternativas que não se enredam em alianças espúrias
nem são reféns do capital financeiro.
Criatividade
baseada na ciência, na escolha técnica e humana, combinada com a democratização
das esferas, não para dialogar com quem pensa parecido, mas com quem vive a
realidade da área ou da instância afetada. Dados numéricos dizem pouco quando não se convertem em
melhoria da vida das pessoas, dizer que tal órgão, instituição ou área está
melhor quantitativamente sem verificar que sentido tem isso pra quem vive nela
é estéril. Pessoas não são números.
Minha geração
quer viver outra gramática das relações sociais e pra isso precisa agir, como
está fazendo em muitos lugares do Brasil. Mudanças mais rápidas são possíveis,
e é na disputa pela direção que elas devem ter que a ação está se dando. Como
um artesanato de sentido que não se pretende tão eloquente e cauteloso, mas
mais práticos e vivo, a juventude exige mais com toda ansiedade e energia que
lhe caracteriza.
Gregório Grisa
Gregório Grisa
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