terça-feira, outubro 22, 2013

Algo mais

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Se amanhã
o nosso amor deitar
distrair, no sono (jogo) de brincar

só nós dois, algo mais
pra se dar, assim, fazer sorrir
mimar também, e minar de bem
o que nos faz tão feliz

sabe lá, o que se passa agora
hoje eu vim pra não saber de fora

só nós dois, algo mais
pra se dar, assim, fazer sorrir
mimar também, e minar de bem
o que nos faz tão feliz

diga que essa moda (onda) de gostar
não vai passar e que se acontecer é só recomeçar

Am - Em - F - C      2x

Am - Em - A7 -       Bm7 - Em - A7+ -F#7 2x

Bm7 - E - C#m7 - F#7

D7+ - E#° - Em - A7 -Bm7 -Em - E7 - F


Gerações

Aquele tempo era a carta, eu sei,
que levava o sentimento pra alguém,
hoje não, ta veloz, as vezes vão.

no teu tempo futebol de botão
era o 'game' feito com a mão, e hoje tem
imagem que vai e vem.

Aquele tempo era vinil a tocar,
era raro artista encontrar e hoje não,
tudo tem, nem sempre bom

no teu tempo foto de revelar,
se escolhia o que registrar, hoje não
pode até postar o chão..

dois tempos pra olhar
dois modos de encarar o presente

dois tempos pra viver
dois modos de entender a gente

Gregório Grisa


domingo, outubro 20, 2013

Fonte, II


No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.

Herberto Helder - poeta português

quarta-feira, outubro 02, 2013

As condições históricas existem

Sabem jovens mais velhos, que passaram dos 55 e 60 anos, estamos em um tempo em que vossas conquistas oferecem à nossa geração a possibilidade e a necessidade de superá-las. Isso é do ciclo da vida, que por vezes se rompe mais brutalmente e em outros casos até se paralisa. Esperar é a arte da nossa raça, relevar e se acostumar são algumas de nossas características, todavia, agir, se revoltar e intervir também são ações que nos constituem. As condições históricas se apresentam e as pessoas escolhem que caminho seguir, meus avós e meus pais tiveram suas condições, a minha geração tem a atual.

A atual condição histórica nos permite dizer basta! É tempo de acabar com absurdos politicamente construídos e economicamente naturalizados. Não há mais espaço para verborragias juridicamente calcadas e para discursos plasticamente bem constituídos, mas pouco dotados de realidade. O malabarismo retórico chegou ao seu limite, com o país em crescimento nada mais justifica a manutenção de salários de fome para os professores brasileiros, serviços de saúde e outros tão mal ofertados.

Nossa geração entende como funciona o poder, como se dão as alianças, as relações público-privadas, as escolhas de gestão e é por isso, não pelo contrário, que não suporta mais tamanhas discrepâncias. Não se pode deixar dormir quem tem a responsabilidade ética de imprimir mudanças reais e estruturais quando as condições históricas existem. É premente que os governantes saibam que somente reclamar das mãos atadas pelo atual sistema e fazer análises teóricas para sustentar essas queixas, não é o suficiente. É necessário coragem de romper com a lógica vigente, a vida demora pouco, a qualidade da vida dos muitos que a vivem em um sopro, sem desenvolver minimamente suas capacidades, depende dessa coragem.

Há um conjunto de meios, métodos e estratégias para exigir que as mudanças aconteçam, nossa geração está experimentando, aprendendo a voar no voo mesmo, indo à rua, fazendo barulho, se organizando, estudando, produzindo, se comunicando, amadurecendo de acordo com seus acessos e vivências. Hão-de existir erros, excessos e medos, como se verá coragem, criatividade e acertos.

O que tem de ficar claro é que em outras épocas as condições históricas impunham cuidados e as esperanças murchavam diante da alienação, da desinformação, da dificuldade de se entender as instituições públicas e da morosidade com que se previa algum processo de mudança. Agora não há tempo a perder, a vida é mais urgente, o tempo passa mais rápido hoje, uma ponta da corda está quase encostando na outra. Nossa geração ta entendendo que os meios estão disponíveis para que as transformações aconteçam com mais velocidade, para que a democracia dê um salto qualitativo maior do que propriamente nascer, como ocorreu na geração de vocês.

Os jovens mais velhos, que passaram dos 55 e 60 anos, minimamente progressistas que estão no poder político, irão morrer logo, daqui a algumas décadas no máximo. Eles têm a chance de iniciar uma mudança rumo à racionalidade da gestão da coisa pública, sem isso, seus legados serão pueris, menores do que poderiam ser.
Outros países, onde a tendência política de gestão é até difícil diagnosticar, pela capacidade de organização e adoção de simples critérios para priorizar o que deve ser feito, conseguem encontrar alternativas que não se enredam em alianças espúrias nem são reféns do capital financeiro.
Criatividade baseada na ciência, na escolha técnica e humana, combinada com a democratização das esferas, não para dialogar com quem pensa parecido, mas com quem vive a realidade da área ou da instância afetada. Dados numéricos dizem pouco quando não se convertem em melhoria da vida das pessoas, dizer que tal órgão, instituição ou área está melhor quantitativamente sem verificar que sentido tem isso pra quem vive nela é estéril. Pessoas não são números. 
Minha geração quer viver outra gramática das relações sociais e pra isso precisa agir, como está fazendo em muitos lugares do Brasil. Mudanças mais rápidas são possíveis, e é na disputa pela direção que elas devem ter que a ação está se dando. Como um artesanato de sentido que não se pretende tão eloquente e cauteloso, mas mais práticos e vivo, a juventude exige mais com toda ansiedade e energia que lhe caracteriza. 

Gregório Grisa