quinta-feira, setembro 14, 2006

Chama Crioula

Ela chegou de novo ontem, mas como eu já sabia da sua vinda, não tirei o nariz pra fora de casa. Sorte que essa noite foi de bastante chuva. Esse texto é do ano passado. Mudou alguma coisa? Só o que sabemos é que dia 20 de setembro,concretizar-se-á o grande projeto político (e único) do executivo municipal, que é o de colocar o maior números de cavalos em praça pública no mundo. Mário Quintana tinha razão?

Chama crioula

Eu vinha do centro de Alegrete para minha casa, que fica na cidade alta, pela avenida central (Assis Brasil), e percebi um movimento diferente nas ruas, pessoas aglomeradas nas esquinas, famílias se acomodando na frente de casa com as cadeiras de abrir e o chimarrão. Foi então que me disseram que, em alguns minutos, chegaria à cidade a “chama crioula”, não fiquei muito surpreso, pois todo ano é assim, mas daquele jeito eu nunca tinha visto, aquela programação toda.
Quase chegando em casa, avistei o carro do corpo de bombeiros puxando a marcha que trazia a chama, marcha essa de cavalos e gaúchos orgulhosos e numerosos. Percebi pelo público que o evento tinha grande importância, tamanha era a mobilização, parecia que o antigo Guarani tinha ganhado um título nacional para o Alegrete. A partir daí comecei a me perguntar o porquê de tudo isso, não conseguia achar sentido, as pessoas param para ver uma chama de fogo e um monte de cavalos sendo forçados a sujar as ruas.
É claro que alguma explicação deve existir, alguma simbologia, por que o fogo, que é um tanto quanto antigo, chamar tanto a atenção ainda no século XXI? Como sabemos, o fogo é pré-histórico e não quero aqui nem me arriscar a fazer paralelos de civilização e de mentalidade, mas que isso me inquieta, é verdade.
Como essa aura da chama e do gaúcho envolve tanta gente, estou certo de que o deslocado sou eu, sinceramente, ver tudo isso dentro das entranhas das pessoas me causa um desânimo em termos de idéias novas e de progresso, e tenho que me cuidar para que o meu vazio, que agora é tão grande, não se torne contagioso.
Uma hora depois da passagem da chama, voltei ao centro da cidade pelo mesmo trajeto, o solo e, principalmente, o cheiro estavam modificados. E as pessoas com as quais tive contato nem tocavam no assunto. Isso me entristeceu mais ainda, eu estava pensando em algo que ninguém nota ou algo que já é normal e faz parte da nossa vida?
Vou começar a crer que a chama que chega na semana farroupilha, vem para iluminar nossa cidade e seu moradores, vem para provocar mudanças e ampliar nossos pensamentos, já que faz tanto tempo que a recebemos. A prova do seu valor está na nossa cidade, cada vez melhor. Tomara que eu consiga dormir mais...

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