segunda-feira, maio 31, 2010

Enlace

somos enredados diariamente
por um conjunto de certezas
disparamos verdades
que só nos enredam mais

nos envolvemos em tendências
correntes, perspectivas
que pensamos saber o que significam
as defendemos com fervor

é possível nos desenredarmos
aos poucos, por etapas,
mas é mais provável que nos entrelacemos
de tal forma, que já mergulhados
não percebamos a porta do calabouço de luxo

e depois de já estar lá dentro
e sendo bem tratado
nos enturmamos, com quem enreda
gostamos da prática e leiloamos o nosso pensamento
por quantia suficiente para dizer
"penso no meu futuro, no meu bem-estar "

domingo, maio 30, 2010

O lado da Zero Hora

Na reportagem sobre educação das páginas 4 e 5 da Zero Hora de hoje, domingo 30 de maio, chegamos ao ápice do pseudo-jornalismo. O pretenso texto imparcial e democrático, pois traria opiniões diversas, na realidade é um dossiê de avaliações internacionais e de opiniões de economistas supostamente especialistas em educação. Ao debater a questão da meritocracia e da premiação dos “bons” professores o economista brasileiro chega a afirmar que: “É a lógica do mercado de produtividade. Manter o professor ruim é o mesmo que uma fábrica de automóvel não demitir um funcionário que deixa passar carros com defeito.”, notem a comparação feita pelo dito especialista. Nesse caso o aluno é um produto e o professor um fiscalizador. Será que é, realmente, a lógica do mercado que nos orienta nesse mundo insano, injusto, desigual, preconceituoso que deve ser, também, a lógica para a educação? A educação só não avança, entre outras razões, pelo fato de nossa sociedade viver essa lógica de mercado que traz consigo o individualismo, o consumo e a competitividade.

A tendenciosa reportagem compara o modelo americano, o finlandês e o paulista de Serra e do secretário Paulo Renato que foi oito anos ministro da educação do Brasil no governo FHC (lembra algo que ele tenha feito?). É sério isso? Os dois primeiros incomparáveis com o Brasil por inúmeras razões e o último é o desastre educacional do país, os professores paulistas começaram o ano em greve e estão sofrendo cortes salariais e um desmanche de suas carreiras. A comparação, na verdade, não compara nada. Os três, cada um do seu modo, pregam a meritocracia para uma área como a educação que é um espaço de construções coletivas, que depende de investimentos do Estado em suas várias dimensões, formação, estrutura das escolas e salarial. Além de dar legitimidade a pesquisas externas ao nosso país, querer importar padrões de gestão e pedagógicos de professores de universidades estrangeiras, a Zero Hora não teve a sapiência de procurar aqui mesmo no Rio Grande do Sul alguma opinião.

A UFRGS tem, no seu programa de pós-graduação em educação, mais de oitenta professores, e sabiam que esse programa tem a nota máxima nacional da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e que, portanto, está entre os que mais produzem no mundo. Entretanto, ninguém foi ouvido, deve ser pelo fato de que a opinião advinda do programa iria de encontro ao que o jornal do mercado queria defender.

Na educação não existem professores bons ou ruins, assim como alunos, esse maniqueísmo serve para o mercado onde tudo tem que ter um fim lógico e único: o lucro. A educação envolve um universo de oportunidades, condições matérias concretas de trabalhos e de vida, uma formação inicial e continuada, que não depende só do professor, mas sim do Estado. Como posso trabalhando 40 ou 60 horas semanais, com um salário de no máximo mil e quinhentos reais e com 40 alunos por turma, estudar metodologia a fundo, comprar livros, planejar formas alternativas de avaliação e freqüentar espaços culturais de qualificação profissional? E então, vem a Zero Hora por trás da fajuta reportagem, propor uma premiação para os “professores com melhores resultados” e aqueles que vivem todas circunstâncias acima citadas, será que estarão entre os premiados? Ou seja, aqueles que enfrentam dificuldades devem ser esquecidos e se afundar nelas!

Existem várias experiências exitosas em escolas e salas de aula pelo Brasil, mas, sem dúvida, o professor não é o único responsável por isso, assim como não é pelos fracassos. Há uma estrutura composta pelos gestores, pelo investimento público, pela comunidade de cada cidade e escola, pela cultura de cada região, por seu cenário político e econômico que condiciona a qualidade da educação. Não podemos aceitar que opiniões internacionais de economistas, e de oportunistas nacionais, dêem o rumo para o que queremos como educação para o nosso país, os resultados bons ou ruins deles podem não ser os nossos, a maneira de entender o mundo deles e da Zero Hora, pautado na lógica do mercado, não é nossa maneira de ver as coisas. Esse jornal tem lado muito claro e como eu queria que as pessoas entendessem isso, é uma angústia que me corrói. O lado é o da meritocracia, do agronegócio (Ana Amélia Lemos e Afonso Motta), das privatizações, da criminalização dos movimentos sociais, do desrespeito ao meio ambiente (defesa dos eucaliptos), entre outros.


Gregório Grisa: Pedagogo, especialista em Psicopedagogia Social e mestre em Educação.

sábado, maio 29, 2010

Mídias, poder e consciências

Os que dizem que as grandes mídias transmitem conteúdos deploráveis em nada exageram. Se disserem que todos os conteúdos são desta natureza, sem dúvida, estarão exagerando. Estarão dizendo a verdade, se afirmarem que é difícil separar o joio do trigo, lembrando que as transmissões e emissões possíveis de serem acessadas contribuem para diminuir a capacidade de interpretação das audiências. Tenta-se fazer com que a realidade objetiva seja algo longínquo e inalcançável aos simples mortais.

O veneno retórico e o de natureza irracionalista mesclados, como faces da mesma moeda, aparecem tanto na ficção, como no que se autodenomina de objetivo e isento. Aliás, a ficção domina de tal forma o cenário que a distinção desta com a pretensão de objetividade passou a ser um exercício do formalismo habitual. Na verdade, as mídias se retroalimentam do real objetivo, tratando-o no assombroso universo da retórica – leia-se mentira pavoneada – e dos irracionalismos – leia-se, incapacidade de ver e interpretar a nós mesmos e ao que nos cerca – cultivados em séculos de história. Produzem uma ficção de si mesmas, fazendo com que tudo o que toquem se transforme em algo fantasmagórico, com exceção, logicamente, das contas bancárias das empresas.

Obviamente, nem todos os operadores das grandes mídias são tão brutais. Alguns tentam desesperadamente entregar ao público algo de melhor qualidade e com alguma seriedade. Trata-se de profissionais talentosos e capazes de fazer algo diverso do que são compelidos a executar. Outros se vendem sem qualquer problema aos seus patrões. São bajuladores e, quase sempre, eles não têm muito a oferecer, além da fidelidade canina. Todavia, é bom lembrar que as grandes mídias são privadas. Trata-se de empresas que têm história e interesses a zelar. Seus empregados dependem da aprovação se seus patrões, para se manter em seus lugares.

Qual a diferença entre uma telenovela e um telejornal? Grosso modo, ambos usam da emoção alienada para convencer e não têm qualquer compromisso com as verdades históricas e com o esclarecimento científico e histórico-cultural das audiências. No atual contexto, os dois apóiam-se nas tradições mais conservadoras, nos preconceitos avassaladores retirados de baús cheios de pó, vermes e outros bichos. Repetem os sensos comuns primários que facilmente envolvem seus públicos. Não têm maiores compromissos com a cultura popular e com o que há de melhor na erudita. Em alguns momentos, este pacto de mediocridade é rompido pelos operadores. Em seguida, a empresa retoma as rédeas e conduz de acordo com suas linhas mestras.

Os ingênuos e os que se fazem de ingênuos pouco podem refletir sobre o papel das mídias. Eles dizem que os telejornais, bem como os jornalões e revistas impressas são a informação líquida para ser consumida. O mesmo aconteceria com as notícias e comentários encontráveis nos sites mantidos pelas mesmas empresas. As telenovelas, os programas humorísticos, bem como o pior da indústria cinematográfica internacional e nacional seriam, apenas, diversão. O problema é que não é possível haver neutralidade real no ato de informar e nem no de produzir artefatos ficcionais de qualquer natureza. Em todos os casos, é possível descobrir a que deuses se estão servindo.

Informação e diversão seriam os objetos centrais dos vários meios de comunicação empresariais. Estes canais levariam ao grande público, presumidamente, o que eles desejariam assistir, ver e ler. Os consumidores são vistos como pessoas fundamentalmente passivas e fáceis de ser convencidas. Nisto, está um segredo bem guardado. De há muito, os consumidores da informação e da diversão são também consumidores de produtos alardeados pela publicidade. Suas passividades são tão fabricadas como os produtos de massa e idéias que os anunciantes pretendem vender. Simplesmente, é dado a eles o acesso a uma via de mão única, sem atalhos ou retornos. As possibilidades de resistência existem, mas, são bem pequenas.

O verdadeiro objetivo destes meios é vender produtos, usando técnicas de convencimento e de catarse total. Quando se vê TV, se acessa à Internet, se lê as mídias impressas ou se assiste a filmes comerciais de ficção, se está ao mesmo tempo, sendo bombardeado por mil e uma mensagens publicitárias. O que realmente interessa a estes meios é ter a certeza que o bombardeio atingiu seus objetivos, com isto, se garantem mais verbas e, sobretudo, infinitos lucros. A lógica da produção é a do comércio, ao qual ela é completamente subordinada.

A tão propalada interatividade da Internet esbarra no fato que ela é intermediada por empresas reais. Ao contrário do que se imaginava inicialmente, estas empresas moldam formatos, sugerem conteúdos e dificultam que exista uma comunicação realmente mais livre. Esta liberdade é buscada com abnegação por grupos e pessoas isoladas que tentam, por meio dos instrumentos disponíveis, construir opiniões contrahegemônicas. Isto funciona com fortes limites impostos pelos custos e pela pressão dos instrumentos controlados pelas empresas. Todavia, é na Internet onde se encontra ainda um espaço de reflexão e de liberdade, inexistente nas grandes mídias. Não são casuais, as tentativas surgidas em vários países de se controlar este espaço e de até emudecê-lo.

Como as mídias são um sistema integrado, comandado por empresas, na Internet, o poder das mesmas se destaca e se firma como opção para grandes parcelas dos usuários. Manter uma revista de opinião alternativa significa encontrar formas criativas de financiá-la e de conseguir que ela, na sua fragilidade que é a origem de sua força, permaneça no ar. Esta batalha é travada todos os dias por quixotes que não aceitam que o mundo seja exclusivamente o que as grandes mídias teimam em dizer e redesenhar. O que mantém a chama acesa é a crença que o sonho ainda possa vencer a obscuridade da vida instrumental do capital.

A midiatização incisiva dos recentes ataques do candidato-síntese das direitas à Bolívia de Evo Morales e as críticas iradas à tentativa brasileira de uma solução pacífica do conflito entre o Irã e os Estados Unidos são provas evidentes da manipulação e da sujeição aos interesses externos. Entretanto, o espaço dado aos que pensam de modo diverso foi proporcionalmente pequeno. Mesmo sendo uma concessão pública, as empresas de TV trabalham como se a liberdade de imprensa fosse a mesma coisa do que a liberdade de empresa.

Todos estes fatos passam batidos, em meio a nuvem formada pela onda publicitária que envolve as mídias. Olhando-se, em perspectiva, percebe-se que elas sabem bem camuflar suas verdadeiras essências. Depois de um ataque furibundo aos que lutam contra a conservação, nada melhor do que um comercial de um novo modelo de carro ou do quase-monopólio de uma empresa provedora da TV por assinatura, dentre outros serviços.

São poucos os programas de TV aberta e da por assinatura que não são pautados no tratamento da violência como um espetáculo, sem dar a audiência quaisquer possibilidades de interpretá-los de modo racional. Não é muito diferente o que ocorre nas mídias impressas, havendo adaptações aos públicos de cada segmento. Os mais pobres consomem mais ‘sangue’ e doses elevadas de ‘mondo cane’. As classes médias vêem as mesmas hemorragias e baixarias em emissões que usam de um linguajar mais controlado e adaptado. O mesmo ocorre com o sentido geral da vida, corrompido por emissões que mentem sobre as reais possibilidades do tecido social.


Luís Carlos Lopes é professor e escritor.

sexta-feira, maio 28, 2010

Brasileirisse

Eu não to aqui pra dizer
Mas faço questão de conta
A minha vizinha faz espuma sem sabão
O homem da praça come manteiga sem o pão

Tem gente dormindo no macio sem colchão
Outros dançando sem tablado e sem canção
gente na rua que anda nua com calção
Tem gente com uma andorinha e faz verão

Eu não to aqui pra dizer,
mas faço questão de mostrar
Que fazem casa de sucata, barro e papelão
Que moem farinha sem moinho e sem pilão
Que colhem do esgoto pra salada o agrião
Que caça com gato aquele que não tem mais cão


E pulam carnaval
E jogam futebol
E dançam rock n’roll
Em pleno temporal


Eu não tenho cara pra parar a luta
Se no mercado o preço é uma provocação
Se não ter dinheiro é quase uma maldição
Quem vive de sobras se acostuma com um grão
Se tu tens de sobra ninguém te rouba, então

Pegam teu excesso pra manter a condição
É só o feitiço vindo em tua direção
Eu não tenho cara pra parar a briga
Se esse movimento é o combustível da invenção
Se desde pequeno esmurram a ponta de um facão

Se isso é honra dos pampas ao sertão
Se temos o lema aqui ninguém desiste em vão


E pulam carnaval
E jogam futebol
E dançam rock n’roll
Em pleno temporal


Eu não quero nada já to de saída
Mas quem faz churrasco sem carvão
Sabe a distância que a fumaça vai do chão
Sabe que a lua ta mais alta que o avião
Que não há limite no vôo duma multidão



Misselânea K.

Linda canção, ouçam no http://www.myspace.com/misselaneak

segunda-feira, maio 24, 2010

Seguindo no mesmo tema

Saiba o que é o capitalismo


Escrito por Atilio A. Boron
14-Mai-2010

O capitalismo tem legiões de apologistas. Muitos o são de boa fé, produto de sua ignorância e pelo fato de que, como dizia Marx, o sistema é opaco e sua natureza exploradora e predatória não é evidente aos olhos de mulheres e homens. Outros o defendem porque são seus grandes beneficiários e amealham enormes fortunas graças às suas injustiças e iniqüidades. Há ainda outros (‘gurus’ financeiros, ‘opinólogos’ e ‘jornalistas especializados’, acadêmicos ‘pensantes’ e os diversos expoentes desse "pensamento único") que conhecem perfeitamente bem os custos sociais que o sistema impõe em termos de degradação humana e ambiental. Mas esses são muito bem pagos para enganar as pessoas e prosseguem incansavelmente com seu trabalho. Eles sabem muito bem, aprenderam muito bem, que a "batalha de idéias" para a qual nos convocou Fidel é absolutamente estratégica para a preservação do sistema, e não aplacam seus esforços.

Para contra-atacar a proliferação de versões idílicas acerca do capitalismo e sua capacidade de promover o bem-estar geral, examinemos alguns dados obtidos de documentos oficiais do sistema das Nações Unidas. Isso é extremamente didático quando se escuta, ainda mais no contexto da crise atual, que a solução dos problemas do capitalismo se consegue com mais capitalismo; ou que o G-20, o FMI, a Organização Mundial do Comércio e o Banco Mundial, arrependidos de seus erros passados, poderão resolver os problemas que asfixiam a humanidade. Todas essas instituições são incorrigíveis e irreformáveis, e qualquer esperança de mudança não é nada mais que ilusão. Seguem propondo o mesmo, mas com um discurso diferente e uma estratégia de "relações públicas" desenhada para ocultar suas verdadeiras intenções. Quem tiver duvidas, olhe o que estão propondo para "solucionar" a crise na Grécia: as mesmas receitas que aplicaram e continuam aplicando na América Latina e na África desde os anos 80!

A seguir, alguns dados (com suas respectivas fontes) recentemente sistematizados pelo CROP, o Programa Internacional de Estudos Comparativos sobre a Pobreza, radicado na Universidade de Bergen, Noruega. O CROP está fazendo um grande esforço para, desde uma perspectiva crítica, combater o discurso oficial sobre a pobreza, elaborado há mais de 30 anos pelo Banco Mundial e reproduzido incansavelmente pelos grandes meios de comunicação, autoridades governamentais, acadêmicos e "especialistas" vários.

População mundial: 6.800 bilhões, dos quais...

1,020 bilhão são desnutridos crônicos (FAO, 2009)
2 bilhões não possuem acesso a medicamentos (http://www.fic.nih.gov/)
884 milhões não têm acesso à água potável (OMS/UNICEF, 2008)
924 milhões estão "sem teto" ou em moradias precárias (UN Habitat, 2003)
1,6 bilhão não têm eletricidade (UN HABITAT, "Urban Energy")
2,5 bilhões não têm sistemas de drenagens ou saneamento (OMS/UNICEF, 2008)
774 milhões de adultos são analfabetos (http://www.uis.unesco.org/)
18 milhões de mortes por ano devido à pobreza, a maioria de crianças menores de 5 anos (OMS).

218 milhões de crianças, entre 5 e 17 anos, trabalham precariamente em condições de escravidão e em tarefas perigosas ou humilhantes, como soldados, prostitutas, serventes, na agricultura, na construção ou indústria têxtil (OIT: A eliminação do trabalho infantil: um objetivo ao nosso alcance, 2006).

Entre 1988 e 2002, os 25% mais pobres da população mundial reduziram sua participação na renda global de 1,16% para 0,92%, enquanto os opulentos 10% mais ricos acrescentaram mais às suas fortunas, passando de dispor de 64,7% para 71,1% da riqueza mundial. O enriquecimento de uns poucos tem como seu reverso o empobrecimento de muitos.

Somente esse 6,4% de aumento da riqueza dos mais ricos seria suficiente para duplicar a renda de 70% da população mundial, salvando inumeráveis vidas e reduzindo as penúrias e sofrimentos dos mais pobres. Entenda-se bem: tal coisa se conseguiria se simplesmente fosse possível redistribuir o enriquecimento adicional produzido entre 1988 e 2002 dos 10% mais ricos. Mas nem sequer algo tão elementar como isso é aceitável para as classes dominantes do capitalismo mundial.

Conclusão: se não se combate a pobreza (que nem se fale de erradicá-la sob o capitalismo) é porque o sistema obedece a uma lógica implacável centrada na obtenção do lucro, o que concentra riqueza e aumenta incessantemente a pobreza e a desigualdade sócio-econômica.

Depois de cinco séculos de existência eis o que o capitalismo tem a oferecer. O que estamos esperando para mudar o sistema? Se a humanidade tem futuro, será claramente socialista. Com o capitalismo, em compensação, não haverá futuro para ninguém. Nem para os ricos e nem para os pobres. A frase de Friedrich Engels e também de Rosa Luxemburgo, "socialismo ou barbárie", é hoje mais atual e vigente do que nunca. Nenhuma sociedade sobrevive quando seu impulso vital reside na busca incessante do lucro e seu motor é a ganância. Mas cedo que tarde provoca a desintegração da vida social, a destruição do meio ambiente, a decadência política e uma crise moral. Ainda temos tempo, mas já não tanto.

Atilio A. Boron é diretor do PLED, Programa Latinoamericano de Educación a Distancia em Ciências Sociais, Buenos Aires, Argentina.

Crônica de uma trajédia anunciada

A alguns postes atrás, nesse link http://migre.me/HQjz falei de como a nossa democracia é fajuta, expliquei um processo praticado pelas grandes corporações através do mercado financeiro. Minha incipiente explicação foi uma tentativa de reflexão, porém nesse texto http://migre.me/HQkG do Boaventura de Souza Santos ele também tenta praticar o exercício de análise e consegue de modo muito mais completo e complexo engendrar uma explicação de como está o estágio do sistema financeiro atual. Era bem o que eu tava pensando sabe, só que ele escreveu primeiro! Risos! Confiram.

Negras são as principais vítimas de violência no Rio

As mulheres negras têm mais chance de serem alvo de violência no Rio de Janeiro, segundo pesquisa divulgada pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) na semana passada, baseada em dados coletados em 2009. O Dossiê Mulher 2010 mostra que as mulheres negras são a maioria entre as vítimas de homicídio doloso - aquele em que há intenção de matar - (55,2%), tentativa de homicídio (51%), lesão corporal (52,1%), além de estupro e atentado violento ao pudor (54%). As brancas só eram maioria nos crimes de ameaça (50,2%).

De acordo com a coordenadora da organização não-governamental Crioula, Lúcia Xavier, embora o racismo não esteja evidente nos casos de violência contra a mulher negra, está por trás de processos de vulnerabilização dessas mulheres, que as deixam mais expostas a situações de violência. Para ela, a sociedade desqualifica as mulheres negras.

"O racismo permite que a sociedade entenda que essas mulheres [negras] podem ser violentadas", afirmou Lúcia. "Está aí a representação delas como lascivas, quentes, sem moral do ponto de vista da sua experiência sexual. Logo, acabam mais vulneráveis para essa violência."

Em todos os crimes listados no dossiê, também chama a atenção o percentual de vítimas que conheciam os agressores. Nos casos de lesão corporal, 74% das mulheres tiveram contato com os acusados, entre os quais 51,9% eram companheiros ou ex-companheiros. Pai ou padrasto, parentes e conhecidos somaram 22,1% dos agressores.

Nas ocorrência de tentativa de homicídio, a pesquisa constatou que em 45,8% dos casos as vítimas também conheciam os agressores, assim como em 38,8% dos casos de estupro e atentado violentado ao pudor, dos quais 58,4% do total de vítimas tinha até 17 anos. "As pessoas que se relacionam intimamente também reproduzem essa violência simbólica do racismo", destacou a coordenadora da Crioula.

quarta-feira, maio 19, 2010

Deus ta me irritando

Chegando agora a pouco no restaurante universitário da UFGRS, me deparei com dois jovens americanos distribuindo bíblias que guardavam em uma enorme caixa de papelão. Depois rumei para a FACED e no portão do estacionamento outro jovem fazia o mesmo, e quando cheguei na porta do prédio adivinhem? Outra jovem a oferecer bíblias pretas grossas e novinhas. Então não me aguentei e tive que usar meu inglês tupiniquim e disparei "ilusion, fantasi". Mas gostaria de saber falar inglês para dizer o seguinte: Vocês não tem ideia de como seria interessante e importante se ao invés de dedicarem toda a disposição, saúde, boa vontade, energia para distribuir um livro-piada, vocês se vinculassem aos movimentos sociais, organizações culturais ou até mesmo um partido político. O desperdício não é só militante é de futuro, pois nesse caso nem eram as pessoas que muito respeito das pastorais que fazem um importante trabalho de base junto com os movimentos. E agora enquanto escrevo to pensando, vou descer e pegar um bíblia, com isso menos uma pessoa pega, mas se bem que se pegar ao menos vai ler ? Em um país que muito pouco se lê esse seria o lado bom. Que que eu faço?

domingo, maio 16, 2010

O comunismo morreu?

Por Marino Boeira

O marxismo, apontado muitas vezes como uma doutrina exótica, é um produto genuíno da cultura ocidental. Suas três vertentes formadoras são as ideias humanistas dos socialistas utópicos franceses, as teses sobre a economia do escocês Adam Smith e a visão dialética do alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel. A partir de 1848, com a edição do Manifesto Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels lançaram as bases teóricas e práticas para a construção de uma sociedade socialista, sonho até então utópico da humanidade. Em 1917, contrariando as ideias de Marx e Engels, que imaginavam esse evento acontecendo na Inglaterra, na Alemanha ou na França, foi realizada na Rússia a primeira tentativa de edificação de um Estado baseado nos princípios marxistas, graças à liderança de dois dos maiores revolucionários do século 20, Lenin e Trotsky.

Com o passar dos anos, a premissa marxista de que seria preciso um período de ditadura da classe trabalhadora para o enfrentamento dos contrarrevolucionários – e no caso da recém criada União Soviética, eles foram tanto internos quanto externos – convergiu para uma ditadura de um único partido, depois para um pequeno grupo dentro do partido e finalmente para a de um só homem, Josef Stalin. Mesmo assim, com muitas adulterações nos pressupostos lançados por Marx e Engels, a União Soviética conseguiu se tornar uma grande potência e num curto período, após a II Guerra Mundial, parecia se aproximar do sonho de uma sociedade socialista mais humana e justa. A chamada Guerra Fria e o bloqueio econômico norte-americano, porém, debilitaram a economia da União Soviética e nem o último esforço de Mikhail Gorbachev de instituir a perestroika – reconstrução econômica – e a glasnost – transparência política – foram capazes de salvar o regime que desapareceu em 1991. Com o fim da União Soviética, políticos e intelectuais burgueses do mundo inteiro decretaram o fim do comunismo e o domínio perene do capitalismo na sua versão neoliberal.

Toda essa recuperação histórica se faz necessária no momento em que despontam no mundo inteiro movimentos no sentido de recuperar as propostas de Marx e Engels para a edificação de uma sociedade socialista, obviamente aperfeiçoadas pelos novos conhecimentos adquiridos nas últimas décadas nas áreas de sociologia, da economia e da política. Os contínuos fracassos econômicos do capitalismo, com suas devastadoras crises cíclicas, colocaram na ordem do dia novamente a possibilidade de edificação de uma sociedade baseada em valores mais humanos. Dentro dessa nova perspectiva, é que renovadas correntes marxistas estão surgindo para propor uma pergunta que certamente vai assombrar muita gente: o comunismo está realmente morto? Um dos filósofos franceses mais importantes da atualidade, Alain Badiou, professor na École Normale Supérieure, de Paris, acaba de lançar o livro L’Idée du Communisme (A Ideia do Comunismo), que reúne textos de conferências feitas em Londres por ele e mais 14 pensadores europeus sobre o tema. Na apresentação do livro, Badiou justifica o seu lançamento como “uma maneira de repor em circulação esse velho vocábulo magnífico (comunismo) e não deixar os partidários do capitalismo liberal globalizado imporem um balanço pessoal de sua utilização. Relançar a discussão sobre as etapas e os desvios inevitáveis da emancipação histórica da humanidade é uma tarefa necessária para o que hoje se mostra dramaticamente ausente: uma independência total de pensamento diante do consenso ocidental ‘democrático’ que apenas organiza universalmente sua própria e deletéria continuação desprovida de sentido”.

Outro participante do livro, o filósofo Jacques Rancière, diz: “A crise atual é de fato o freio da utopia capitalista que reinou sozinha durante os 20 anos que se seguiram à queda do império soviético: a utopia da autorregulação do mercado e da possibilidade de reorganizar o conjunto das instituições e das relações sociais, de reorganizar todas as formas de vida humana segundo a lógica do livre mercado”. Tomara que essa saudável discussão ocupe também os interesses dos intelectuais brasileiros, que hoje parecem apenas interessados em questões também importantes, mas menores em sua significação humana, como direitos de minorias e hábitos de consumo. Seria importante que nos voltássemos também para questões macro porque são elas que vão decidir os caminhos que a humanidade vai seguir neste novo século.

sábado, maio 15, 2010

Uma boa noite de sexta-feira

Ontem fui no cais do porto em POA visitar a feira da agricultura familiar e ver os shows do Nei Lisboa e do Teatro Mágico, muito bons por sinal. Misturando música, poesia, circo, e outras expressões artísticas a trupe do teatro mágico ainda trás um discurso muito interessante sobre o acesso a arte e a relação deles com os movimentos sociais. Abaixo segue a letra de uma das belas músicas deles.

Xanel N° 5

A minha tv não se conteve
Atrevida passou a ter vida
Olhando pra mim.
Assistindo a todos os meus segredos,minhas parcerias, dúvidas, medos,
Minha tv não obedece.
Não quer mais passar novela, sonha um dia em ser janela e não quer mais ficar no ar.
Não quer papo com a antena nem saber se vale a pena ver de novo tudo que já vi.
Vi.
A minha TV não se esquece nem do preço nem da prece que faço pra mesma funcionar.
Me disse que se rende a internet em suma não se submete a nada pra me informar.
Não quis mais saber de festa não pensou em ser honesta funcionando quando precisei.
A notícia que esperava consegui na madrugada num site, flick, blog, fotolog que acessei.
A minha TV tá louca, me mandou calar a boca e não tirar a bunda do sofá.
Mas eu sou facinho de marré-de-sí, se a maré subir eu vou me levantar.
Não quero saber se é a cabo nem se minha assinatura vai mudar tudo que aprendi,
triste o fim do seriado, um bocado magoado sem saber o que será de mim.
Ela não SAP quem eu sou,
Ela não fala a minha língua.
Não.
"Pô tô cansado de toda essa merda que eles mostram na televisão todo dia mano, não aguento mais, é foda!"
Manda bala Fernando...
Enquanto pessoas perguntam por que, outras pessoas perguntam por que não?
Até porque não acredito no que é dito, no que é visto.
Acesso é poder e o poder é a informação.
Qualquer palavra satisfaz.
A garota, o rapaz e a paz quem traz, tanto faz.
O valor é temporário, o amor imaginário e a festa é um perjúrio.
Um minuto de silêncio é um minuto reservado de murmúrio, de anestesia.
O sistema é nervoso e te acalma com a programação do dia, com a narrativa.
A vida ingrata de quem acha que é notícia, de quem acha que é momento, na tua tela querem ensinar a fazer comida uma nação que não tem ovo na panela que não tem gesto, quem tem medo assimila toda forma de expressão como protesto.

Falou e disse...Num passado remoto perdi meu controle...
Num passado remoto perdi meu controle...Num passado remoto...

Era vida em preto e branco, quase nunca colorida reprisando coisas que não fiz, finalmente se acabando feito longa, feito curta que termina com final feliz..

Ela não SAP quem eu sou, Ela não fala a minha língua.
Ela não SAP quem eu sou, Ela não fala a minha língua.
Ela não SAP quem eu sou, Ela não fala a minha língua.
Ela não SAP quem eu sou, Ela não fala a minha língua.
Eu não sei se pay-per-view ou se quem viu tudo fui eu.

A minha tv tá louca.

sexta-feira, maio 14, 2010

Entrevista interessante

Um conceito novo que trate de velhas práticas "Capitalismo de desastre", uma análise interessente no link abaixo.


http://migre.me/EQ4T

quarta-feira, maio 12, 2010

O ateísmo como militância social

por Mário Maestri*

Dentro do respeito às crenças individuais dos homens e das mulheres de bem, a militância ateísta é dever social inarredável, para todos os que se mobilizam pela redenção da humanidade da alienação social, material e espiritual que a submerge crescentemente neste início de milênio, ameaçando a sua própria existência. Por mais subjetiva, introspectiva e sublimada que se apresente, a crença religiosa, jamais nasce, se realiza e se esgota no indivíduo. Ela é fenômeno parido no mundo social, que influencia essencialmente a ação individual e coletiva.

Em forma mais ou menos radical, mais ou menos plena, mais ou menos consciente, a crença religiosa dissocia-se da objetividade material e social. Ela desqualifica o doloroso esforço histórico que permitiu ao ser humano superar sua origem animal e, percebendo a si e à natureza, começar a conhecer as leis imanentes ao mundo, na difícil, necessária e inconclusa luta pela harmonização da existência social.

A crença religiosa nega as crescentes conquistas da racionalidade, da objetividade, da materialidade, da historicidade, encobrindo-as com as espessas sombras da irracionalidade, da subjetividade, do espiritualismo. Desequilibra a difícil luta do ser humano para erguer-se sobre as pernas e moldar o mundo com as mãos, forçando-o a ajoelhar-se novamente, apequenado, temeroso, embasbacado diante do “desconhecido”, sob o peso de alienação socialmente alimentada.

A crença religiosa droga o ser social com suas ilusões infantis de redenção conquistada através da obediência incondicional a estranho super-pai que, em muitas das mais importantes tradições espiritualistas, apesar de onisciente, onipotente e onipresente, e, assim, capaz de tudo dar aos filhos, lançou-os – no singular e no plural – em desnecessária desassistência, miséria e tristeza.

É porque é!

A essência anti-científica da religião, que não argumenta, pois se nutre da crença incondicional no arbitrário, materializa-se na oposição visceral, mais ou menos realizada, ao maior tesouro humano, a capacidade de diálogo e de compreensão tendencial do universo. Que o digam Galileu e Giordano Bruno! Daí sua histórica intolerância, desconfiança e ojeriza para com o pensamento científico. E, verdadeiro tiro no pé, seu constante e paradoxal esforço para afirmar que a ciência seja uma crença a mais.

O pensamento religioso nega e aborta o ativismo e o otimismo racionalistas e materialistas, nascidos da possibilidade de compreensão, domínio e transformação do mundo social e material. Impõe visão pessimista, quietista, introspectiva e infantil do universo, essencialmente petrificado e eternizado pela materialização de transcendência, à qual o homem deve apenas submeter-se e render-se, para merecer a liberação.

Para tais visões, o ativismo e otimismo social são incongruências, ao não haver imperfeição social superável, já que esta última nasce da própria natureza humana, habitada pelo mal e pelo pecado, devido ao desrespeito a interdições primordiais do pai eterno – olha aí ele de novo –, origem do pecado. Pecado que exige incessante expiação e penitência, lançando o ser religioso em triste e mórbido mundo de culpa, de submissão, de punição.

Ativismo e otimismo sociais impensáveis para uma forma de compreender a sociedade em que não há história. Ou o que compreendemos como história se mostra ininteligível, pois regida essencialmente por determinações transcendentais paridas e concluídas à margem das práticas humanas. Realidade à qual, segundo tal visão, podemos ascender, muito limitadamente, apenas através da revelação.

Quando deus mata o homem

Na sua petrificação a-social e a-histórica, um mundo chato, triste, deprimente, infantil, mórbido. Um universo que valoriza a paciência, a submissão, o imobilismo, o quietismo, a humildade, a transcendência, a espiritualidade, etc., valores e comportamentos historicamente explorados pelos opressores, no esforço de manter o mundo imóvel, através de alienação e submissão dos oprimidos, nesta vida, é claro, pois na outra, se sentarão à direita de deus-pai.

O ateísmo militante é necessário ao retrocesso da alienação, enormemente crescente em tempos de vitória da contra-revolução neoliberal. Ele impõe-se na luta por um mundo mais rico, mais pleno, mais livre, mais fraterno, em que o homem seja o amigo, não o lobo do homem. É imprescindível ao esforço de superação da miséria, da tristeza e da dor, materiais e espirituais, nos limites férreos da natureza humana historicamente determinada.

O ateísmo militante é democrático, pois tem como essencial meio de pregação a conscientização, individual e coletiva, da necessidade de assentar as práticas sociais nos valores da humanidade, da racionalidade, da liberdade, da solidariedade, da igualdade. Pregação racionalista e materialista que compreende que a superação da alienação espiritual será materializada plenamente apenas através da superação da alienação social e material.

O que exige intransigente luta política, cultural e ideológica pela defesa dos maltratados valores do laicismo, única base possível para convivência social mínima por sobre crenças religiosas, étnicas, ideológicas, etc. singulares. Laicismo agredido pela despudorada exploração mercantil, política e social, direta ou indireta, por parte das religiões novas e antigas, da crescente anomia popular contemporânea. O monopólio público da educação e da grande mídia televisiva e radiofônica, sob controle democrático, e a ilegalização do escorcho religioso popular direto são pontos programáticos dessa mobilização.

O Céu e o Inferno

O ateísmo militante é pregação de adultos, conscientes do limite e dos perigos de empreitada subversiva, dessacralizadora e mobilizadora, pois voltada para a necessidade do homem de retomar as rédeas de sua vida material e espiritual, no aqui e no agora. É jornada sem esperanças de premiações e de graças, na outra vida e sobretudo nessa, ao contrário do habitual nas religiões oferecidas como vias expressas para o sucesso individual, no rentável balcão da exploração da alienação.

O racionalismo militante é caminho difícil que premia os que nele perseveram com a experiência, mesmo fugidia, com o que há de melhor nos seres humanos, a racionalidade, a solidariedade, a fraternidade. Sentimentos e práticas vividos em forma direta, sem tabelas, pois a única ponte que liga os homens são as lançadas entre os próprios homens, construídos pela história à imagem e semelhança dos homens.

A vida racional é aventura recompensada sobretudo pelo inebriante desvelamento do encoberto pela ignorância e irracionalidade e pelo equilíbrio obtido na procura da harmonia social, por mais difícil e limitada que seja. Trata-se de caminho que permite, sem sonhar nem crer, seguir decifrando, alegre e desvairadamente, esse mundo crescentemente encantado e terrível. Viagem por esta vida terrena, valiosa, breve e única, sempre apoiada na lembrança de que, diante das penas e tristezas, não se há de se rir ou chorar, mas sobretudo entender, para poder transformar.

Uma experiência de vida que, mesmo bordejando não raro o inferno, ou sendo elevado fugidamente aos reinos dos céus, sabe-se que tudo se passa e se conclui nesse mundo, concreto, terrivelmente triste e belo, sobre o qual somos plena, total, sem desculpas e irremediavelmente responsáveis.


*Mário Maestri, 61, é rio-grandense, historiador, ex-refugiado político, ateu, marxista, comunista sem partido, casado [há 32 anos], pai de dois filhos, com um neto. Viveu no Chile, México, Bélgica, Itália e Brasil. Trabalha no PPGH da UPF. Entre outros livros, escreveu, com a lingüista Florence Carboni: A linguagem escravizada [2ed. São Paulo: Expressão Popular, 2006.] E-mail:

domingo, maio 09, 2010

Edição Especial: A Direita Brasileira

O que prejudica o Brasil

A direita brasileira continua muito atuante, tem uma agenda própria e articula ataques em várias frentes contra o que pode ameaçar seus interesses. O oligopólio da mídia neoliberal-burguesa expressa exatamente o que quer e o que faz a direita, que atua nas instituições públicas, nos poderes da República, nos bastidores da política e da economia. A direita cuida especialmente da defesa do capital, das vantagens econômicas do empresariado, dos privilégios patrimoniais das elites e do poder político das oligarquias.

Desde o final do ano passado a direita brasileira cerrou fileiras para enterrar de vez o esclarecimento dos crimes praticados pelo Estado na ditadura militar (1964-1985), em especial o que foi suscitado pelo 3º Programa Nacional dos Direitos Humanos, lançado em dezembro, e que levou o presidente da República a fazer alterações ao gosto dos setores mais reacionários. A direita não quer saber de Comissão da Verdade e da Justiça, não quer passar a limpo a história da prisão, tortura, morte e desaparecimento de opositores políticos.

A direita ataca as propostas de democracia participativa, tudo o que possa aperfeiçoar o sistema representativo e assegurar ao povo o papel de sujeito da história. A direita critica a realização de conferências nacionais que possibilitam a formulação de políticas públicas, assim como as propostas de plebiscitos e referendos para as grandes definições nacionais.

Amarrada aos pontos do Consenso de Washington, mesmo com o fracasso e a crise do neoliberalismo em todo o mundo, notadamente na América Latina, a direita livro_carosamigos_dir_gd.jpgbrasileira continua defendendo a privatização de serviços públicos, rodovias, portos, aeroportos, educação e saúde – apesar da péssima prestação de tais serviços pelas empresas privadas.

Ao mesmo tempo rejeita, com muita força, todas as medidas que possam melhorar as condições de vida e trabalho do povo brasileiro. No momento, ataca a redução da jornada de trabalho para 40 horas e a mudança nos critérios das aposentadorias. A direita não tem o menor interesse que os trabalhadores conquistem uma vida com dignidade, que as leis trabalhistas sejam cumpridas.

A direita não se importa com a construção de um país mais justo, que assegure igualdade de oportunidade para todos, que amplie direitos, que trate do bem-estar das pessoas antes do lucro e do sucesso das empresas. Conhecer mais sobre a direita é identificar quem realmente tem prejudicado o Brasil.

Sumário da edição especial da Caros Amigos.

OBS: parece básico e lógico o que representa a direita no Brasil, mas é importante sempre destacar o seu papel, seus métodos e seus atores.

Pra pensar...

Slavoj Zizek e alguns temas subjacentes ao debate eleitoral


(I)

'Por que tantos problemas atualmente são percebidos como problemas de intolerância, em vez de serem entendidos como problemas de iniquidade, exploração e injustiça? Por que o remédio tem de ser a tolerância em vez de a emancipação (...)? A resposta imediata está na operação básica do multiculturalismo liberal: "a culturização da política". As diferenças políticas, diferenças condicionadas pela iniquidade política ou a exploração econômica, se naturalizam como simples diferenças "culturais".



(II)


De longe, a versão predominante da ecologia é a da ecologia do medo - medo da catástrofe, humana ou natural, que pode perturbar profundamente ou mesmo destruir a civilização humana. Essa ecologia do medo tem todas as oportunidades de se converter na forma ideológica predominante do capitalismo global, um novo ópio das massas que sucede o da religião....Apesar de os ecologistas exigirem permanentemente que mudemos radicalmente nossa forma de vida [ NR/CM ,o que subjaz a isso é o seu oposto]; isto é, uma profunda desconfiança em relação à mudança, em relação ao desenvolvimento...

(Slavoj Zizek; revista Unisinus; dez/jan; Carta Maior; 09-05)

Seria chover no molhado

por Marcos Rolim*

Acompanhei com atenção a sessão do STF sobre o pleito da OAB a respeito da Lei da Anistia. A lei, como se sabe, nunca mencionou crimes como a tortura. Ela perdoou os “crimes políticos e conexos”, ponto. A pergunta, então, era: a tortura, o estupro, o assassinato de presos, a ocultação de cadáveres são crimes “conexos”? Pois o STF, por sete votos a dois, disse que sim, que esses crimes estão cobertos pela anistia. Bem, não sei em que mundo vivem os ministros do Supremo, mas, no planeta Terra, tais delitos não são políticos ou “conexos”.

O mais impressionante não foi o resultado, mas a linha de argumentação empregada. Por ela, a anistia representou uma “ampla negociação” entre governo e oposição na época. A hipocrisia tem lá suas regras e se sabe que rende homenagens à virtude. Natural, então, que os ministros afirmem sua “repulsa” à tortura no exato momento em que sepultam a possibilidade de processar torturadores. A mentira, entretanto, precisa ser chamada pelo seu nome. A Lei da Anistia não foi o resultado de negociação alguma. Paulo Sérgio Pinheiro – ex-secretário de Direitos Humanos no governo Fernando Henrique – lembra que em 1979, pouco antes da votação no Congresso, as oposições organizaram o “Dia Nacional de Repúdio ao Projeto de Anistia do governo”. Em São Paulo, a OAB realizou ato público para repudiar a autoanistia em curso. E como foi o resultado da votação no Congresso? A lei foi aprovada com 206 votos da Arena, o partido da ditadura. O MDB votou maciçamente contra o projeto com 201 votos (!). Este foi o “ambiente de ampla negociação” ao qual fizeram referência os ministros do STF, ponderação logo referendada por grande parte da mídia.

Há, ainda, outra mentira histórica: toda a direita no Brasil afirma que “crimes foram cometidos pelos dois lados”. Há, em qualquer hipótese, entretanto, uma diferença básica: todos os que pegaram em armas contra a ditadura – um princípio consagrado pelo direito internacional – foram mortos ou presos e/ou torturados e/ou exilados e/ou perseguidos; mas nenhum torturador, assassino ou estuprador a serviço do regime militar foi responsabilizado. Os militantes da esquerda armada que sobreviveram são conhecidos, possuem nome e endereço. Seus algozes são sombras e o Brasil não sabe seus nomes. A depender do STF, nunca saberá. O governo Lula e o PT deram suficientes demonstrações de covardia. O primeiro, sustentou oficialmente a pizza através da Advocacia-Geral; o segundo, calou-se, como era conveniente. A imprensa não pôde observar isto, porque já havia montado um escarcéu sobre o Programa de Direitos Humanos e acusado o governo de querer revisar a Lei. Aliás, a mídia sequer se interessou em saber por que o ministro Toffoli não apareceu na sessão. Justiça seja feita, Tarso Genro foi um dos poucos a se manifestar com dignidade sobre o tema; mas foi só. Em 1971, logo após a troca de 70 presos políticos pelo embaixador suíço, um cinegrafista americano tomou vários depoimentos dos brasileiros recém chegados ao Chile. Isto virou um documentário disponível em http://www.linktv.org/programs/brazil-a-report-on-torture. Tanto quanto sei, é o único registro do tipo feito naquela época. O conjunto é impressionante. Maria Auxiliadora Lara Barcellos e Frei Tito estão entre os entrevistados. Ambos se suicidariam no exílio alguns anos depois. Vale a pena acompanhar os relatos. Seria chover no molhado, eu sei, se o molhado não fosse sangue.

*Jornalista

sexta-feira, maio 07, 2010

Colorado




Ontem no Beira-rio o Inter enfrentou um adversário mediano, mas típico de libertadores, conseguiu vencer apesar das limitações. D'alessandro e Walter jogaram muito futebol e o Pato, que como goleiro provoca calafrios nos torcedores, fez o trabalho para o qual foi contratado, matar tempo, isso ele faz com muita propriedade. Mas to escrevendo pra dizer que ontem foi o jogo em que a torcida do internacional mais me emocionou, o estádio estava fantástico e não paramos de cantar e pular um segundo, nem quando acabou o primeiro tempo e muito menos quando terminou o jogo. Foi tão forte o que a torcida proporcionou que os jogadores tiveram que agradecer em um momento em que veio abaixo o Beira-rio, essa é a hora da foto acima.

quarta-feira, maio 05, 2010

Para quem gosta de Alegrete

Concidadãos

Nós que gostamos do Alegrete, que optamos em viver por aqui, somos desrespeitados sistematicamente, pela elite decadente local e por seus lacaios. Além da "cidade do já teve", podemos ganhar outro apelido pejorativo - Exaltadores de Larápios do Erário Público - primeiro que recebeu o Título de cidadão Alegretense, foi o anão do orçamento, Ibsen Pinheiro, que como ex- funcionário da RBS, foi reabilitado midiaticamente, depois de ter sido absolvido pela "Justiça", prática muito corriqueira, pois quem vai para a cadeia são os ladrões pobres. Na última semana foi a vez da Governadora, título aprovado pela câmara de Fingidores, do PT ao PP, por unanimidade. A amnésia coletiva dos nossos edis - DETRAN- CASA NOVA- MORTE DO ASSESSOR EM BRASÍLIA - PROPINA DE CAMPANHA - LAIR FERST- DECLARAÇÔES DO SEU VICE, e outros mais, que não recordo. Sem falar de outros ladinos que receberam este título, mas com menos visibilidade.
A pergunta que fica:
A quem os senhores edis consultaram, para que em nome do POVO ALEGRETENSE, consagrassem o crime organizado?
O pior que na próxima eleição serão os mesmo que comprarão mais um mandato.

José Ernesto Grisa

Porque a democracia é um engodo




A política partidária institucional de hoje cumpre um mero papel de fantoche ou garota de recado das grandes corporações, só se elege (salvo exceções) quem investe muito dinheiro e defende os interesses de quem tem o controle desse dinheiro ou do capital como um todo.

No cenário mundial lideranças que se opõe a essa conduta entreguista vêm sendo assassinadas ou sofrem um golpe planejado e coordenado, em geral, pelos EUA.

Esse país centraliza os maiores conglomerados corporativos (em 2004 das 50 maiores empresas mundiais 48 eram norte-americanas e seus rendimentos eram superiores ao PIB da imensa maioria dos países do mundo).

Irã, Panamá, Bolívia, Chile, Brasil, Argentina são países que da década de 50 até hoje tiveram presidentes mortos ou depostos por não se corromperem. 

O aparato legal, que cabe aos políticos do legislativo construir e ao judiciário aplicar no nosso "estado democrático de direito", é essencialmente simbólico e formal no que tange a execução e garantia de direitos sociais.

Entretanto, é muito eficaz quando o objetivo é garantir a possibilidade de maximização dos lucros das grande empresas através da vinculação dessas com o Estado, pelas parcerias e outros modos de incorporação de dinheiro público. 

Os bancos que criam dinheiro a partir de dívidas e juros são o habitat comum das corporações, pois os donos são os mesmos.

Sabe como funciona a prática? O FMI e o Banco Mundial e suas ramificações políticas constroem situações-limites em países periféricos, os obrigam a pegar empréstimos gigantescos a juros exorbitantes. 


Esse dinheiro do empréstimo, na realidade nunca chega até a população desses países, nem mesmo aos seus gestores. Porque esses são obrigados a contratar empresas capazes de fazer obras de infra-estrutura e reconstruções, de oferecer serviços gerais, e de implantar políticas estruturantes de grande escala.

Que empresas são essas? As grandes multinacionais controladas pelas mesmas corporações que mandam nos grandes bancos que fizeram o empréstimo. Isso mesmo, elas ganham o dinheiro que emprestam e fazem um serviço de baixo custo e desqualificado.

O país periférico contrai uma dívida enorme, impagável e fica política e economicamente dependente do grande banco mundial credor. Então esse banco exige que o país devedor corte gastos sociais, reveja os direitos trabalhistas (planos de carreiras por exemplo), privatize seus serviços básicos e principalmente venda SEUS BENS NATURAIS, que casualmente são comprados pelas mesmas corporações que controlam todo o processo descrito até agora. 

As empresas fizeram os empréstimos, pois são os bancos, usufruíram dele, pois foram contratadas e, por fim, lucram com o endividamento e a pobreza dos países, já que elas compram seus bens e a sua mão de obra a baixo custo. 

Esse processo ocorre a décadas com os países do sul do mundo. 

Essas relações estão na essência do capitalismo ou sistema monetário, são características fundantes desse sistema.

Teoria da conspiração? Não. O mundo não se resume a isso e é claro que as coisas são mais complexas, esse é um exercício de reflexão. Para entender melhor tudo isso assistam Zeitgeist, documentários que indico abaixo.


Zeitgeist é uma palavra alemã que significa "o espírito do tempo" e é título de um filme-documentário e um movimento, deveria ser obrigatório nas escolas e universidades dos nossos dias, trata de vários assuntos como religião, política, economia, poder, cultura, valores entre outros. 

Para assistir já com legendas clique em Zeitgeist o primeiro e o segundo aqui.
A página dos filmes é www.zeitgeistmovie.com

segunda-feira, maio 03, 2010

Abril Vermelho

Por JUREMIR MACHADO DA SILVA

Candoca vive em Palomas. É um ingênuo. Na juventude, leu Voltaire e acreditou que o nariz existe para segurar os óculos. Tem lógica. Candoca é obcecado por radicais. Nesta semana, ele leu na Internet declarações da senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), e de João Pedro Stédile, principal líder do MST. A leitura do que disseram esses dois expoentes da agricultura nacional deixaram Candoca confuso. Stédile defendeu uma mudança no modelo agrícola: quer diminuir o uso de agrotóxicos nas lavouras, limitar o controle das multinacionais sobre a produção agrícola brasileira e associar camponeses e população urbana na construção de uma nova realidade na produção de alimentos. Candoca ficou preocupado. Perdeu o rumo.

Stédile sustentou que três ou quatro megaempresas globais dominam o mercado nacional de sementes, insumos e fertilizantes. Garantiu que elas estimulam os agricultores a usar muito veneno, fazendo do Brasil o maior consumidor do mundo de agrotóxicos, com 720 milhões de litros por ano. Essas empresas, segundo ele, ditam a lei na produção brasileira. Os venenos contaminam o solo e as águas. Sem contar que acabam no estômago de todos nós, especialmente dos mais pobres, que não podem comprar alimentos orgânicos em feiras chiques. Por fim, Stédile explicou que ocupações sempre acontecem quando poucos controlam muitas terras e muitos não possuem terra alguma para explorar. Candoca soltou uma exclamação: "Que sujeito sensato!" Dona Marcolina reagiu: "É um radical".

Perplexo, Candoca foi ler uma entrevista recente da combativa senadora Kátia Abreu. Ela reclama o uso da Força Nacional para evitar novas invasões de terra com o seguinte argumento: "A Força Nacional não tem o hábito de colaborar para evitar o tráfico de drogas, a pirataria e a pedofilia? É a mesma coisa. A Força Nacional vem para trazer paz, e não o conflito". Candoca ficou boquiaberto. Parecia um jundiá recém-pescado. Invadir ou ocupar terras é igual a atos de pedofilia? Intelectualmente limitado, o ingênuo começou a rir. Questionada sobre a importância de se reduzir a desigualdade social, Kátia Abreu declarou: "Nós não temos obrigação. Quem vai querer dividir sua terra? Não somos sócios do programa da reforma agrária". Que coisa, hein? Candoca não compreendeu. Está convencido de que não há expropriações no Brasil e de que as terras são compradas a bom preço pelo Estado para fins de reforma agrária. Pobre do Candoca, sempre tão confuso.

Bobalhão, Candoca acha que um país é como um condomínio: não pode uma família ocupar todos os andares enquanto todos os andares se amontoam embaixo da escada. Ao terminar de ler as declarações de Kátia Abreu, Candoca soltou um urro: "Que mulher radical!". Dona Marcolina tratou de aplicar-lhe um corretivo. "É uma mulher muito sensata", disse. Candoca respeita muito Dona Marcolina. Jamais se atreve a discordar dela. Tratou de mudar de opinião. De fato, concluiu, Stédile é um baita radical. Onde já se viu querer um novo modelo agrícola? Comuna!




Dogs ao som do Cartolas

Esses cachorros são umas figura não da pra ficar um segundo sem cuidar, se não eles aprontam. a música é "onde anda o rock em roll do Cartolas. Olha só http://www.youtube.com/watch?v=hpebCxSv3WE

sábado, maio 01, 2010

Nossos tempos

Ontem fui na caminhada dos trabalhadores do Cpers, do Sindicato dos trabalhadores em Saúde de Poa e de outras organizações sociais. Saímos da frente do Instituto de Educação na Osvaldo Aranha e fomos ao centro, no Palácio, e depois até a Secretaria Municipal de Saúde. Os dois focos principais da passeata era denunciar o desmonte da escola pública estadual promovido pelo corrupto governo de Yeda e cobrar explicações decentes do desvio de verbas da saúde da gestão municipal, também corrupta, de Fogaça. Além, claro, de fazer menção ao dia do trabalhador. O interessante nessas manifestações é prestar atenção na reação das pessoas, são diversas, uns não entendem, outros acham uma vagabundagem e ficam bravos, outros apoiam e são compreensivos. Quando digo que é interessante não é uma coisa positiva, pelo contrário, é triste. Há uma doença social na consciência, ou falta dela, nas pessoas, um descaso sem propósito, uma alienação do cansaço, enfim uma anestesia no pensamento e na ação. É bem nesse sentido:"estesia" é sentir algo, perceber, sensibilidade, "an" é prefixo de negação, esse é o estado de coisas que existe no modo de vida que vivemos hoje. Estesia tem raiz comum com estética que designa a harmonia das belas coisas e a mídia, nossas formações e poderes têm nos negado e camuflado essa duas dimensões fundantes do ser humano; a estesia para ser sensível aos absurdos e injustiças do mundo e a estética para conhecermos e acessarmos melhores produções artísticas, políticas e culturais como um todo.