segunda-feira, julho 25, 2011

Saudade

“Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já…
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida…
Saudade é sentir que existe o que não existe mais…
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam…
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.”

Pablo Neruda

sexta-feira, julho 22, 2011

Uma festa de R$ 30 milhões bancada com dinheiro público

Globo recebe R$ 30 milhões de governo e prefeitura do Rio para organizar festa da Fifa

Vinícius Segalla*
Em São Paulo

do UOL, sugerido pelo Marcelo Salles

A Geo Eventos, empresa de eventos das Organizações Globo e do Grupo RBS, vai receber R$ 30 milhões do governo estadual e da prefeitura do Rio de Janeiro para organizar o evento em que será realizado o sorteio preliminar das eliminatórias da Copa do Mundo de 2014, o chamado “Preliminary Draw”.

A empresa foi contratada em regime de exclusividade pelo Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014 para produzir e captar patrocínios para a cerimônia. O sorteio acontecerá no dia 30 de julho, às 15h, na Marina da Glória (zona Sul do Rio), e será transmitido ao vivo para cerca de 200 países. Porém, a partir desta terça-feira, a Fifa promoverá uma série de atividades em uma espécie de “aquecimento” para o grande evento de sábado.

Vencedora da disputa promovida pelo COL, a Geo Eventos foi ao mercado à caça de patrocinadores para bancar a festa. Encontrou apenas dois: a prefeitura do Rio e o governo estadual. Cada um assinou um contrato de patrocínio, publicado nos diários oficiais do município e do Estado, no valor de R$ 15 milhões cada. A quantia teria sido acertada entre a Geo Eventos e as autoridades públicas, baseando-se, de acordo com a empresa das Organizações Globo, “em negociações e custos de mercado”.

O valor pago a título de patrocínio pelos governos municipal e estadual servirão também para remunerar a Geo Eventos, que apresentou aos dois patrocinadores uma planilha de custos em que estava incluída a sua remuneração. Ou seja, a Fifa, que é a dona da festa, não investirá qualquer quantia no evento, que será feito pela Globo e pago integralmente com recursos públicos.

A Fifa e o governo do Rio foram procurados pelo UOL Esporte, mas não se pronunciaram sobre o assunto até a publicação desta reportagem. Já a prefeitura municipal afirmou, em nota, que o patrocínio é justificável, uma vez que “o sorteio das eliminatórias é o primeiro grande acontecimento da Copa do Mundo de 2014, com uma semana de eventos e a presença de cerca de 600 jornalistas de todo o mundo. Como o sorteio será transmitido pela mídia internacional, haverá maciça divulgação da cidade, atraindo mais turistas e investimentos”.

De acordo com a Geo Eventos, a contrapartida que os executivos municipal e estadual receberão é a colocação de banners e materiais com a “marca Rio de Janeiro” no cenário da festa, “além de receber na cidade um evento com visibilidade mundial”.

Já os 17 patrocinadores oficiais da Copa do Mundo, que pagam até R$ 150 milhões anuais à Fifa, têm o direito de usar qualquer cerimônia relacionada ao torneio para ações de marketing. Para isso, no entanto, os parceiros ficam à mercê dos desmandos da entidade máxima do futebol, que proíbe a divulgação de qualquer detalhe relacionado ao seu evento.

Nos bastidores, alguns patrocinadores reclamaram dessa postura adotada pela responsável pelo futebol mundial. As empresas entendem que, por terem desembolsado uma alta quantia por uma das cotas, elas deveriam poder adotar a estratégia de comunicação que lhes fosse conveniente, e não atender passivamente às ordens da Fifa. Pelo menos dois parceiros da entidade consultados pelo UOL Esporte confirmaram as dificuldades.

O sorteio das eliminatórias será o primeiro evento da Copa realizado em solo brasileiro. A cerimônia será conduzida por jogadores de diferentes gerações do futebol brasileiro, todos escolhidos e contratados pela Geo Eventos: Neymar, Cafu, Zico, Lucas, Zagallo, Fellipe Bastos, Lucas Piazón, Ronaldo, Adryan e Bebeto. A programação artística inclui uma homenagem a Tom Jobim, com a execução de “The Girl of Ipanema”, versão em inglês do célebre sucesso de Tom e Vinícius de Moraes.

* Colaborou Thales Calipo

segunda-feira, julho 18, 2011

As memórias de Gregório Bezerra


Em Memórias, o líder comunista repassa sua impressionante trajetória de vida e resgata um período rico da história política brasileira. O depoimento abrange o período entre seu nascimento (1900) até a libertação da prisão em troca do embaixador americano sequestrado, em 1969, e termina com sua chegada à União Soviética, onde permaneceria até a Anistia, em 1979. No exílio começou a escrever sua autobiografia. Analfabeto até os 25 anos de idade e militante desde as primeiras movimentações de trabalhadores influenciados pela Revolução Russa de 1917, Bezerra teve papel de destaque em importantes momentos políticos da esquerda brasileira.

Mais de trinta anos após a publicação das Memórias (1979), de Gregório Bezerra, o lendário ícone da resistência à ditadura militar é homenageado com o lançamento de sua autobiografia pela Boitempo Editorial, acrescida de fotografias e textos inéditos, e em um único volume. O livro conta com a contribuição decisiva de Jurandir Bezerra, filho de Gregório, que conservou a memória de seu pai; da historiadora Anita Prestes, filha de Olga Benário e Luiz Carlos Prestes, que assina a apresentação da nova edição; de Ferreira Gullar na quarta capa; e de Roberto Arrais no texto de orelha. Há também a inclusão de depoimentos de Oscar Niemeyer, Ziraldo, da adovogada Mércia Albuquerque e do governador de Pernambuco (e neto de Miguel Arrais) Eduardo Campos, entre muitos outros.


Em Memórias, o líder comunista repassa sua impressionante trajetória de vida e resgata um período rico da história política brasileira. O depoimento abrange o período entre seu nascimento (1900) até a libertação da prisão em troca do embaixador americano sequestrado, em 1969, e termina com sua chegada à União Soviética, onde permaneceria até a Anistia, em 1979. No exílio começou a escrever sua autobiografia.Nascido em Panelas, no Agreste pernambucano, a 180 km de Recife, Gregório era filho de camponeses pobres, que perdeu ainda na infância, e com cinco anos de idade já trabalhava com a enxada na lavoura de cana-de-açúcar. Analfabeto até os 25 anos de idade e militante desde as primeiras movimentações de trabalhadores influenciados pela Revolução Russa de 1917, Bezerra teve papel de destaque em importantes momentos políticos da esquerda brasileira, e por conta disso totalizou 23 anos de cárcere em diversos presídios e épocas. Foi deputado federal (o mais votado em 1946) pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), ferrenho combatente do regime militar, e por essa razão protagonizou uma das cenas mais brutais da recém-instalada ditadura pós-golpe de 1964: capturado, foi arrastado por seus algozes pelas ruas do Recife, com as imagens tendo sido veiculadas pela TV no então Repórter Esso. A selvageria causou tamanha comoção que os registros da tortura jamais foram encontrados nos arquivos do exército. Apesar da dura realidade, Gregório jamais cultivou o ódio ou o rancor. Era por todos considerado um homem doce, generoso. Não foi um homem de letras, mas um grande observador e um brilhante contador de histórias. Assim é que suas páginas são narradas, sem afetações ou hipocrisia, passando pelo interior da mata e do agreste nos tempos de estiagem e seca, pelo Recife, o exílio na União Soviética, a militância no PCB. Dizia ele: “Não luto contra pessoas, luto contra o sistema que explora e esmaga a maioria do povo”. Em 1983, o Brasil perdeu este que foi um de seus grandes defensores. Para sorte dos que estavam por vir, porém, ele deixou suas memórias recheadas de verdades e esperanças e que, acima de tudo, representam a história de muitos outros “Gregórios” que transformaram o seu destino na luta para transformar a realidade instituída.

Trechos do livro“Foi o Natal mais farto e rico de alegria a que assisti durante os nove anos e dez meses de minha vida. Além disso, ganhei dois metros de algodãozinho para fazer duas camisas, porque só tinha uma e velha, que já estava virando farrapo. Aproveitei a cumplicidade de vovó e pedi-lhe que me fizesse uma camisa e uma calça, em vez de duas camisas. A velha topou as minhas antigas pretensões. Entretanto a costureira, que foi a minha tia Guilhermina, em vez de me fazer uma calça, fez uma ceroula grande, de amarrar acima do tornozelo. Deram-me para vestir. Achei bonita e até mais bonita do que uma calça, porque me fez lembrar do meu falecido avô, que, quando vivo, somente vestia ceroulas compridas amarradas no tornozelo. Calça só vestia quando ia à feira ou em visita aos domingos. Afinal, todos aprovaram a ceroula, menos minha irmã Isabel. Ganhei a “batalha” de anos atrás, quando pleiteei uma calça no sítio Goiabeira. Era feliz, agora, e me sentia homem.

O Natal e Ano-Novo serviram para minhas exibições de ceroulas compridas e camisa fora da calça.”“Voltei à rua, tentando ver se alguns operários haviam chegado. Não havia ninguém. Fiz um ligeiro comício para os pequenos grupos que se aglomeravam nas sacadas dos prédios vizinhos, concitando-os a pegar em armas, sob o comando do camarada Luiz Carlos Prestes. Fui aplaudido das varandas por alguns estudantes que ali moravam. Mas o apoio, infelizmente, não passou dos aplausos. Um oficial tentou prender-me, pedindo-me que, pelo amor de Deus, eu me rendesse. Ao chegar a dez metros de mim, apontei-lhe o fuzil e o fiz recuar. Vinha chegando um sargento radiotelegrafista que, de longe, perguntou-me o que havia. Respondi-lhe que, se quisesse lutar pela Aliança Nacional Libertadora, tinha um lugar a sua disposição; se não, caísse fora enquanto era tempo.”


terça-feira, julho 12, 2011

Quem autorizou?

Por Luis Fernando Verissimo

Nos países em que as eleições são sempre plebiscitárias, vota-se em tudo, até em normas para se recolher o cocô do cachorro nas calçadas. Li, certa vez, que num desses países – acho que era a Noruega – não era incomum um eleitor ficar até meia hora na cabine eleitoral, marcando numa célula tamanho ofício suas opções, não só entre candidatos para representá-lo, mas entre grandes e pequenas questões da vida comunitária, como usinas nucleares, sim ou não? Ou: cocô na calçada, quem é o responsável?

Pensei nesse eleitor e no seu poder de escolha lendo as notícias sobre as lambanças no nosso Ministério dos Transportes. Não podemos querer imitar os escandinavos e trocar nossas maquininhas de votar ligeiro por plebiscitos demorados, certo. Mas quando foi que nos perguntaram se concordávamos que o Ministério do Transportes fosse doado ao PR?

Quem autorizou o feudo com seu voto? Quem, entre os eleitores, sabia da cláusula de exclusividade do acordo com o PR, quem aprovou a troca de um ministério, e um ministério cheio de dinheiro, por votos no Congresso? E logo com o PR, um partido que – pelo que se sabe – não representa nada a não ser sua própria gana?

Claro, ao apertar os botões da maquininha de votar, o eleitor está dando aos candidatos da sua escolha o direito de fazer o que for necessário para governar, inclusive barganhas – ou alianças, que fica mais bonito. Está votando implicitamente em tudo que imagina que os candidatos pensem e pretendem.

Quem votou em Dilma ou no PT na maquininha fez, de certa forma, todas as opções que encontraria numa cédula plebiscitária, inclusive sobre como dispor do cocô de cachorro, para insistir na metáfora nojenta. O acordo com o PR foi feito pelo Lula, decepcionando quem esperava que esse tipo de aliança o PT nunca fizesse.

Mas a Dilma presidente também foi feita pelo Lula, que certamente sabia das suas implicâncias e da sua determinação. Dilma, desfazendo o acordo, estará redimindo Lula e o PT dos seus pecados por associação.

terça-feira, julho 05, 2011

15 milhões de pessoas correm risco de fome na Europa

Um regulamento aprovado pela Comissão Europeia corta 80% da ajuda alimentar para os pobres. A Federação Europeia dos Bancos Alimentares apela ao Conselho Europeu. Apelo foi apoiado por Conselho Internacional Geral de São Vicente de Paulo, Comunidade de Santo Egídio e Caritas Italiana. De acordo com as estatísticas europeias, 43 milhões de pessoas estão em risco de pobreza alimentar, ou seja não podem pagar uma refeição adequada a cada dois dias.

A Comissão Europeia aprovou no dia 10 de junho o Regulamento 562/2011, que reduz o programa europeu de ajuda alimentar de 500 milhões de euros para 113 milhões, um corte de 77,4%. A Federação Europeia dos Bancos Alimentares (FEBA) lançou um apelo ao Conselho Europeu de ministros da Agricultura a que chegue a um acordo sobre novas formas de financiamento.

Segundo a FEBA, em 2010 a sua rede “cobriu 40% dos alimentos fornecidos pelo Programa Europeu. Os 240 bancos alimentares distribuíram 360 mil toneladas de alimentos para associações caritativas e serviços sociais em 21 países europeus. Por sua vez, as organizações de caridade distribuíram alimentos para pessoas indigentes, tais como pacotes ou refeições. 51% desses suprimentos vieram do Programa Europeu, a outra parte de doações de empresas e colectas locais. Se nada for feito, esta decisão levará a uma grave crise”.

A FEBA lembra em comunicado que, de acordo com as estatísticas europeias, 43 milhões de pessoas estão em risco de pobreza alimentar, ou seja não podem pagar uma refeição adequada a cada dois dias.

A FEBA salientando que “o alimento é a base da vida e é um direito humano fundamental”, refere que “a aplicação desta decisão poderá reforçar a percepção de uma Europa tecnocrática que não se preocupa com o destino das pessoas”.


Fonte: Carta maior