Obs: o jornalista e o geógrafo que o texto cita são: Ali Kamel (editor do jornal nacional) e Demétrio Magnoli (papagaio das elites que está sempre na mídia)
Por Rodrigo Vianna do blog http://www.rodrigovianna.com.br
Véspera do feriado da Consciência Negra. Minha mulher liga para uma agência de empregos, pedindo indicação de uma babá pra trabalhar em casa. A coordenadora da agência, muito solícita, engata de primeira: “pode ser uma pessoa “de cor”, ou a senhora tem alguma restrição? Desculpe, mas muita gente que liga pra cá não quer babá “de cor”, por isso eu tô perguntando”.
Minha mulher disse que não tinha problema com isso, não. A moça do outro lado deu uma risada sem graça. Eu não dei risada quando minha mulher contou o episódio.
Achei patético. Essa é a classe média brasileira, pensei com meus botões. A mesma classe média que escreve livros – também patéticos – para “provar” que “Não Somos Racistas”. Freud explica esse título na negativa. Já reparou nas crianças que cometem uma traquinagem? Quando o pai chega perto, sem perguntar nada, a criança já se entrega: “não fui eu”, “não fiz nada”. É o famoso processo da negação. “Não Somos racistas”… Sei.
Um dos argumentos desse povo que diz não haver racismo no Brasil chega a ser hilariante: “racismo não pode haver, porque raça não existe; é um conceito equivocado, que não se sustenta biologicamente”. Percebem a sutileza? Como não existe raça, então não pode haver racismo. Pronto, está resolvido. Com isso, evita-se a discussão sobre preconceito, sobre nossa história de Escravidão, sobre a tradição de nossas elites que sempre trataram os negros como mercadoria.
Certa vez, troquei umas mensagens com esse personagem sinistro que, na direção do jornalismo da Globo, tenta provar sua tese de que “Não Somos Racistas”. Eu escrevi pra ele, reclamando de uma reportagem sobre racismo, que fiz para o Jornal Nacional , mas que nunca foi ao ar (já contei esse episódio, numa entrevista para o Marcelo Salles, no site “Fazendo Media” http://www.fazendomedia.com/novas/entrevista120407b.htm). Travei com esse personagem sinistro da Globo, por e-mail, um pequeno debate sobre o tema do racismo. Tentei lembrar a ele as raízes históricas do racismo no Brasil… O sujeito teve o desplante de afirmar que nem na época Colonial o problema era tão sério, já que negros, muitas vezes, podiam ser proprietários de escravos… É de doer!
Negros podiam ser proprietários de escravos (em casos raríssimos), desde que escondessem sua condição de negros. Era a estratégia do branqueamento, que já foi estudada por dezenas de pesquisadores. Esse é o tipo do argumento que tenta provocar confusão: “olha, tanto faz a cor, havia negro escravo, negro proprietário de escravos…” Tenha dó.
É gente assim que tenta derrubar as quotas para negros nas universidades, argumentando que isso – sim – provocaria ”racismo”.
Felizmente, essa foi uma das poucas áreas em que governo Lula avançou, sem medo. E avançou porque o movimento social pressionou. O fato é que as quotas se consolidam (apesar da gritaria dos “jornalistas” e “geógrafos” muito bem pagos para defender as teses de nossas elites), vão virar até lei nas Universidades Federais.
Para a gloriosa classe média brasileira, restará o papel patético (desculpem a repetição , mas é o adjetivo perfeito para esse povo) de estabelecer quotas ao contrário, vetando gente “de cor” para cuidar das criancinhas brancas do Leblon e de Higienópolis.
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