quarta-feira, junho 17, 2015

Quando o individualismo nos cega: sobre o necessário debate da maioridade penal.

A passionalidade/raiva produzida por uma experiência pessoal ou de um conhecido faz com que as pessoas sejam a favor da redução da maioridade penal. Sintoma clássico de uma sociedade doente. O individualismo exacerbado faz com que nossa visão vá até a imediata ameaça, até o instantâneo evento.

Formamos nossa posição acerca de um tema multidimensional, de interesse coletivo, de impacto universalizante (Lei que atinge todos) com base em fenômenos isolados.

Morro Vermelho (1926) de Lasar Segall.


Os números precisos de delitos cometidos por menores de 16 a 18 anos foram divulgados por Nota Técnica  do Ipea Instituto de Pesquisa​ em 16/06/14. Imputar aos jovens a condenação de serem encarcerados com os adultos é fazer virar regra o anseio punitivo direcionado a exceção.  

Seu filho, neto, sobrinho, vizinho adolescente, os jovens das escolas públicas e privadas que cometerem algum deslize como furto e comercialização de drogas, atividades comuns em sociedade desiguais e proibicionistas, irão parar em cadeias deploráveis que negam a dignidade mínima ao ser humano?

Somente a miopia raivosa e individualista que não enxerga a engrenagem complexa da violência em nossa sociedade pode dar razão a uma ideia como a redução da maioridade penal, tal medida não contem nenhuma garantia de direitos, apenas agudiza a já praticada criminalização da juventude pobre e negra.

Esse assunto merece a exaustão do debate, do estudo, da conversa. É o futuro de gerações que está em jogo e com ele o do país.

Gregório Grisa

segunda-feira, junho 01, 2015

O mito da neutralidade

De coxinha não me chamaram ainda, de Ptralha já. Para uns sou comunista ortodoxo, para outros socialista de boutique. Meio de esquerda meio pelego. Confusões.
Diante dessa variedade taxionômica, seria eu um ser político neutro? Não.
Desconsidero os que se mostram sempre "isentos", "neutros". Assim como faço com os donos da verdade e sectários imutáveis.
Na sanha vã de parecer neutro é que reside a mais radical das definições, a pelo dominante. Em uma sociedade desigual há de se ter lado.
A neutralidade, na ciência ou na política, é uma evidência de fraqueza tão grande quanto a certeza "absoluta".

O trabalhador Fatigado - por Giorgio de Chirico 



Não tomar partido é tomar partido. Max Weber teria dito que "o neutro já optou pelo mais forte".
Professores que tenham posicionamento politico não são necessariamente sonegadores de perspectivas outras, seu papel é também desenvolver senso crítico e não apenas ditar enciclopédias. Já professores que se dizem "neutros" não irão ofertar aos alunos aquilo que consideram "politicagem", irão estigmatizar o "desviante", poucos desses serão lembrados.
A neutralidade pedagógica ou política é a postura que reproduz o status quo, que naturaliza as mazelas social e culturalmente desenvolvidas.
O professor que sofre as agruras da profissão, que experiencia as concretas dificuldades de alunos e colegas, que vive a dor das desigualdades no dia a dia deve ser neutro? A quem isso interessa?
Em um tempo que pede compromisso e mudanças não há espaço para neutralidade.
A censura se diz neutra, os que denunciam "doutrinação de professores esquerdistas" acham que são neutros. Viver a docência em escolas públicas no Brasil e não lutar e não se posicionar é uma contradição pedagógica e política.
As injustiças e desigualdades sociais não serão superadas pelos neutros, pelos que lavam as mãos na mais cômoda das posturas, pois nada é responsabilidade deles e nem será.
A neutralidade é mais um mito que ganhou força real. "Los mitos que se creen tienden a convertirse en realidad." George Orwell.
Os "neutros moderados" de hoje são os que estão instituindo uma vasta pauta de retrocessos: Anti-Reforma Política, Redução da maioridade penal, projeto de "escola sem partido", revisão do estatuto do desarmamento etc...
Curiosamente o grupo político que reivindica a neutralidade é o que acredita que o neoliberalismo é uma saída científica, que a sociedade é um composto de decisões individuais e que o mérito é um critério justo de classificação de status e lugar na pirâmide social.
O bom e aceito valor da neutralidade como justificativa para a manutenção das hierarquias sociais estabelecidas.
Há uma grande confusão no mundo educacional e fora dele, entre objetividade e neutralidade. A primeira é quase sempre recomendável e possível, a segunda é inviável, não há conhecimento sem interesse, sem política.