quarta-feira, julho 29, 2009

Achou

Composição: Dante Ozzetti / Luiz Tatit

Música interpretada por Ceumar em um festival da TV Cultura de 2005, aqui no youtube.

Investir
É cultivar o amor
Se despir
É ativar

Resistir
É aturar o amor
Insistir
É saturar

Aderir
É estar com seu amor
Adorar
É superstar

Aplaudir
Até sentindo dor
É amar

Quem puder
Viver um grande amor
Verá

Consentir
É educar o amor
Seduzir
É cutucar

Amarei!
É conjugar o amor
Não amei!
É enxugar

Avançar
É conquistar o amor
Amansar
É como está

Como estou
Com muito amor pra dar
Eu dou!

Quem estiver
Atrás de um grande amor
Achou!

segunda-feira, julho 27, 2009

O fantasma que vaga no pensamento único

Vaga e insossa, mas presencialista, a democracia parece ser quase o horizonte insuperável da nossa época. A saturação provocada pelo seu uso indiscriminado justifica a peremptoriedade dessa afirmação. De Barack Obama a Berlusconi, das filosofias políticas radicais ao Hamas e ao Vaticano, todos parecem ter uma opinião sobre aquilo que a democracia é e sobre aquilo que ela deveria ser. O artigo é de Roberto Ciccarelli, publicado no jornal Il Manifesto e traduzido pela revista IHU On-line.

Tradução publicada no site da revista IHU On-Line.

Em um livro recente, "Démocratie, dans quel état?" (La Fabrique, 152p.), que reúne contribuições de Giorgio Agamben, Alain Badiou, Wendy Brown, Jean-Luc Nancy, Jacques Rancière e Slavoj Zizek, dentre outros, defende-se que a desagregação dos conteúdos normativos da democracia foi gerada por uma oscilação entre regime e governo, entre soberania popular e gestão econômica e administrativa daquilo que existe. A democracia em que vivemos seria uma democracia "governamental", que impõe a busca de uma alternativa. Se esse é o objetivo, então não é por acaso a escolha das contribuições que compõem esse livro, escrito por autores considerados protagonistas de uma "reviravolta" no pensamento político contemporâneo, a da chamada "democracia radical".

Os assuntos da cidade
Muitas vezes, o logotipo não é justo com a diversidade – às vezes enorme –de um fenômeno cultural, mas só às exigências do mercado editorial. Porém, pelo menos nesse caso, isso explica mais uma vez que o liberalismo ostentado pela "intelligentzia" a partir dos anos 80 é uma doutrina consumada. Por isso, é compreensível a ansiedade por novos paradigmas, mas isso não deveria remover as diferenças essenciais entre os seus protagonistas.

É notável como a busca de uma alternativa parou diante da impossibilidade de criar um sujeito político "forte". A crítica da democracia propõe uma outra estratégia para recompor esse sujeito para além dos limites da política do século XIX, fundada sobre as classes ou sobre o individualismo proprietário. Além das muitas diferenças, é justamente esse o projeto que surge do grupo que enfileira a "vida nua" de Agamben, a via "neoleninista" Zizek até a "hipótese comunista" de Badiou.

Jacques Rancière
A contribuição de Rancière, que dá sequência às considerações já desenvolvidas em "L'odio per la democrazia" (Cronopio) e em "Il disaccordo" (Meltemi), oferece motivos para se repensar e se concentra sobre o problema central desse grupo. Parece, de fato, que a teoria radical acha difícil imaginar uma subjetividade politicamente eficaz. Por uma dupla razão: de um lado, descreve a democracia como negatividade absoluta, como "significante vazio". De outro, evoca um antagonismo político permanente contra a ordem constituída. A democracia seria, assim, o resultado de uma contínua ruptura do espaço político, cujo objetivo é a destituição da sua legitimidade, mais do que a realização das possibilidades que ela exclui.

A real continuidade entre Agamben, Badiou ou Zizek não é a da continuidade contingente que localiza no modelo antagônico um relato alternativo à democracia liberal, mas sim a da vontade de atribuir ao "político" um princípio único e puro. Só que, nesses autores, a pureza nunca se dá em uma forma particular da democracia, mas na sua contínua negação. Se não fosse assim, a democracia reproduziria a confusão entre a democracia e a constituição, ou uma forma social que, para Rancière, aproxima todo o arco político da direita à extrema esquerda. Com o resultado espectral – mas nunca tão atual – de identificar a vida de uma democracia com a permanente reforma das regras que deveriam governá-la.

"A democracia – escreve Rancière – é o poder daqueles que não têm nenhum título para exercer o poder, a capacidade de que qualquer um se ocupe dos assuntos da cidade". É esse o seu "escândalo": "qualquer um", cidadão ou migrante, pode aspirar ao governo. Uma pretensão que nutre o ódio dos governantes, mas que também é a demonstração de que aquele que governa não tem nenhuma razão natural para fazê-lo, e aquele que é governado não tem nenhuma razão natural para obedecer.

Uma política é democrática quando reconhece estar fundada nessa divisão não natural dos papéis. Fazendo isso, ela alimenta uma contínua renegociação dos limites do público e do privado, do político e do social, do econômico e do institucional, para resolver as desigualdades existentes, salvo se forem registradas outras novas em outros lugares.

Além do governo dos melhores
As considerações justas de Rancière ainda deixam uma dúvida. A sua versão da política democrática reavalia o aspecto constituinte do conflito, enquanto produtor de uma distribuição igualitária dos papéis contra a lógica hierárquica da democracia. O ponto é que esse conflito ocorre desde a polis grega, em uma espaço político que é sempre igual a si mesmo e, por isso, não é muito diferente do formalismo jurídico do qual toma distância.

Contrariamente ao que Michel Foucault defende, que forneceu uma versão imanente da política democrática fundada na diferença e não na igualdade, a negatividade transcendental, que Rancière critica enquanto expressão das aporias do antagonismo democrata-radical, permanece também no seu sistema. Mesmo tendo identificado o lugar em que se desenvolve o conflito da democracia – a repartição dos papéis entre governantes e governados –, ele não explica como se forma o conflito e por que seria diferente dos anteriores.

Distante de uma visão trágica da política como "decisionismo" ou, pior, como técnica administrativa, o pensamento de Rancière denuncia a tentação elitista difundida na cultura política contemporânea, para a qual a democracia é naturalmente o "governo dos melhores". Mas não foge do problema, este sim epocal, de como tornar efetivo o sujeito da política democrática.

Personagens e palavras-chaves de um pensamento crítico a ser reconstruído
Louis Gabriel Gauny, engenheiro e filósofo, em "Le philosophe plébéien" (La Découverte), e Étienne Cabet, utopista século XIX, em "La nuit de proletaires. Archives du rêve ouvrier" (Hachette), são os personagens que, junto com Joseph Jacotot, povoam o singular arquivo a partir do qual Jacques Rancière indagou o estatuto filosófico do discurso histórico, propondo "Courts voyages au pays du peuple" (Seuil) e "Les mots de l'histoire" (Seuil).

A seguir, Rancière passou a uma reflexão sobre a literatura ("Mallarmé o la politica della sirena", Clueb) e sobre o cinema ("La favola cinematografica", Ets, e "Le spectateur émancipé", La Fabrique).

Conhecido na Itália por ter se afastado de Louis Althusser por divergências sobre o Maio de 68, depois de ter participado dos seminários de 1965 sobre "Leggere il Capitale" (Mimesis), Rancière, professor da Universidade Paris VIII (Saint Denis) é um protagonista do debate filosófico e político com livros como "Il disaccordo" (Meltemi) e "L'odio per la democrazia" (Cronopio).

A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Fonte: Carta Maior

quinta-feira, julho 23, 2009

O frio

as relações se dão mais na sensação
as procuras são pelas sutilezas
o delicado fica mais áspero
os tratos são mais cuidados
os pés não se distanciam muito do chão
o sono fica mais fácil
as letras brotam como gotas que caem
e o gelado vento da cidade traz,
a reboque
a saudade.

terça-feira, julho 21, 2009

Carta para Yeda Crusius

Exma. Sra. Governadora do Estado do Rio Grande do Sul,

Yeda Crusius

A sua manifestação, ontem, dia 16 de julho de 2009, pela manhã, escrita em cartaz dizendo que aquelas pessoas que ali estavam não eram professores, mas "torturadores" , atinge não somente aqueles professores, que estão em seu pleno direito de reivindicar melhores salários e condições de trabalho, mas também todos os cidadãos brasileiros, vítimas diretas ou indiretas dos crimes cometidos por torturadores ao longo da história do Brasil. A utilização deste termo é uma prova da total falta de conhecimento histórico da senhora, e mais: um grande desrespeito à memória do país, que recentemente passou por um período de ditadura, não só militar, mas com contribuição de muitos civis, muitos hoje acusados de terem, esses sim, torturado pessoas. Com sua declaração, a senhora ignorou totalmente a carga histórica que o conceito de "torturador" carrega. A senhora já ouviu o depoimento de alguém que tenha sofrido, verdadeiramente, uma tortura? Estas pessoas merecem o nosso respeito, o que não observamos na sua atitude.

Isso corrobora para o que estamos chamando atenção há tempos: a utilização inadequeada de adjetivos, sem conhecer seu teor histórico, sem valor explicativo, e usado de forma pejorativa e impune. Isso acontece, também, com o conceito de "terrorista" , que é utilizado para a luta armada brasileira, mas nunca atribuído às ações do aparato repressivo do Estado - ainda não desmontado, julgado e condenado - e de grupos para-militares, como o CCC, sigla que ainda hoje circula na sociedade brasileira, e é lembrada como o grande grupo que combatia o comunismo, sem saber de fato o que aquele grupo fez no Brasil.

A sua atitude se assemelha à dos torturadores e repressores, na medida em que, assim como as balas, as palavras ferem, e vêm justamente do lugar que deveria tomar conta de todos os cidadãos, independente de posicionamento político: o Estado. A senhora comparou uma classe trabalhadora, que exercia um direito que fora suprimido por mais de 20 anos, àqueles responsáveis pela supressão do mesmo. Comparou-os a pessoas que cometeram crimes, e que estão por aí, impunes. Isto, senhora governadora, é considerado calúnia, segundo as leis do Estado que a senhora representa.

A senhora sentiu-se intimidada pela manifestação que impediu o direito de ir e vir de seus netos. A senhora sabe que durante os anos 1960, 1970 e 1980, vigoraram no Cone Sul ditaduras civil-militares que sequestraram, torturaram, desapareceram, mataram e apropriaram- se de crianças? Na Argentina, por exemplo, há mais de 500 crianças desaparecidas. Apenas 91 tiveram sua identidade restituída. A senhora sabe como isto foi feito? Através de lutas, confrontos, manifestações, como esta, que se realizava em frente a sua residência.

Seus netos, senhora governadora, provalvemente não saibam o estado em que se encontra a educação pública no Rio Grande do Sul, pois devem frequentar os melhores e mais caros colégios em Porto Alegre. Seus netos não devem fazer idéia do que seja passar trimestres, às vezes anos, sem uma disciplina, por falta de professor; ou estudarem em turmas com 50 alunos, por causa do enturmamento promovido pela senhora; ou enfrentarem as condições precárias em que se encontram muitas escolas; ou não possuírem uma boa educação por falta de recursos; ou encontrarem professores desmotivados pela miséria que é paga todos os meses. Estes sim, são torturados.

Senhora governadora, por todos esses motivos expostos nós, do Movimento Pela Abertura dos Arquivos da Ditadura, escrevemos esta carta com o objetivo de solicitar uma retratação pública da senhora, em frente às câmeras de televisão, para com todos os cidadãos brasileiros, que de uma forma ou de outra, sabem exatamente o que signifca o termo "torturado". Pedimos que a senhora tome essa atitude, em nome de todas as verdadeiras vítimas de crimes de tortura cometidos no Brasil, seja durante a ditadura civil-militar, seja ainda hoje em dia, pelo Estado.

Esta carta seguirá com cópia para órgãos de imprensa e endereços eletrônicos que quiserem publicá-la.

Assinado: MOVIMENTO PELA ABERTURA DOS ARQUIVOS DA DITADURA-RS

Porto Alegre, 17 de julho de 2009

quinta-feira, julho 16, 2009

Desabafo

A manifestação legítima feita hoje na frente da casa da governadora Yeda serviu para mostrar uma coisa que sabíamos, mas não tínhamos como provar. Ao sair de casa com cartazes com os seguintes dizeres: "Vocês não são professores torturam crianças abram alas que as minhas crianças têm aula!", a governadora finalmente se mostrou; a provocação, o deboche, o desdém e a falta de seriedade ficaram evidentes e é dessa forma que Yeda e os que a rodeiam conduzem o estado do Rio Grande do Sul.

Ao levar o container para rua e mostrar em que estão dando aula os professores não estão se mobilizando com interesses partidários como faz entender moralista Lasier Martins em seu espaço na televisão, eles estão denunciando uma situação insuportável que agride a dignidade das crianças e dos trabalhadores em educação.
É também importante frisar que todos esses eventos últimos contra o governo são brandos perto do que merecia o escandaloso governo do estado e que o foco político que devemos assumir transcende a questão das escolas públicas estaduais e a situação do magistério. Essa pauta é o carro chefe porque o CPERS é o sindicato mais combativo que temos, mas a tensão no estado hoje tem essa proporção porque a corrupção, o despreparo administrativo dos quadros do governo, os tráficos de influência, trocas de favores, casa não explicada, o corte de gastos somente em políticas sociais são as marcas dessa gestão.

Muito menos foi suficiente para que o TSE caçasse dois governadores nos últimos anos, esse é o foco, a derrubada desse governo, a sociedade civil gaúcha têm de se mostrar menos servil e ser mais orgânica, sistematizar denúncias, pressionar o ministério público, e seguir se manifestando cada vez mais para que saia do armário a verdadeira face (descrita acima) dessa gente que manda no estado e que reprime com gosto e de várias formas os trabalhadores e as classes populares.

terça-feira, julho 14, 2009

O ocaso da democracia liberal

Por Frei Betto,

A descoberta de que o Senado brasileiro é um antro de nepotismo, corrupção, tráfico de influências e mordomias aviltantes – embora haja senadores e funcionários éticos, de competente dedicação ao serviço público – traz à tona uma questão mais profunda: o fim de uma era política em que as instituições de poder pairavam acima de qualquer suspeita.

A imunidade é irmã gêmea da impunidade. Como o atual sistema democrático é meramente delegativo, eleitos desprovidos de caráter e valores morais se valem dos labirínticos canais do poder público para, em nome do povo, promover o benefício próprio.

Para isso lançam mão de decretos secretos, artimanhas casuísticas, nepotismo implícito, estendendo uma malha burocrática integrada por funcionários coniventes, cúmplices da desfaçatez, desprovidos de ética e amor à coisa pública por força de proventos e prebendas abusivos.

Nas sociedades capitalistas predominam relações desiguais de poder. Uma das características do parlamento burguês é legislar em causa própria, sobretudo no que concerne a salários, ajudas de custo, propinas e salvaguardas (auxílio-moradia, plano de saúde, transportes extensivos a familiares etc.). "Nada mais perigoso que a influência dos interesses privados nos assuntos públicos", escreveu Rousseau em O contrato social.

Eleger-se vereador, deputado ou senador torna-se, para muitos, uma ambição pessoal destituída de qualquer motivação de serviço ao bem comum. A eleição transforma-se em loteria. O premiado decola para a esfera blindada pela áurea de autoridade, isento do risco de a sociedade investigá-lo e, eventualmente, puni-lo. Este só pode ser julgado por seus pares e instâncias superiores, quase sempre marcados por complacente conivência.

O ocaso da democracia liberal resulta do controle social sobre o poder público. A maracutaia vem à tona graças às investigações da imprensa, de movimentos sociais e ONGs que se dedicam a vasculhar as contas públicas e tornar transparente a atuação dos políticos. Lança-se, assim, as sementes de uma nova era democrática, a da autoridade partilhada.

Esse exercício cidadão de aferição dos eleitos e da máquina do Estado mina, aos poucos, a escusa politicagem ancorada no coronelismo, no compadrio, nas ameaças veladas e explícitas, na extensa rede de nomeações e compensações, que vão das licitações fajutas ao salário astronômico de um mordomo. Quebram-se as redomas que envolvem o poder, desprivatiza-o, devolve-o à sua precípua finalidade: o serviço ao público.

Na democracia participativa a autoridade é exercida pelo cidadão e pela cidadã, a quem o político, como servidor, tem o dever de prestar contas. Toma-se a sério o conceito de democracia: o exercício do poder, não somente em nome do povo, mas pelo povo e com o povo. Através de mecanismos de aferição do desempenho dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, desvelam-se os seus atos e revelam-se os obscuros meandros que até então favoreciam as trevas encobridoras de safadezas cometidas à revelia do público e com o dinheiro do contribuinte.

Agora todos sabem que o rei está nu. Aos poucos, rompe-se a velha hegemonia de poder que consistia no controle da mídia, no atrelamento dos partidos a figuras caudilhescas, na criação de uma vasta rede de influências através de nomeações voltadas ao fortalecimento das bases políticas que asseguravam a uma família, grupo ou partido a perpetuação no poder.

Refunda-se o Estado moderno. Na América Latina e no Caribe desponta a primavera democrática que rechaça os golpes de Estado, como ora ocorre em Honduras, e veta-se o acesso ao poder de políticos submissos ao receituário neoliberal. Para horror das velhas oligarquias, muitos eleitos tiveram origem política em movimentos sociais, governam em benefício dos mais pobres e não descartam a utopia de uma sociedade pós-capitalista.

É verdade que nesse período de transição da democracia liberal à democracia real, participativa, sombras e luzes se mesclam, como alianças eleitorais entre setores progressistas e conservadores, no ambíguo compasso de uma no cravo e outra na ferradura. Interesses eleitoreiros se sobrepõem ao rigor ético; o uso do dinheiro público se esconde sob cartões de crédito e investimentos institucionais, como fundos de pensão, imunes à transparência; empresas privadas cooptam políticos e partidos através do financiamento de campanhas.

Muito além do sistema político, a democracia deve vigorar também no sistema econômico, nas esferas familiar, racial, sexual, religiosa, nas relações comunitárias e corporativas. Isso não se alcança senão através de mecanismos e instituições que obriguem o Estado a se submeter ao efetivo controle popular.

Frei Betto é escritor, autor de "Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira" (Rocco), entre outros livros.

Fonte: Correio da cidadania

domingo, julho 12, 2009

Emir Sader: ética contra a publicidade

por Emir Sader, no seu blog em Carta Maior

As novas regras de publicidade impedem que pessoas consideradas celebridades façam propaganda de remédios vendidos sem receita. É o mínimo de defesa dos cidadãos que se pode estabelecer. Se coloca em questão, pela primeira vez, uma das expressões mais instrumentalizadoras de personagens tornados famosos pela mídia, para vender qualquer tipo de produto.
Me lembro perfeitamente das publicidades milionárias do governo FHC para privatizar a Vale do Rio Doce, feitas por Raul Cortez. Um artista que conquistou fama por seu meritório trabalho no teatro e por um muito menos em telenovelas da Globo, se valia da empatia com sua imagem, para vender a privatização da maior empresa do seu ramo no mundo, com argumentos que se revelaram totalmente falazes com o passar do tempo.
Da mesma forma outros artistas ou esportistas vendem, a preço de ouro, suas imagens, para promover a comercialização de mortadelas, apartamentos, carros, bancos, cervejas, entre tantas outras mercadorias. O que tem a ver a imagem de cada um deles com os produtos que anunciam? Não são nem sequer suas preferências pessoais. Veja-se como Zeca Pagodinho anunciou uma cerveja que se conhecia não ser da sua preferência, mas que lhe pagou mais. Depois voltou àquela que prefere, não por ter mudado de marca, mas por uma oferta publicitária maior.
Em vários países escandinavos é proibida qualquer publicidade nos horários prioritários das crianças verem televisão, por considerar que elas são excessivamente frágeis, indefesas, diante da agressividade das ofertas das mercadorias que lhes são oferecidas pela televisão. Enquanto que o mercado deita e rola em cima das crianças, um nicho de mercado bombardeado com comidas, roupas, celulares, entre tantas outras coisas.
A mercantilização da vida se propaga através da publicidade, veiculada de forma privilegiada pela televisão. Vale tudo para vender. Um conhecido publicitário brasileiro disse, com toda sinceridade, que a publicidade não tem ética. Dêem-me um produto e eu encontrarei a fórmula de dizer que é bom para as pessoas, que vale a pena comprá-lo. O sucesso de vendas de um produto não está na aceitação das pessoas, no reconhecimento das suas qualidades, mas no mérito das campanhas que o promovem. Da mesma forma que se diz que um processo na Justiça não é ganho por quem é inocente, mas por quem disponde do melhor advogado. Isso se estende às eleições, em que os marqueteiros passaram a ser mais importantes do que as plataformas que os candidatos defendem.
O marketing, a publicidade, são expressões da concepção de mundo que buscar mercantilizar a tudo, que trata de que tudo tenha preço, tudo se venda, tudo se compre, da visão da sociedade como uma espécie de shopping-center, da vitória do mercado contra o direito.
Democratizar é desmercantilizar, é afirmar direitos e a esfera pública contra o reino do mercado e do marketing.

terça-feira, julho 07, 2009

A culpa é do Fidel (La Faute à Fidel) - 2006


Por Anna Luiza Marimon

Quem quiser ver um filme inteligente, sútil, com ótimas atuações (principalmente a da atriz mirim Nina Kervel-Bey), belíssima fotografia e enredo realista, assistam ao A culpa é do Fidel.
O magnífico longa do diretor Julie Gavras é o mais novo filme da minha lista de favoritos, é mais um dos filmes que eu veria de novo, que eu decoraria, que me faz sorrir só de lembrar de algumas cenas...
É claro que não se trata de uma obra prima, possui muitas cenas com diálogos essencialmente estereotipados, mas nada que as feições e os rompantes de Anna não os façam serem esquecidos.
Quem não assistir, não é mais meu amigo!

segunda-feira, julho 06, 2009

Pesquisa indica que Brasil tem 25% de professores temporários -

O alto índice de professores temporários nas escolas públicas brasileiras tem impactos perversos sobre a qualidade da educação.


A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) registrou, entre 2007 e 2008, que 25% dos professores da rede pública brasileira não são contratados por concurso. Ou seja, um quarto dos docentes que dão aula hoje não conseguem dar continuidade ao seu projeto pedagógico. “É algo que tem impacto direto na qualidade da educação, não é uma questão somente de luta do sindicato”, explica Maria Isabel Noronha, presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).


Esse alto índice ainda é pior em estados como Minas Gerais, que tem 53% de seus professores contratados como temporários, Mato Grosso, com 49%, e São Paulo, 47%. Outros estados com menos professores temporários compensam na contabilidade geral do país. A média mundial é de 15% de temporários.


Ainda de acordo com o relatório da OCDE, o professor hoje na escola gasta 18% de seu tempo com questões disciplinares, e 11% com questões administrativas, como fazer chamada. Confira abaixo entrevista na íntegra com Maria Isabel, onde ela avalia os resultados da pesquisa.


Fórum - Qual o efeito dessa grande quantidade de professores temporários na formação dos alunos?


Maria Isabel - É perverso. Porque como é temporário, ele não sabe em que escola vai ficar. Depende muito do saldo de aulas. Esse professor começa um projeto pedagógico, por exemplo, neste ano, e não dá continuidade no outro. Ou seja, é algo que tem impacto direto na qualidade da educação, não é uma questão somente de luta do sindicato que quer garantir a efetividade.

A efetividade dos profissionais da educação garante também a efetividade do projeto político-pedagógico que, por conseguinte, tem um impacto positivo na qualidade do ensino. Os sistemas de avaliação acabam sendo ineficazes, porque você vai avaliar em cima de questões como se tudo estivesse funcionando perfeitamente direito. E não é assim que está. Essa é uma questão que, inclusive diante da nossa luta no início desse ano, com as provinhas. Éramos contra a avaliação? Não. É porque aquela avaliação não tinha caráter de concurso público. A nossa luta é para haver concurso público, porque ele seleciona e também garante a efetividade dos professores.


Fórum - Como se chegou a essa situação? Por que tem tanto temporário no Brasil?


Maria Isabel - Porque não se fez concurso público por muito tempo. Por isso uma luta que estamos travando em São Paulo e eu, como relatora das Diretrizes Nacionais da Carreira do Magistério, coloquei uma periodicidade, que sejam realizados concursos de dois em dois anos, casado com a idéia de ter uma porcentagem de temporários. Regula, pelo menos, a contratação.

Fórum - Como está essa situação em São Paulo ?
Maria Isabel - Já chegou a ser maior. Já chegou a ser a maioria de professores temporários, aproximdamente 60%, contra 40% efetivos. Nós fomos brigando, brigando, e pontualmente foram sendo feitos concursos. Mas em São Paulo , são 47%, o que é um número grande, dá em torno de 100 mil temporários, quase. No Brasil todo são mais de 300 mil profissionais temporários. São 53,5% (do total de professores) em Minas Gerais , 48,8% em Mato Grosso tem 49%, São Paulo tem 47%.


Fórum - O relatório da OCDE tratou também de desafios que o professor encontra em salas de aula. O Brasil é o terceiro país em que os professores perdem mais tempo com questões disciplinares, como chamar a atenção dos alunos. Qual a razão?


Maria Isabel - Aí entra a questão da violência. Tenho trabalhado muito isso e acho que é passível de análise que o que tem levado a isso é essa falta de reconhecimento social do professor. O professor não é tratado como aquela autoridade que deveria ser. Houve, por meio destas políticas de avaliação, uma culpabilização muito grande dos professores. E se um aluno vê que um professor tem um baixo desempenho na sai avaliação, fala: como que ele pode me ensinar? Sendo que este baixo desempenho reflete a não efetividade numa escola, a descontinuidade do projeto pedagógico e falta de condições objetivas de avaliação que é necessário ter.

Essa desautorização do professor tem levado a um grau de indisciplina muito grande, mas também porque a família não tem assumido seu papel de responsável também pela educação, ela simplesmente joga essa responsabilidade para a escola. Por isso que defendo muito a gestão democrática, não só porque ela é importante no processo pedagógico, mas porque, com a presença dos pais nas escolas, é possível discutir com eles o comportamento e questões disciplinares que têm que ser também por eles discutida. Parte da aula, o professor acaba perdendo só pra lidar com a disciplina do aluno. Não é falta de didática, é porque é assim que as coisas estão acontecendo.

E também porque a escola, hoje, não é um local atrativo. A mesma escola que aí está, está desde quando ela foi inventada, pensada no Brasil, não mudou nada. E você está lidando com uma juventude diferente, então a própria escola tem que mudar. Por isso, ter um investimento na infra-estrutura da escola é importante. Mas não é só o professor, não é só a infra-estrutura, nem somente o aluno, é preciso tem que se pensar globalmente a questão da educação.


Leia mais sobre o cenário da educação no Brasil na entrevista de Mario Sergio Cortella na edição 75 de Fórum, nas bancas.

Camila Souza Ramos - Revista Fórum

domingo, julho 05, 2009

Está provado, não houve o grampo no presidente do STF

Sem encontrar o áudio e sem identificar o responsável pela eventual gravação, a Polícia Federal concluiu a investigação que apurou o suposto grampo no presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes. Sem encontrar áudio de suposta interceptação telefônica de Mendes e o senador Demóstenes Torres (Dem-GO), a PF não deve indiciar ninguém.O resultado oficial deve ser divulgado nos próximos dias.O inquérito sobre o suposto grampo foi instaurado em setembro passado, por pressão do ministro Gilmar Mendes.
Na época, o ministro, indignado com o fato de supostamente estar sendo monitorado, chegou a cobrar uma providência do presidente Lula, que em 24 horas lhe concedeu uma audiência exclusiva para tratar do “grave” caso.Estavam presentes à audiência, o ministro Nelson Jobim e o ministro Tarso Genro. Jobim, aliado das invectivas de Mendes, saiu da reunião reclamando providências do governo do qual faz parte, fazendo eco aos factóides da revista Veja que denunciara o caso dois dias antes.
O ministro Tarso Genro saiu da reunião e tentou dar uma coletiva à imprensa, mas foi monopolizado pelas manifestações duras de Gilmar Mendes cobrando enérgicas providências do Executivo, a quem atribuía leniência nos casos de – segundo ele – “abuso de autoridade policial” no caso Satiagraha. Enquanto Mendes se pronunciava de forma imperativa e excessiva, o ministro Tarso ouvia ao seu lado, calado e de cabeça baixa (foto acima, de 14/07/2008).A revista "Veja" atribuiu a autoria da suposta interceptação ilegal a agentes da Abin que atuaram na Satiagraha. A operação foi conduzida por Protógenes e, em julho do ano passado, prendeu o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity.Em março de 2009, Mendes falou sobre a possibilidade de o grampo não ter existido - "se a história não era verdadeira, era extremamente verossímil" - e admitiu "não ter muita certeza" sobre a participação da Abin, conforme entrevista a jornais. Na ocasião, ele pressionou pela saída do então diretor do órgão, Paulo Lacerda, que depois deixou o posto e hoje é adido policial em Portugal.
O episódio mostrou o quanto um factóide fabricado por Veja/Mendes/Jobim podem fazer o governo Lula vergar-se em conciliações que minam a autoridade e a soberania do presidente da República.Hoje, pois, fica provado que de fato estávamos diante de uma mentira industriada com o objetivo de desestabilizar o governo e alimentar uma montante seriada de insatisfações em cadeia que pudessem colocar em xeque o presidente Lula. Tudo em vão, mas que tentaram, tentaram. Até a próxima armação e a subsequente conciliação de Lula.
Fonte: Diário Gauche

Carta e Leandro: as Minas do Rei Dantas. Protógenes tinha razão

O Conversa Afiada reproduziu abaixo apenas o início da reportagem de Leandro Fortes na Carta Capital que vai hoje para as bancas.
É uma bomba !
Daniel Dantas, com a ajuda de políticos ligados a José Sarney, se tornou um minerador que controla uma área 50% superior à da Vale !!!
O ínclito delegado Protógenes Queiroz tem dito a todo mundo que Dantas, em 1992, com o ex-ministro Mangabeira Unger, preparou um plano de ataque às riquezas do Brasil, com grana do Citibank.
Muita gente, por isso, chamou o delegado de “alucinado”, “destemperado” .
Leandro Fortes acreditou no que Protógenes disse e está lá, tudo na Carta.
Leia o início da reportagem:
Dantas, o mineradorecos da satiagraha O banqueiro acumula mais de mil pedidos de licença de exploração do subsolo. Nos últimos dois anos, as concesssões saem aos cântarospor leandro fortes
Às vésperas da Operação Satiagraha, em 8 de julho de 2008, o delegado Protógenes Queiroz tinha em mãos um documento revelador sobre os planos empresariais do banqueiro Daniel Dantas. Escrito em inglês e preparado, em 1992, pelo ex-ministro de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger, que deixou o cargo no fim de junho, o texto era um umbrella deal (acordo guarda-chuva) com perspectivas de negócios no Brasil que atendessem, segundo Queiroz, aos interesses comerciais de Dantas e do Citigroup, um dos maiores bancos do planeta e até então parceiro inseparável do banqueiro brasileiro. Entre os 160 itens do documento, um deles traçava estratégias de entrada no bilionário mercado de mineração. DD levou o assunto a sério. De 2007 até hoje, encaminhou mais de 1,4 mil pedidos de autorização de pesquisa mineral, em treze estados do País. Já conseguiu obter mais da metade das autorizações, 80% delas em terras da União.
As outorgas para esse tipo de atividade são concedidas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) do Ministério de Minas e Energia. Para atuar no ramo, Dantas montou, há dois anos, uma empresa, a Global Miner Exploration (GME4), com sede em São Paulo, e começou a garantir as concessões a partir das gestões de dois ministros diretamente controlados pelo senador José Sarney (PMDB-AP), Silas Rondeau e Edison Lobão. Graças à presteza do DNPM, a mineradora de Dantas cobre, hoje, uma área equivalente a 4 milhões de hectares onde se concentram riquezas minerais incalculáveis em forma de manganês, ouro, alumínio, fosfato, ferro, níquel, bauxita, nióbio e diamante.
A GME4 tem interesses comerciais, atualmente, nos seguintes estados: Bahia, Piauí, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Tocantins, Pará, Roraima, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Uma abrangência territorial 50% mais extensa do que a ocupa-da -pela Vale, segunda maior mineradora do mundo. Boa parte do esforço da empresa de Dantas está concentrada na pesquisa para exploração de manganês, sobretudo na Bahia, Minas e Piauí. Os filões mais lucrativos estão, porém, em Mato Grosso, onde a GME4 procura ouro em uma área do tamanho da cidade de São Paulo. E em Mato Grosso do Sul, onde Dantas pretende encontrar diamantes. Caso consiga achar minério em apenas 2% da área abrangida pelas autorizações do DNPM, a mineradora passará a ter um valor de mercado estimado em 1,3 bilhão de dólares (2,5 bilhões de reais pela cotação atual).
Dantas não é um minerador comum. Em vez de explorar os veios, montar minas e extrair pedras, atua como atravessador. De acordo com o site oficial da empresa, a GME4 é um “banco de ativos minerais” com o objetivo de prospectar reservas “visando alienar ou realizar joint ventures”, tanto no mercado nacional como “global”. Para tal, apresenta um “portfólio de direitos minerários próprios”, ou seja, as autorizações do DNPM, cada uma com prazo de três anos. Na prática, a mineradora identifica a jazida e faz os estudos geológicos e de viabilidade econômica. Em seguida, oferece o projeto a investidores brasileiros e internacionais.

quinta-feira, julho 02, 2009

Déficit Zero: RS foi o Estado que menos investiu em educação em 2008

No dia em que “comemorou” 30 meses no Palácio Piratini, o governo Yeda Crusius (PSDB) teve que responder a um dado que ajuda a explicar como o propalado déficit zero foi atingido. Segundo dados do Ministério da Educação, o Rio Grande do Sul foi o Estado que menos investiu em educação no ano de 2008. O mínimo constitucional é de 25%. O governo estadual investiu 18%, ficando em último lugar do ranking dos Estados. A secretária de Educação Mariza Abreu protestou alegando que o MEC não incluiu os gastos com inativos na rubrica “investimentos em educação”. O fato de estar na lanterna dos Estados que investem em educação terá como conseqüência a impossibilidade do governo Yeda fazer convênios com a União para receber recursos adicionais para a área. A posição do Rio Grande do Sul no ranking da educação não chega a surpreender. Desde o início do atual governo, a política do déficit zero tem significado cortes em gastos de custeio e investimentos, atingindo fortemente áreas básicas do serviço público como saúde, educação e segurança.

Fonte: RS Urgente