segunda-feira, junho 30, 2014

Futebol da seleção



No futebol não há lugar para merecimento.

O futebol não é jogo justo que produz recompensas. Por isso é o esporte mais visto no mundo.

O futebol não é linear, mas aleatório, o futebol é resolvido por combinações múltiplas de fatores.

Sem dúvida a qualidade técnica (inteligência e recursos para jogar) e equilíbrio emocional são variáveis fundamentais. Em Copa do mundo esses elementos se aguçam.

A seleção brasileira é pobre nas duas variáveis acima. Individualmente tem um atleta diferenciado, mas o jogo é coletivo.

Imaginação e criatividade sempre sobraram ao Brasil, dessa vez não.

Métodos antigos de motivação não dão mais os mesmos resultados.

Há uma busca de identidade nacional forçada e uma passionalidade a flor da pele que denunciam a falta de qualidade e organização.

A Copa dentro de campo está equilibrada e tudo pode acontecer e o Brasil vencer.

Porém, apesar da sorte ser ingrediente da aleatoriedade ela não ganha sempre sozinha. A bola na trave do Chile na prorrogação foi maldade com a seleção dos andes, azar.

Todos analisam futebol porque ele é inanalisável na sua plenitude.


sexta-feira, junho 13, 2014

Lições do “Ei, Dilma, vai tomar...”

Por Lino Bocchini na Carta Capital

Todo mundo viu. Literalmente todo O mundo. Centenas de milhões assistiram ao vivo um estádio com 62 mil pessoas gritar: “Ei, Dilma, vai tomar no cu!”. Desculpem escrever o palavrão, mas é necessário mostrar a gravidade do que ocorreu. Dilma também viu e ouviu, várias vezes. Na transmissão da Globo o coro invadiu o áudio pelo menos três vezes.

Em um evento como o desta quinta 12, vaias a mandatários são comuns, quase a praxe. O que aconteceu em São Paulo na abertura da Copa do Mundo, contudo, foi além. Não foi uma vaia, como na abertura da Copa das Confederações, em Brasília. Foi uma monumental grosseria made in Brazil. Uma falta de educação abissal e carregada de simbolismo. A plateia que pagou até R$ 990 para estar ali xingando Dilma, e os mais ricos e famosos não pagaram nada. Zero. Estavam, como por exemplo Angélica e Luciano Huck, na área VIP.

E o que Dilma achou disso, o que pensou antes de dormir?

Difícil saber como Dilma registrou essa agressão, mas espero que tire uma lição do que presenciou em Itaquera.

Não faz o menor sentido continuar governando prioritariamente para essas pessoas. E não é uma questão de “gratidão”, nada disso. Dilma é, claro, a presidenta de todos os brasileiros. Mas não se justifica o número de concessões e agrados que ela se obriga a fazer para poderosos em geral, sejam eles do agronegócio, evangélicos fundamentalistas, banqueiros ou donos de redes de televisão.

Alianças

Para chegar ao poder e conseguir governar, Lula fez tais concessões – que já existiam desde sempre, diga-se. Escolheu um grande empresário para a vice, aliou-se a partidos conservadores, discursou várias vezes para os donos do dinheiro prometendo não ameaçar seu poderio –como de fato não o fez. Naquele momento histórico, entretanto, essa atitude era estratégica, defensável até. Não é mais.

O quadro é outro, o país é outro. Ninguém mais, a não ser os delirantes que enxergam sombras de Chávez e Fidel embaixo da cama, acha que o PT vai colocar sem-tetos em seu apartamento ou implantar uma ditadura comunista no Brasil.

No dito popular, "sem quebrar ovos não se faz uma omelete". Alguns argumentarão: “mas no Brasil isso é impossível, as estruturas estão aí há séculos, não dá para mudar tudo de uma vez”. Concordo. Tudo é muita coisa, e de uma vez é muito rápido. Mas entre o chavismo e os Estados Unidos há muitas possibilidades. Temos que criar nosso próprio modelo. E aí não tem jeito: Dilma tem que quebrar alguns ovos. E se não dá para quebrar a caixa inteira, pelo menos alguns têm que ir para a frigideira. Por exemplo:

Reforma política profunda, minando o próprio sistema que a faz refém de picaretas históricos por um par de minutos na TV;

Taxação de grandes fortunas, começando pelas astronômicas e inaceitáveis heranças que perpetuam a desigualdade no país;

Reforma agrária real, abandonando o incômodo posto de governo que menos assentou famílias;

Democratização real da comunicação, revendo concessões públicas e alocando melhor as verbas publicitárias governamentais;

Direitos humanos de verdade, encarando de forma contundente o racismo, a homofobia e o machismo;

E por aí vai, o número de “ovos” a ser quebrado no Brasil dava para fazer uma omelete pro país todo. “Ah, mas não vai dar para fazer tudo isso”, dirão alguns. É óbvio que não será possível fazer tudo o que realmente tem de ser feito em nosso país de uma vez e ao mesmo tempo. Mas para valer a pena um segundo mandato, ou Dilma encara de frente esses desafios ou seguirá governando para estes que a xingaram de forma grotesca na abertura da Copa.

O que você escolhe, Dilma?

A copa e o x da questão



O texto que compartilho traduz o por que tenho dito que o x da questão econômica do país não está nos gastos da copa. É fundamental que se instrumentalize a crítica para fazê-la. As contradições sociais que gritam no país não foram produzidas pela copa, mas encontram durante a copa grande oportunidade de visibilidade.

A copa em si e o impacto social negativo que ela provocou (remoções, fortalecimento da especulação imobiliária, submissão econômica e política a FIFA, etc...) também devem ser razão de denúncia e os atingidos tem de ser respeitados e ressarcidos. Porém, há diferenciações a serem feitas e acho que esse breve artigo nos ajuda a entender quais são.

Penso que durante a copa os protestos serão protagonizados mais pela violência, muito em função da postura da polícia e, em menor escala, também pelo retorno de um perfil de manifestante que adota a estratégia do enfrentamento mais direto.

Apesar de pensar assim, tem todo meu apoio aqueles que forem as ruas para fazer suas denúncias programática e sérias, bem como as categorias de trabalhadores que estão reivindicando dignidade e melhores condições com estratégias autonomamente constituídas.

A copa está aí, não vejo só aspectos negativos nela, eles são muitos, mas não confundamos o que é celeuma do evento em si com os do país como um todo. Há retornos positivos, materiais e culturais, que não são mensuráveis e que só um preconceito muito raivoso pode nos impedir de perceber.


Segue link do artigo referido:  Brasil gasta quase um Itaquerão por dia com juros da dívida pública