quinta-feira, abril 30, 2015

“Entre as Orelhas – Histórias de Parto” de Ricardo Jones


Em função da vinda da Lina, eu e Mariana buscamos pensar sobre tudo que envolve a vinda de um novo ser humano, para isso estudamos, pesquisamos. Nessa busca tivemos acesso a esse livro, como gostamos muito da leitura e o autor acompanhou parte do parto da Lina, acabei pedindo a ele que me enviasse a apresentação do livro no formato digital para divulgar a fim de incentivar que mais pessoas leiam todo o trabalho. Abaixo segue essa apresentação, uma prazerosa e importante leitura. 

Por Ricardo Jones 

A obstetrícia se abriu como oportunidade para mim em meio à nebulosidade obscura da escola médica. Nessa época, eu cursava o terceiro ano de medi­cina na Universidade Federal e a possibilidade de assistir à “medicina de ver­dade” era quase inexistente. Estávamos inseridos ainda nas cadeiras básicas, sem uma janela aberta para a patologia inserida no sujeito. 

Tudo era “virtual”. As pneumonias eram fotos de cortes histológicos em livros, os partos eram tão somente descrições de planos e rotações. Alguns fatos marcantes, entretanto, marcaram de forma indelével a minha trajetória. O primeiro foi o nascimento de meus filhos, Lucas e Bebel. As circunstâncias desses partos hospitalares, com toda a carga de agressividade e despersonalização, foram um choque de gran­des proporções. Aliado a isso, pela primeira vez eu conseguia perceber a mag­nitude da capacidade feminina de suplantar obstáculos e adversidades. 

O nas­cimento era um evento épico! O segundo evento fundamental para a minha escolha pela obstetrícia foi o período em que trabalhei como “interno” em um serviço público de obstetrícia. Nesse período de formação médica, eu fazia plantões em um hospital de periferia, onde os obstetras permitiam que os estu­dantes praticassem na sua ausência. Minhas primeiras experiências como cui­dador foram com as pacientes pobres do serviço público deste hospital. Lá eu pude enxergar de forma muito clara como o sistema médico traduz e decodifica o fenômeno do nascimento. 

A matriz cultural valorativa sobre a mulher, a vida, o dinheiro e o poder apareceram brutalmente à minha frente quando eu ainda era um menino, e esta violência acabou por determinar todo o meu futuro pro­fissional. Claro que as razões menos objetivas responsáveis pela minha esco­lha são da ordem do inconsciente. Porém, por sobre essa base, esses fatos marcantes acabaram por me jogar no universo complexo do feminino.

Minha formação em obstetrícia foi o que se pode chamar de “clássica”. O mo­delo era construído a partir de uma visão vertical de “evolução científica”. En­tendia-se a moderna obstetrícia como o ápice de uma edificação sólida cujas bases eram afixadas sobre o obscurantismo e a magia, e o céu acima de nós era constituído pela ciência e pelo conhecimento. Em nenhum momento do meu aprendizado na faculdade, mencionava-se a possibilidade de um modelo de assistência ao nascimento que não fosse centrado na figura do médico, no combate às doenças e na centralização das ações no hospital. 

Essa forma de entender o fenômeno do nascimento eu chamava de modelo “iatrocêntrico”, “etiocêntrico” e “hospitalocêntrico”, respectivamente centradas no médico, na enfermidade e no hospital. Para entender formas alternativas, ou modelos con­correntes de assistência, era necessário abandonar o edifício e suas verticali­dades e imagi­nar formas horizontais de disputa entre os modelos. Nesse as­pecto, a forma­ção médica era extremamente falha: não havia (pelo menos há 25 anos) uma compreensão mais abrangente dos paradigmas em choque, como brilhante­mente nos revelou o físico americano Thomas Kuhn. Para mim, absolutamente inquieto com o que percebia de imperfeito na atenção ao parto, a visão dessa ideia foi clarificadora. 

A medicina contemporânea, mormente nos aspectos re­lacionados à assistência ao parto, era apenas o modelo dominante, o para­digma hegemônico, e não a soma de todas as verdades! Havia propos­tas al­ternativas minoritárias que não podiam ser desveladas em função de inte­resses outros, de origem econômica, finan­ceira e profissional. A escola médica agia na manutenção, proteção e dis­semi­nação de um modelo que claramente a benefi­ciava, mas que não era ne­cessa­riamente o único existente. Para produzir uma visão mais justa e pano­râmica de minha atuação, era fundamental colocar toda a minha formação como “rela­tiva”, como uma “importante parte do todo”, mas não a verdade ab­soluta e der­radeira. Era preciso abandonar a criação to­têmica e mitológica do saber mé­dico e assumir uma visão mais plural e cen­trada nas necessidades da mulher. Fazer isso, mesmo que secretamente em meus pen­samentos, já era, por si só, uma heresia.

A verdade é que os acontecimentos que precipitaram a minha opção pela obs­tetrícia foram os partos de meus dois filhos: Lucas, ocorrido quando não eu contava mais de 21 anos de idade, e Bebel, que nasceu 12 dias antes de mi­nha ceri­mônia de formatura. Entrei na residência médica com dois filhos nasci­dos de parto normal, tendo passado por uma experiência poderosa de amadu­reci­mento. Obtive autorização para assistir a ambos os partos apenas por ser estu­dante de medicina, mas tal concessão me abriu as portas para uma nova reali­dade. Pude perceber a violência institucional velada, que se expressa atra­vés dos pequenos detalhes. Frases, expressões, normas, proibições eram consti­tuintes da arquitetura de um sistema assimétrico e agressivo. Pude tes­temu­nhar as formas insidiosas de desqualificação das mulheres e a visão de­precia­tiva que cultivamos sobre suas capacidades de gestar e parir. No nasci­mento de meus filhos, pude constatar, pela primeira vez, a misoginia essencial que comanda o proceder obstétrico, que se expressa pela compreensão defec­tiva da maternidade. E esta foi uma experiência fundamental.

Além do choque estético e conceitual do nascimento de meus filhos e a minha experiência na grande escola obstétrica da periferia, outro evento marcante a produzir um terremoto em minhas convicções foi um nasci­mento de emergência na sala de exames do hospital de clínicas, onde fazia a minha for­mação como residente. Esse evento foi descrito no meu livro anterior, Memó­rias do Homem de Vidro – Reminiscências de um Obstetra Humanista. Nesse parto, os singulares acontecimentos que o caracterizaram produziram uma mu­dança paradigmática de proporções imprevisíveis. 

A rapidez do nascimento deu oportunidade para que eles fossem ditados pelo automatismo irreflexivo, o que desnudava, de alguma forma, os códigos valorativos que eu acalentava inconscientemente. Diante da insensatez de minhas atitudes, da grosseria de minhas palavras, da violência de meus procedimentos e da gravidade de mi­nhas ações, minha reação foi — inicialmente — a estupefação e o espanto. Algum tempo depois, quando uma auxiliar de limpeza me perguntou: O que teria acontecido se o senhor não tivesse chegado a tempo para o parto?, é que me dei conta de que a melhor resposta para essa pergunta seria: o parto teria sido muito melhor. 

A partir de então, minha condição era tão somente de ver­gonha. Diante disso, só me restavam duas alternativas: abandonar o trabalho com as mulheres e gestantes, ou mudar radicalmente a forma de agir com rela­ção a elas. Re­solvi escolher a segunda alternativa, mesmo sabendo que tal escolha me leva­ria a ser desprezado por muitos colegas e incompreendido por ou­tros.

Durante os 12 anos seguintes ao evento na sala de emergência, não obtive apoio de outros profissionais ligados ao parto e ao nascimento. Somente no primeiro congresso de Parto Humanizado que compareci, no Rio de Janeiro em 1998, é que fui conhecer colegas que pensavam de forma se­melhante. Durante essa década de reclusão, minhas únicas fontes de informa­ção eram os livros de mé­dicos que se tornariam mestres para a minha forma­ção de obstetra hu­manista, entre eles Moyses Paciornik, Michel Odent e Mars­den Wagner. 

A par­tir desse encontro no Rio de Janeiro, além dos colegas mé­dicos, encontrei uma gama enorme de profissionais de outras áreas que parti­cipavam da construção de um novo modelo baseado na interdisciplinaridade. Nos primeiros congres­sos, conheci doulas, fisiotera­peutas, enfermeiras, obste­trizes e psicólogas que me mostraram, de forma ine­quívoca, que os partos não eram de uma só corpo­ração, mas que pertenciam às mulheres, cabendo a to­dos a possibilidade de auxiliá-las em conjunto e em harmonia.

A partir da experiência de participar de um congresso de humanização do nas­cimento, no final dos anos 90, tomei conhecimento de uma rede nacional vol­tada para o debate, o intercâmbio de informações e a construção de alternati­vas ao modelo obstétrico contemporâneo. Essa rede, formada por cidadãos comuns, médicos obstetras, epidemiologistas, pediatras, clínicos, fonoaudiólo­gos, psicólogos, enfermeiras, doulas e outros profissionais ligados ao parto, havia sido criada em 1993, através de um documento chamado de “Carta de Campinas”, onde estavam alinhavadas as diretrizes para uma revolução na atenção obstétrica no Brasil. Essa organização chama-se ReHuNa – Rede pela Humanização do Parto e Nascimento – e hoje se consolida como o principal interlocutor da sociedade civil para a humanização do parto e nascimento. Mi­nha vinculação com esse movimento, e com a ReHuNa foi imediata, tendo in­clusive assumido a sua coordenação nacional por um breve período de tempo. 

Nos últimos 12 anos a ReHuNa esteve presente em todas as minhas palestras e em todos os meus pronunciamentos. Para mim não existe debate sobre as teses da humanização do nascimento sem que a ReHuNa seja ouvida e consi­derada. Ela é uma construção coletiva de um grupo de apaixonados e lutado­res em nome da dignificação do parto e da mulher.

Depois de algum tempo, acabei me envolvendo em um esforço mundial pela hu­manização do nascimento através da International Motherbaby Child­birth Initiative (IMBCI). Fora do Brasil, acabei encon­trando figuras extremamente impor­tantes na minha trajetória. A mais impor­tante e significativa delas foi a antro­póloga americana Robbie Davis-Floyd, de quem me tornei grande amigo e com quem aprendi os mais importantes ensi­namentos sobre a mitologia que cerca o nas­cimento humano, assim como os valores in­conscientes que regu­lam e contro­lam esse evento. A lista de outros profissio­nais fundamentais na minha cami­nhada seria longa demais, e me custaria o risco de esquecer al­guém; por essa razão, prefiro não citá-los nomi­nalmente e deixo minha amiga Robbie como exemplo de que as lutas tam­bém são feitas através de laços de amizade, com­panheirismo e confiança.

Muitos foram os entraves que encontrei durante esta trajetória, mas nunca me queixei disso. Não há como questionar os poderes constituídos sobre o saber médico sem que haja uma reação violenta. O maior problema que ainda en­contro é a forma preconceituosa com que a obstetrícia “oficial” en­cara qualquer projeto que questione a preponderância médica nas ações de sa­úde. O parto domiciliar planejado, as Casas de Parto e a atenção prestada pe­las obstetrizes (parteiras profissionais) são as maiores dificuldades. Compreensi­vamente, es­ses pontos serão dificilmente aceitos por aqueles que possuem po­deres autori­tati­vos relacionados ao nascimento.

As evidências científicas que respaldam todas essas escolhas são insuficientes, em uma primeira etapa, para produzir uma aceitação. Entretanto, em longo prazo, vão produzindo um enfra­queci­mento insidioso dos preconceitos que sustentavam tal rechaço. Minha espe­rança é que o tempo será o Senhor da Verdade e que uma atenção mais digna ao nas­cimento prevalecerá. “Humanizar o nascimento é restituir o prota­go­nismo à mulher”, e sem essa conquista nenhum avanço será significativo.

A forma de lidar com os inevitáveis ataques que chegam dos setores mais con­servadores da medicina é estar constantemente preparado para o confronto. Por essa razão, as discussões no terreno do nas­cimento humano só podem acontecer na arena da Medicina Baseada em Evidências (MBE). Sem o res­paldo das evidências, todo o debate se torna subje­tivo, pessoal e estéril. É por isso que as pessoas que desejam debater ho­nesta­mente esses assuntos de­vem estar preparadas para o enfoque utilizando as evidências atuais, e não experiências pessoais e pre­conceitos.

O convívio com as mulheres me ofereceu uma das maiores experiências que o ser humano pode encarar: o encontro com a diversidade. O fato de as mulhe­res serem matrizes, carregarem no ventre a nossa esperança de imortalidade, enfrentarem as dificuldades e fragilidades da gestação e do parto e serem res­ponsáveis diretas pelos cuidados com seus bebês, lhes oferece uma perspec­tiva absolutamente diversa da vida, radicalmente diferente daquela que um homem pode experimentar. 

O mundo feminino é, para nós homens, um misté­rio inquestionável e insondável. Costumo dizer que a gestação é algo que ig­noro por com­pleto, pois apenas a vivência desse fenômeno pode oferecer uma compreen­são mini­mamente satisfatória. Entretanto, meu convívio com as tan­tas mulhe­res que povoaram minha vida, como minha mãe, irmã, esposa, filha, cunhadas, amigas e pacientes, oportunizou um mergulho no universo de suas paixões, dores, ideias e amores. Tornei-me paulatinamente um apaixonado pelo feminino, pois para mim ele simboliza a ca­pacidade de extrapolar os limi­tes da própria epiderme e viver o amor como algo visceral. Sua ligação com as crias e seu amor incondicional por elas me oferecem uma visão criativa do uni­verso e a maneira como se organizou nossa espécie. Às mulheres eu devo tudo o que sei.

Por outro lado, a mulher é vista pela escola médica como um ser defectivo e cuja “produção” é o resultado de uma série de equívocos não resolvidos. Para a visão médica contemporânea, o corpo biológico da mulher é defei­tuoso in essentia. Todos os eventos fisiológicos da vida feminina — que são o diferen­cial com o padrão masculino — são vistos pela cultura como patologias que necessitam de tratamento médico. Assim, o ciclo grávido-puerperal — ges­ta­ção, parto e puerpério — é visto como uma enfermidade, cuja solução é drogal e cirúrgica. A menstruação não é vista como uma renovação cíclica, mas como uma “sangria inútil”, levando-se ao extremo a visão positivista e biologicista da medicina. 

A menopausa, outro evento programado na fisiologia feminina, é visto como uma fase de “perdas”, de “falhas”, e a solução para tal “falência” é a adição perigosa de substâncias químicas que objetivam reverter o envelheci­mento e a decrepitude. Mesmo quando essas experiências se mostraram tragi­camente frustradas, como a hormonioterapia da menopausa, que se provou falha em seus propósitos principais, estamos muito longe de reavaliar nossos conceitos sobre a mulher, pois isso significaria imaginar uma cultura cujas rela­ções de poder entre os sexos seria diferente e, portanto, imprevisível.

Apesar dos ataques e das calúnias que muitas vezes recebi, acredito na ho­nestidade desses postulados, pois se baseiam em uma forma fraterna e solidá­ria de entender o mundo, que valoriza o empoderamento, a autono­mia e a liber­dade das mulheres de escolher seu destino e a forma de parir seus filhos. Sempre lutei para que as teses da humanização do nascimento não se tornas­sem um “catecismo” ou uma “fórmula mágica”, pois isso significaria a cristaliza­ção e a morte de um movimento de ideias. Nossa proposta passa por uma crí­tica cons­tante ao tecnicismo despersonalizante e uma abertura às novas des­cobertas científicas, a fim de evitar o enve­lhe­cimento de nossos ideais.

“A Humanização do Nascimento vem trazer a síntese en­tre as conquistas recentes da ciência, que nos oferecem segu­rança, com as forças evolutivas e adaptativas dos milênios que nos antecede­ram. Esta releitura do nasci­mento humano se faz necessária para acomodar as ne­cessidades afeti­vas, psicológicas e espirituais das mulhe­res e seus filhos com as conquistas que o conhecimento nos trouxe através da aquisição cres­cente de tecnologia.”

A partir dessa constatação, é impossível ficar passivo di­ante da necessidade de acomodar de forma adequada uma abordagem mais humana, sem precon­ceitos e cientificamente embasada na atenção ao parto.

Muitas pessoas me pedem para que eu diga algo para os novos médicos, para aqueles que estão iniciando na carreira da obstetrícia, e que terão diante de si a tarefa de auxiliar no momento mágico do nascimento. Não sou muito bom em dar conselhos, até porque eles geralmente desconside­ram a dinâmica pessoal de quem os escuta, e apenas refletem as fantasias e dificuldades de quem os pronuncia. Apesar disso, escrevi um texto neste livro chamado “Carta para uma jo­vem obstetra”, direcionado à filha recém-formada do meu “colega” Max, onde tento mostrar o caminho árduo que ela terá pela frente. Sei que meu espec­tro de ação é limitado, porque cada um faz seu pró­prio caminho a partir de sua história. Se me dessem conselhos sobre partos humanizados no meio da mi­nha formação médica, eu provavelmente não os escutaria; ainda estaria fe­chado à visão humanizante do nascimento. 

Para po­der per­ceber outra reali­dade, fui obrigado a percorrer o caminho lento e espinhoso do ama­dureci­mento. A aber­tura desta porta só se faz por dentro. Como nos dizia La­can a respeito dos psi­cana­listas, a maior virtude de um obstetra também é a “idade”. Sem ter trilhado o “vale das sombras”, ter enfrentado a morte e suas dores ou ter se en­cantado com a vida sem cair na tentação de banalizá-la, como poderia um obste­tra en­tender o que se passa no momento de um parto? Somos os convi­dados mais privilegiados no espetáculo da Vida, aqueles a quem o criador co­locou na tri­buna de honra. 

Temos o panorama mais claro do mistério que se esconde por detrás do meramente manifesto; o enigma que se expressa atra­vés da che­gada de um bebê ao mundo. Entre­tanto, somente po­dem enxergar aqueles que assim o desejam: os que lutam contra a sedução das certezas e que se con­vencem de que as dúvidas são em verdade amigas dissimuladas, que nos es­timulam a crescer. Meu conselho aos jovens parteiros seria, se as­sim pudesse fazê-lo, que jamais es­quecessem a chama de humanidade que cada um de nós carrega no peito. É fundamental mantê-la acesa, para que ela nos lembre eternamente das razões que nos moti­varam a cuidar das mulheres e seus filhos.

Para as mulheres, a quem dedico este livro, espero que sejam donas de suas próprias vidas e de seus corpos. Lutem contra a expropriação indevida de seus partos e seus bebês. Jamais deixem de escutar seus instintos de mãe. Sejam carinhosas e nunca esqueçam de que vieram ao mundo com a tarefa de cuidar e acalentar. Sua maior função neste mundo é ensinar o amor, e sem esse en­sinamento não passamos de bestas sem destino. Sejam condescendentes e não tentem imitar os homens em suas fraquezas e futilidades. Sejam vocês mes­mas, com seus desejos, suas dúvidas, seu carinho e seu amor. 

Não ten­tem ser o que não são. Fujam da “igualdade” e aproximem-se do respeito mú­tuo às di­ferenças. Somos distintos, mas ocupamos o mesmo mundo, onde de­vemos res­peitar uns aos outros em seus direitos. Não esqueçam jamais de amar os seus homens, porque esse amor é a maior vitória que podemos cons­truir na vida. Somos “caminhantes dos milênios”, e nossa vestimenta — mas­culina ou feminina — é apenas um envoltório passageiro, mas que nos oportu­niza um aprendizado inquestionável. E, por fim, amem seus filhos e façam de­les cida­dãos de verdade, para quem a fraternidade será um traço inconfundível e a liber­dade uma tatuagem permanente marcada em suas peles.

A construção milenar do parto humano é algo que se processa entre as ore­lhas. É ali, nas dobras e circunvoluções encefálicas, no emaranhado de sinap­ses, nos pontos de confluência, que o nascimento se processa. Ou, se quise­rem, é nesse ambiente secreto, onde moram os medos, as alegrias, as paixões e o amor, onde a alma se encaixa no corpo formando uma unidade que só a morte des­faz.

sexta-feira, abril 17, 2015

Porque a redução da maioridade penal é uma falásia


O aumento da criminalidade no Brasil mereceu de parte de nossos políticos e da opinião pública, influenciada pelo massacre mediático, uma resposta imediata :
“-Temos que diminuir a maioridade penal para 16 anos.”
Esta resposta levou o presidente da Câmara, , a dar andamento a PEC 171/93 que reduz a maioridade penal para 16 anos, como se fora uma panacéia para a violência, sem apoio na realidade .
A verdade é que: 
1) A violência não pode ser atribuída aos adolescentes.
A Secretaria Nacional de Segurança Pública estima que os menores de 16 a 18 anos – são responsáveis por 0,9% do total dos crimes praticados no Brasil. Se considerados apenas homicídios e tentativas de homicídio, o percentual cai para 0,5%.
2) As crianças e adolescentes são vítimas.
Estudo da UNICEF constata no Brasil cada dia, 129 casos de violência psicológica e física, incluindo a sexual, e negligência contra crianças e adolescentes . A cada hora, cinco casos de violência contra meninas e meninos são registrados no País.
3) Não faltam leis para proteger as pessoas dos portadores de transtornos mentais que levam a violência, A Justiça pode determinar a internação por prazo indefinido, até que a periculosidade cesse.
4) Em 2.007 quando completou 21 anos, o famigerado Champinha que estava recolhido desde 2003 na Fundação Casa foi internado compulsoriamente por decisão judicial com base na Lei 10.216 de 2001 em Unidade Experimental de Saúde. Com 29 anos continua até hoje internado.
5) O argumento de que a menoridade penal possibilita os adolescentes serem utilizados para cometerem ou assumirem crimes não é resolvido pela redução para 16 anos. Os criminosos passariam a utilizar os menores de 16 . Isto levaria a uma sucessão novas leis de redução de maioridade até chegarmos ao absurdo da “maioridade penal infantil.”
Os que defendem a redução da maioridade penal , querem na realidade a revogação do Estatuto da Criança e do Adolescente.
O combate ao ECA se deve ao fato que a lei não apenas estabelece os direitos das crianças e adolescentes , mas também enumera os responsáveis por garantir gozo destes direitos:
“Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.”
A verdade é que nem a família, nem a comunidade em geral, nem a sociedade civil ( igrejas, entidades civis e fundações, inclusive muitas criadas para atender as crianças e adolescentes) , nem o poder público (governos Municipal, Estadual e Federal, Legislativo e Judiciário) tem evitado que grande parte de nossas crianças e adolescentes fiquem no abandono.
Às crianças e adolescentes não tem sido garantido o direito a convivência familiar e comunitária, fundamentais para a formação do caráter do futuro cidadão digno que respeite e se faça respeitar. 
Nem mesmo garantimos às nossas crianças e jovens efetivação do direto a saúde, alimentação, educação, ao esporte, ao lazer, a profissionalização e a cultura.
A diminuição da maioridade penal é portanto um tema colocado como cortina de fumaça para fugir da responsabilidade que a lei atribui a todos..
No lugar de implantar o Estatuto da Criança e do Adolescente é mais fácil responsabilizar as vitimas .
Convidamos todos, principalmente as pessoas e entidades que participaram da vitoriosa campanha pela aprovação do Estatuto da Criança e Adolescentes, para se manifestar contra a redução da maioridade penal e iniciar campanha nacional para garantir aos nossas crianças e adolescentes o que determina o ECA:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
A Paz é Fruto da Justiça.


Antonio Funari Filho
Presidente da Comissão de justiça e Paz.

quarta-feira, abril 15, 2015

Informação e conhecimento

Com a abundância de informação que hoje acessamos corremos o risco de confundi-la com conhecimento, o fizemos com frequência. 

Conhecimento é a organização criteriosa da informação, requer verificação de fonte, qualidade hermenêutica/teórica de análise.

Conhecimento é fruto de trabalho acurado de sistematização da informação, é mais demorado e contínuo.

A pressa e a preguiça nos levam a crer e não a compreender. Nos levam a reproduzir sofismas empolgados. 

Ter a informação como base do nosso entendimento é assumir o risco de ser pensado por quem produz a informação na sociedade, no caso brasileiro, poucas famílias. 

A inteligência não é uma qualidade inata, mas um exercício regular de interligação, de associação de ideias, fenômenos e notícias. 

Informação é uma das matérias primas do conhecimento, se pautar em  informação isolada sem conhecer determinado tema e tirar conclusões apressadas, ou ainda, defender apaixonadamente ponto de vista assim concebido, é arriscado.

O esforço intelectual que produz conhecimento não é banal ou fruto de inspiração, é cotidiano, requer tempo e condições favoráveis. 

A confusão entre informação e conhecimento pode nos fazer crer, por exemplo, que terceirização é modernização, que redução da maioridade penal é combate ao crime, que educação e saúde são gastos e não investimentos, logo passíveis de cortes etc...

Gregório Grisa

Incompreensível

Ir à rua bradar contra o suposto comunismo de um partido (absolutamente inexistente) é o maior sintoma de cegueira coletiva dos últimos tempos.
Anticomunistas dizem "vai pra Cuba", "aqui não é Venezuela", protestam contra a única coisa que o governo não está fazendo, ser de esquerda.
Se expor reclamando de algo que é irreal (PT=comunismo), ter como motivo de mobilização tal ilusão é assinar atestado de ablepsia aguda.
Uma das razões essenciais da atual crise econômica e política é justamente o fato do PT ter abandonado as práticas de esquerda e não o contrário.

segunda-feira, abril 13, 2015

Ditadura comunista no Brasil e o senso do ridículo


Pense comigo:
Governo federal faz severo ajuste fiscal, se vale de fórmula clássica do neoliberalismo para atacar a crise;
Governo tem um representante "puro sangue" da Escola de Chicago (Wikipédia) e dos interesses dos bancos do ministério da fazenda;
Governo vem elevando a taxa SELIC que define os juros no país, com isso garantindo que bancos nacionais e internacionais e empresas quebrem record de lucros;
Portos e aeroportos são privatizados pelo governo, que tem como maior objetivo fazer superávit primário para pagar juros da dívida, que interessa a grandes corporações e investidores.
Congresso tende a aprovar lei das terceirizações generalizadas que só beneficia as classes patronais; empreiteiras financiam as grandes campanhas e lucram muito com contratos com o Estado.
Diante desse sintético cenário (outros vários exemplos poderiam ser dados) temos que presenciar pessoas se manifestando contra o comunismo do PT? É sério que existe algum ser tão incapaz de perceber a vida na sua volta? Se manifestar contra o comunismo do governo supera qualquer patamar de idiotice, atinge o grau máximo de indigência mental.
Nem o moralismo tacanho anti-esquerda é capaz de explicar tamanha imbecilidade.
Os pró intervenção militar que estavam na rua hoje (sei que não são todos) realmente acreditam que o PT quer impor uma ditadura comunista? Tal pensamento é tão desforme que é passível de exposição ao ridículo sim. Essas pessoas tem o direito de bradarem o que quiserem, mas correm o risco de ser motivo de deboche sim, porque representam um desserviço completo para o país, para seus próximos e para sim mesmas.
Os anos de governo do PT no Brasil foram os mais capitalistas da história, nunca tal modo de produção esteve tão pulsante como nesse período. Então se você é dos "anticomunistas" ou conhece alguém que seja, a dica é: te preserva.

Gregório Grisa

sexta-feira, abril 10, 2015

Não a terceirização


A terceirização, constata-se em experiências mundo afora, é a porta de entrada para a deterioração dos direitos trabalhistas, para a precarização do mundo laboral em todas suas esferas e dinâmicas. 

A terceirização abre caminho para a flexibilização da dignidade do trabalhador, isto é, instaura uma condição de instabilidade tal, que os direitos que o trabalhador acessa não são suficientes para que ele garanta uma reprodução social minimamente qualificada.
Contratado e descartado, ao bel prazer dos cálculos pró competitividade das empresas, o trabalhador se coisifica, o trabalho é compreendido como custo e a pessoa humana que vende sua força laboral como única alternativa para viver, fica a mercê da flutuação do mercado. 

Curiosamente todo esse movimento ocorre para manter as taxas de lucro, não se cogita flexibilizar tais taxas, um lado apenas é atacado com a terceirização, o do trabalho.
Apenas quem não trabalha, quem não corre o risco de ser um empregado terceirizado é que insinua dizer que a terceirização é interessante. Vivemos hoje no Brasil o maior ataque aos direitos trabalhistas desde da era Vargas e corremos o maior risco de perder conquistas desde o golpe empresarial-militar de 1964. 

A terceirização já existe, em grande escala nas atividades meio, já há no Brasil a figura consolidada do intermediário, aquele que lucra ao ofertar um serviço mais barato com sua empresa, que se beneficia da condição de necessidade de setores vulneráveis da sociedade e os contrata por salários aviltantes e direitos escassos.

O intermediário fica com uma segunda taxa de lucro sobre o trabalho, o pouco restante fica com quem realmente trabalha, quem realmente produz, o trabalhador. O absurdo proposto pelo projeto aprovado na Câmara é ampliar a terceirização para as atividades fins das instituições, escolas terceirizando professores, clínicas e hospitais terceirizando médicos, autarquias terceirizando técnicos e por aí vai. 

Associações dos juízes do trabalho, do Ministério Público do Trabalho, sindicatos de todas as vertentes ideológicas, personalidades conhecidas (como as dos vídeos abaixo) se posicionam contra a terceirização. Vivemos um momento decisivo para o futuro da nossa e das próximas gerações, esse tema define um desenho de sociedade que se deseja, não é um assunto banal, é um eixo determinante da maneira como as relações sociais irão se desenvolver.

Concursos públicos são fundamentais para a qualidade dos serviços públicos, ter a carteira assinada diretamente com o empregador é fundamental para o equilíbrio das relações trabalhistas, ambas situações são conquistas frutos de décadas de luta das gerações anteriores, não podemos deixar passar tal retrocesso.

Caso o congresso aprove a lei das terceirizações a sociedade deve exigir o veto total da presidência da república e as entidades devem judicializar no STF a matéria de forma contundente. Nenhum político foi eleito para retirar direitos, os empresários que pagam as campanhas dos congressistas eleitos não podem governar o país e mudar a legislação ao bel prazer, muito menos a que se refere à conquistas históricas. 

Seguem três vídeos feitos por atores para reflexão.

Vídeo 1

Vídeo 2

Vídeo 3  

Gregório Grisa

quarta-feira, abril 08, 2015

Utilidade Pública: como nos informar



Em geral, as pessoas seguem no Facebook as páginas de veículos tradicionais de comunicação para se informar diariamente. Isso significa acompanhar a Globo, a Folha de SP, o Estadão, Veja, Época, Istoé, o Terra, a ZH (no RS), Valor Econômico, o R7, UOL e outros. Seguindo essas páginas recebemos cotidianamente uma versão da realidade, da notícia, do fato social. Sugiro acrescentar entre esses o El País Brasil, Brasil Post e a BBC Brasil, esses acompanham a versão tradicional do Jornalismo comercial com alguma diversidade. 

Por outro lado, devo dizer que para configurarmos um leque democrático de acesso a informação, para termos acesso a vieses mais críticos e alternativos esses sites não bastam, pelo contrário, eles limitam esse anseio. Por isso, irei sugerir páginas que oferecem avaliações de um outro ponto de vista, que contêm análises mais profundas e menos aligeiradas. 

A versão das corporações que controlam os meios de comunicação, da direita política do país está garantida nas páginas citadas acima e nas suas derivadas. Com as dicas abaixo pretendo ofertar desde órgãos que representam versões ligadas ao governo até, e principalmente, páginas de veículos independentes sérios, que produzem jornalismo comprometido com outros setores da sociedade que não os donos da mídia comercial. Todas indicações são de órgãos cujos conteúdos posso não concordar plenamente, mas creio ser honestos em suas deliberações jornalísticas, tanto que deixam claro seus posicionamentos. 

Seguem as páginas que fazem contraponto às tradicionais. 

Caros Amigos
Carta Capital
Revista Fórum
247
Pragmatismo Político
Jornal Brasil de Fato
Carta Maior
Viomundo
Sul 21
Diário do Mundo

Páginas de Jornalismo (muito importantes para ver outro perfil de informação).

Repórter Brasil
Agência Pública
Jornalistas Livres
Mídia Ninja
Jornalismo B
Rede Brasil Atual
ONU Brasil
Anistia Internacional Brasil

Entretenimento, arte e cultura e curiosidades

Revista Cult
Revista Bula
Obvious
Catraca Livre
Hypeness
Revista Superinteressante

De conteúdo político e econômico

Le mond diplomatique Brasil
Opera Mundi
Correio da cidadania
Outras palavras
O Fato e a História

Saliento que seguir as páginas dos ministérios e órgão governamentais de interesse particular são muito importantes, as do IPEA do IBGE são fundamentais. Seguir páginas de secretarias estaduais e municipais, bem como de personalidades e pessoas públicas que nos interessam também são maneiras de diversificar a informação. 

Gregório Grisa