segunda-feira, novembro 30, 2009

Cotas: A Resistência dos Mestiços

Por WALTER PRAXEDES
Doutor em Educação (USP), Sociólogo e Professor da Universidade Estadual de Maringá e Faculdades Nobel.

Uma das grandes dificuldades para pensarmos sobre como implementar uma política emergencial de cotas mínimas para o ingresso de estudantes negros no ensino superior brasileiro, tendo como objetivo acelerar a melhoria na condição educacional e sócio-econômica dos cidadãos negros, é a resistência de muitos mestiços contra tal iniciativa.

Nós, mestiços, como sujeitos culturalmente híbridos que compõem a maioria dos cidadãos deste país multiétnico e multirracial, muitas vezes nos sentimos agredidos com a proposta do estabelecimento de cotas para os afro-descendentes que possuem a cor da pele mais escura, talvez porque ela contrarie duas importantes formas de ideologia que fundamentam a nossa “razão de viver” e nos motiva na construção de nossas trajetórias. Estou me referindo à “ideologia do mérito” combinada com a “ideologia do branqueamento”.

Uso aqui o termo ideologia como sinônimo de “ilusão necessária”, ou seja, como uma visão distorcida das relações sociais, mas que nasce da própria dinâmica das relações sociais, na convivência entre indivíduos, classes sociais, grupos étnicos e raciais, e encobre a reprodução da hierarquia econômica, entre proprietários e não proprietários; da hierarquia social, entre burgueses, camadas médias e trabalhadores braçais; da hierarquia política, entre governantes e governados; e da hierarquia racial, entre brancos e negros, presente nas formas de hierarquia citadas anteriormente, através de formas de seleção pretensamente democráticas, mas que negam na prática a possibilidade de ascensão social para os negros no Brasil.

O que fundamenta a ideologia meritocrática é a idéia segundo a qual todos aqueles que se empenham e que são competentes acabam aproveitando as oportunidades que surgem em suas vidas. Transformando as dificuldades em desafios o portador do mérito vence a competição pelas posições mais vantajosas no sistema sócio-econômico. Esse é o sonho que anima as chamadas classes médias a uma emulação sem limites, a um esforço sobre-humano, em busca da ascensão social.

Uma pergunta simples atesta a falsidade da ideologia meritocrática: todos aqueles que possuem o mérito alcançam as posições hierárquicas que desejam? Um interlocutor meritocrático poderia objetar: quem não consegue a posição desejada é porque não possui realmente o mérito.

Operando desta maneira, como ideologia, o mérito serve para responsabilizar o próprio indivíduo pela sua posição na hierarquia social, culpando-o por um fracasso que só é produzido porque a estrutura social é hierarquizada.

Como a maioria da população brasileira possui ancestrais negros, e como sobre os negros pesam preconceitos seculares que atribuem a eles as características mais depreciadas pela cultura hegemônica de origem européia, somando-se a isso o fato de que a maioria dos negros se encontra nas posições mais desprestigiadas do mercado de trabalho, para ascender socialmente o mestiço tenta se afastar do polo negro de sua origem biológica, cultural e sócio-econômica. Este mecanismo é denominado pelos estudiosos das relações raciais no Brasil como “ideologia do branqueamento”.

Em síntese, o mestiço que incorpora a ideologia do branqueamento quer se esquecer de sua origem negra, desenvolvendo uma identidade que torne possível a sua assimilação ao mundo dos brancos, considerado mais prestigioso, elegante e próspero. A idéia de que na sociedade brasileira vence quem possui o mérito é abraçada pelo mestiço, que é levado a acreditar que a origem étnica e racial não é tão relevante, afinal, somos todos iguais e é preciso ter competência para vencer.

Combinadas, as ideologias do mérito e do branqueamento encobrem a existência de mecanismos discriminatórios, irracionais e muitas vezes inconscientes, que dificultam o acesso às oportunidades de ascensão social para os cidadãos negros que não podem passar por brancos, como podem os mestiços de pele clara.

O que fica escondido por essas ideologias do esforço individual e da assimilação cultural é o fato de que quem não se “branqueia” acaba discriminado. Com pouca ou nenhuma oportunidade, um cidadão negro dificilmente desenvolve o mérito que permite a ascensão social. É exatamente para atender às demandas de tal segmento da população brasileira que está sendo proposta a implementação de uma política que incentive o seu ingresso no ensino superior, com um adequado acompanhamento pedagógico durante o curso – as famosas cotas -, que tanta polêmica estão gerando.

Enquanto não pudermos acabar com todas as formas de hierarquia que tornam explosivas as relações sociais, é recomendável, ao menos, que um cidadão não seja impedido de ocupar determinadas posições sociais em virtude de sua origem étnica ou racial.

Através do mecanismo emergencial das cotas espera-se que o acesso ao ensino superior torne possível que muitos negros desenvolvam as suas potencialidades. Os efeitos desta mudança sobre a condição de vida da população negra só podem ser benéficos. Já sobre o imaginário racista da maioria da população brasileira é imprevisível.

Dos mestiços como eu, acredito que um pouco de solidariedade com os que sofrem mais com os efeitos do racismo é o mínimo que se pode esperar. Mas talvez não haja argumento capaz de convencer quem possui um ponto de vista fundado em um pressuposto inconsciente e que faz questão de mantê-lo devidamente esquecido.



sábado, novembro 28, 2009

Poemas

Quando amanheceu

Acordei

Poucas horas de sono

Estava escuro ainda

Pouco me alimentei

Abro a janela

Apenas um dia igual ao outro

O sol não vai aparecer

Coloco meu uniforme, e vou

Nada de novo

Embora totalmente diferente

O sinal tocou, o portão se abriu

Repito os movimentos, os pensamentos também

A mesma escuridão a luz do dia

Nossos caminhos são iguais

Todos reunidos, migalhas

A televisão ligada

Não vejo saída

Conversas dispersas

Alguém lá fora a gritar

Uma voz me diz para apenas trabalhar

Uma sirene silencia

Mentiras no papel

Não escuto mais, quero apenas me alimentar

E para isso não posso pensar

Tenho que trabalhar, contas a pagar

Um sinal a mais escutar, um portão aberto a mais

Entrar

Fecho a janela

… que diferença faz?

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A Festa.

Muitos convites para os convidados

Muita bebida e comida para os sorrisos e supostos famintos

Os restos para os criados e suas proles

(O mendigo ao longe...)

Uma banda para animar a festa

Recicla a mentira

(… enxerga tudo...)

A moça para saciar seu maior trauma

Afoga suas magoas em fetiches, fantasias

(… sente-se bem...)

O moço, para superar suas fraquezas

Aumenta os traumas alheios

(… e de longe ele pensa: luxo... lixo)

E assim, vão para casa sem saber que

Seu lixo, é luxo.

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Ambos os poemas são do meu amigo Vico Calheiros.

sábado, novembro 21, 2009

Não ao Desemprego

A gravíssima crise económica e financeira que está convulsionando o mundo traz-nos a angustiante sensação de que chegámos ao final de uma época sem que se consiga vislumbrar o que e como será o que virá de seguida.

Que fazemos nós, que assistimos, impotentes, ao avanço esmagador dos grandes potentados económicos e financeiros, loucos por conquistar mais e mais dinheiro, mais e mais poder, com todos os meios legais ou ilegais ao seu alcance, limpos ou sujos, regulares ou criminais?

Podemos deixar a saída da crise nas mãos dos peritos? Não são eles precisamente, os banqueiros, os políticos de máximo nível mundial, os directores das grandes multinacionais, os especuladores, com a cumplicidade dos meios de comunicação social, os que, com a soberba de quem se considera possuidor da última sabedoria, nos mandavam calar quando, nos últimos trinta anos, timidamente protestávamos, dizendo que não sabíamos nada, e por isso nos ridicularizavam? Era o tempo do império absoluto do Mercado, essa entidade presunçosamente auto-reformável e auto-regulável encarregada pelo imutável destino de preparar e defender para sempre e jamais a nossa felicidade pessoal e colectiva, ainda que a realidade se encarregasse de desmenti-lo a cada hora que passava.

E agora, quando cada dia aumenta o número de desempregados? Vão acabar por fim os paraísos fiscais e as contas numeradas? Será implacavelmente investigada a origem de gigantescos depósitos bancários, de engenharias financeiras claramente delitivas, de inversões opacas que, em muitos casos, mais não são que massivas lavagens de dinheiro negro, do narcotráfico e outras actividades canalhas? E os expedientes de crise, habilmente preparados para benefício dos conselhos de administração e contra os trabalhadores?

Quem resolve o problema dos desempregados, milhões de vítimas da chamada crise, que pela avareza, a maldade ou a estupidez dos poderosos vão continuar desempregados, mal-vivendo temporariamente de míseros subsídios do Estado, enquanto os grandes executivos e administradores de empresas deliberadamente conduzidas à falência gozam de quantias milionárias cobertas por contratos blindados?

O que se está a passar é, em todos os aspectos, um crime contra a humanidade e desde esta perspectiva deve ser analisado nos foruns públicos e nas consciências. Não é exagero. Crimes contra a humanidade não são apenas os genocídios, os etnocídios, os campos de morte, as torturas, os assassinatos selectivos, as fomes deliberadamente provocadas, as contaminações massivas, as humilhações como método repressivo da identidade das vítimas. Crime contra a humanidade é também o que os poderes financeiros e económicos, com a cumplicidade efectiva ou tácita de os governos, friamente perpetraram contra milhões de pessoas em todo o mundo, ameaçadas de perder o que lhes resta, a sua casa e as suas poupanças, depois de terem perdido a única e tantas vezes escassa fonte de rendimiento, quer dizer, o seu trabalho.

Dizer “Não ao Desemprego” é um dever ético, um imperativo moral. Como o é denunciar que esta situação não a geraram os trabalhadores, que não são os empregados os que devem pagar a estultícia e os erros do sistema.

Dizer “Não ao Desemprego” é travar o genocídio lento mas implacável a que o sistema condena milhões de pessoas. Sabemos que podemos sair desta crise, sabemos que não pedimos a lua. E sabemos que temos voz para usá-la. Frente à soberba do sistema, invoquemos o nosso direito à crítica e ao nosso protesto. Eles não sabem tudo. Equivocaram-se. Enganaram-nos. Não toleremos ser suas vítimas.

José Saramago

Fonte: O caderno de Saramago


quinta-feira, novembro 12, 2009

Devolta

Larga o casaco na varanda
bate o pé fica a vontade
faz o sinal pra santa
e me conta as novidades

Vou pedir uma bebida
pra molhar nossa palavra
esquecer a tal ferida
que a tempos não fechava

Como é bom te ver por perto
a saudade se lembrou
que o futuro é tão modesto
pra quem não o inventou

Leva tudo que te derem
as mudas, o pão e o alecrim
deixa de lado o que te fere
a porta eu abro venha sempre venha sim

E quando sentires falta
de um colo ou de um afago
que meu caminho seja pauta
da tua trilha ao meu abraço

OBs: A musicar

quarta-feira, novembro 11, 2009

AÇÃO AFIRMATIVA – É necessária uma nova Abolição?

por Muniz Sodré

Há uma questão atravessada na garganta de grupos empenhados na defesa das políticas afirmativas da cidadania negra. Trata-se de saber por que os jornalões (nome talvez mais palatável do que “grande mídia impressa”) brasileiros não dão voz alguma a quem se manifesta favorável a medidas como a instituição das cotas ou ao Estatuto da Igualdade Racial. Como bem se sabe, esses jornais vêm dando largo espaço a jornalistas e intelectuais decididos a demonstrar que as ações afirmativas constituem uma nova forma de racismo, já que raça não existe e, ademais, como a população brasileira é predominantemente miscigenada, todos os nossos concidadãos teriam a sua cota de negritude. Logo, não faria qualquer sentido ficar procurando saber quem é negro ou branco para proteger o primeiro.

Foi essa a questão debatida nos dias 14 e 15 de outubro, durante o seminário “Comunicação e Ação Afirmativa: o papel da mídia no debate sobre igualdade racial”, realizado na Associação Brasileira de Imprensa por entidades como Comdedine, Cojira e Seppir. É bem sabido que há vozes discordantes das opiniões oficiais dos jornalões, por parte de jornalistas de peso, alguns dos quais pertencentes aos quadros desses mesmos jornais. É o caso de Elio Gaspari, Miriam Leitão e Ancelmo Gois. Estes dois últimos, aliás, foram palestrantes no seminário.

Uma instituição retrógrada

Na mesa sobre “a responsabilidade social da mídia e o debate sobre raça” – que dividi com a jornalista Márcia Neder, da revista Claudia –, comecei afirmando que há certas visibilidades que nos cegam. O sol, por exemplo, se tornado excessivamente visível (olhado de frente), nos impede de enxergar. Mas há também objetos sociais que, se tornados visíveis demais, podem bloquear a visão de quem antes acreditava ver. Parece-me ser este o dilema da cor, do fenótipo escuro, na atualidade brasileira, onde vislumbro um caso de cegueira cognitiva.

De fato, a questão vem sendo tratada como ser pró ou contra o racialismo. A maioria dos favoráveis a propostas como o Estatuto da Igualdade Racial, cotas para universitários etc., lastreia os seus argumentos com as razões do anti-racismo; os desfavoráveis, embora reconhecendo a existência episódica e anacrônica de incidentes racistas, tentam fazer crer que vivemos no melhor dos mundos em termos de conciliação das diferenças étnicas e que seria, portanto, um retrocesso civilizatório racializar a população. Curioso é que esses mesmos argumentos desfavoráveis, sem que seus autores se dêem conta, são racialistas em última análise, ao apelarem para as noções de miscigenação biológica.

Por outro lado, de modo geral, todos se habituaram a pensar na escravidão ora como uma mácula humanitária, ora como um anacronismo, uma instituição retrógrada na história do progresso. Vale, entretanto, apresentar uma opinião de outro matiz, a de Alberto Torres, autor de O Problema Nacional Brasileiro. Foi um dos grandes explicadores do Brasil entre o final do século 19 e início do 20.

A saudade do escravo

Conservador em termos sociais (refratário à urbanização e à industrialização), propugnador de uma República autoritária, Torres revela-se, entretanto, interessante em termos metodológicos e teóricos. Diz em seu livro que “a escravidão foi uma das poucas coisas com visos de organização que este país jamais possuiu. (…) Social e economicamente, a escravidão deu-nos, por longos anos, todo o esforço e toda a ordem que então possuíamos e fundou toda a produção material que ainda temos”.

Torres era, insisto, autoritário e conservador. Gerou epígonos como Oliveira Vianna, esse mesmo que chegou a justificar em sua obra o extermínio do “íncola inútil”, isto é, do habitante das regiões empobrecidas do país. Era, entretanto, um conservador diferente: discordava das teses sobre a inferioridade racial do brasileiro, não era racista. Sua frase sobre a escravidão é algo a ser ponderado, principalmente quando cotejada com o dito de Joaquim Nabuco: “A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil. (…) Ela envolveu-me como uma carícia muda toda a minha infância” (Minha Formação).

É célebre essa passagem sobre a memória afetiva da escravidão – a saudade do escravo. Ela é a superfície psicológica do fato histórico-econômico de que as bases da organização nacional foram dadas pelo escravismo. Por isso, vale perguntar que apreensão os brasileiros fazem desse fato, pouco mais de um século depois da Abolição.

Perpétuos cães de guarda

Alguns pontos devem ser considerados:

1. A palavra “apreensão” não diz respeito a concepções intelectuais, e sim, à incorporação emocional ou afetiva do fenômeno em questão. No interior de uma forma social determinada, nós apreendemos por consciência e por hábito o seu ethos, isto é, a sua atmosfera sensível que nos diz, desde a nossa mais tenra infância, o que aceitar e o que rejeitar.

2. A reinterpretação afetiva da “saudade do escravo”, que envolve (a) as relações com empregadas domésticas e babás (sucedâneas das amas-de-leite); (b) o afrodescendente como objeto de ciência (para sociólogos e antropólogos); (c) imagens pasteurizadas da cidadania negra na mídia.

Diferentemente da discriminação do Outro ou do racismo puro e simples, a saudade do escravo é algo que se inscreve na forma social predominante como um padrão subconsciente, sem justificativas racionais ou doutrinárias, mas como o sentimento – decorrente de uma forma social ainda não isenta do escravagismo – de que os lugares do socius já foram ancestralmente distribuídos. Cada macaco em seu galho: eu aqui, o outro ali. A cor clara é, desde o nascimento, uma vantagem patrimonial que não deve ser deslocada. Por que mexer com o que se eterniza como natureza?

Nada, portanto, da velha grosseria racista, da velha sentença de “pão, pano e pau” proferida pelo padre Antonil a propósito dos negros. Não há mais lugar histórico para o “pau” desde a Abolição, ou melhor, desde a Lei Caó. O argumento explicitamente racista não leva ninguém a lugar algum no império das tecnologias do self incrementadas pelo mercado e pela mídia.

Mas é imperativo para o senso comum da direita social que as posições adrede fixadas não se subvertam. O escravismo é mais uma lógica do lugar do que do sentido. É dele que, de fato, têm saudade os que acham um escândalo racial proteger as vítimas históricas da dominação racial. E os jornalões, intelectuais coletivos das classes dirigentes, não fazem mais do que assim se confirmarem ao lhes darem voz exclusiva em seus editoriais e em suas páginas privilegiadas, ao se perpetuarem como cães de guarda da retaguarda escravista. É oportuno prestar atenção à letra da canção de Cartola (“Autonomia”) em que ele afirma a necessidade de “uma nova Abolição”.
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Fonte: Observatório da Imprensa

terça-feira, novembro 03, 2009

O silêncio da intelectualidade gaúcha

Reproduzo aqui comentário do leitor Franklin Cunha a respeito do estado das coisas no Rio Grande do Sul:

“O que mais nos impressiona nessa cortina de silêncio em torno das denúncias de crimes do atual governo, é a absoluta ausência de manifestações da intelectualidade gaúcha. Descrevem o pôr-do-sol, os ipês floridos, a feira do livro,as festas gauchescas, preocupam-se com os monumentos públicos, como se todas essas “monstruosidades ” geradas no Piratini, não existissem. Não podemos acreditar que todos eles foram cooptados pelas benesses do poder”.

Após ler esse comentário, fiquei tentando me lembrar de alguma manifestação recente neste sentido vinda da intelectualidade guasca…Se alguém tiver notícia, favor avisar.

Marco Weissheime do RS urgente.

domingo, novembro 01, 2009

Nota de repúdio a mais uma ação da governadora Yeda contra os lutadores populares do RS

Nesta quinta-feira, dia 29 de outubro, no final da tarde, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul apreendeu panfletos, cartazes, chapas de impressão e dois computadores na sede da Federação Anarquista Gaúcha (FAG), e encaminhou os militantes presentes para a 17ª DP. Os advogados da FAG garantiram a liberação dos companheiros.

Em mais de uma frente de ação, tanto na capital quanto no interior, temos a felicidade de contar com estes companheiros para a luta anticapitalista unitária. De forma construtiva e respeitosa, temos tido a oportunidade de superar preconceitos infundados que separavam certos comunistas de certos anarquistas, construindo a unidade dos lutadores com perspectiva e prática classista e revolucionária.

Yeda Crusius decidiu mover uma ação por “injúria, calúnia e difamação”, em função de cartazes da FAG onde a governadora é responsabilizada pelo assassinato do sem-terra Elton Brum da Silva. A governadora, que recentemente se livrou de ser investigada por corrupção na Assembleia Legislativa (casa tão desmoralizada quanto o Executivo), decidiu agora ir à forra e retomar a sua campanha de criminalização das lutas e dos movimentos populares. Não bastassem os assassinatos de lideranças populares, cometidos pela Brigada Militar em sua gestão – do qual o caso do companheiro Elton é apenas o mais recente - , temos percebido uma mobilização crescente do aparelho repressor do Estado contra a nossa militância.

Em março deste ano, militantes do PCB, que realizavam atividade de solidariedade ao MST no interior do estado, foram abordados por policiais militares que os forçaram a entregar dados pessoais para um “cadastro de militantes e simpatizantes do MST no RS”. Como a Brigada Militar atua como força auxiliar do latifúndio e suas milícias, temos razões para nos mantermos alertas.

Ainda mais recentemente, agora neste mês de outubro, o nosso camarada Pedro Munhoz, cantor e compositor, sofreu duas sérias tentativas de intimidação. A primeira quando cantava em Alvorada com o grupo Teatro Mágico, e outra após a sua participação no ato-show Fora Yeda. Nas duas oportunidades Pedro declamou no palco o seu belo poema “Quando matam um sem-terra”, que deve incomodar bastante a governadora porque toca com propriedade em algumas feridas: debaixo de um capacete / Dá a ordem o Gabinete, / (…) quando matam um Sem Terra / outras batalhas se espera, / dois projetos em disputa. / Não se desiste da luta, / quando matam um Sem Terra.

Pedro não deixará de cantar e declamar sua poesia, como nós não deixaremos de lutar lado a lado com o MST, a FAG, e com todos aqueles que se colocam na luta revolucionária contra o capitalismo.

Conclamamos todos os lutadores da classe trabalhadora a dobrarem a vigilância e a multiplicarem a solidariedade.

29 de outubro de 2009,

Comissão Política Regional do PCB no RS