quarta-feira, março 27, 2013

O Governo e Feliciano

Faço parte de muitas coisas, mas não sou filiado a partido político institucional. Sou parte de algumas alas de pensamento, mas não estou em nenhuma tendência organizada. Por alguns sou bastante criticado por isso, outros compreendem minhas escolhas. Fiz esse introito porque vou falar de partidos políticos e o seu pode estar entre eles.
Vejo vários membros do PT, do PC do B, do PSB, do PDT e do PMDB, isto é, partidos da base aliada do Governo Federal, se indignarem, legitimamente, pelo disparate que é o fato do Pastor Deputado Feliciano ser presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal. Contudo, não devemos esquecer que a responsabilidade (direta ou indireta) por Feliciano chegar a esse posto é do Governo Dilma e de seus parlamentares que negociaram essa comissão assim como o fizeram com a Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal. PT e PMDB priorizaram ocupar espaços em comissões disputadas como a de Constituição e Justiça e a das Relações Exteriores e Defesa Nacional deixando a de Direitos Humanos de lado. Esses dois partidos têm hoje poder de escolher não só as prioridade políticas do país como os espaços representativos no Congresso. 
Em uma inteligente articulação (ou desarticulação), o Governo Dilma deixou que uma aberração como essa, Feliciano presidir a CDHM, acontecesse. Expôs o pastor e a bancada evangélica como um todo e inflamou os movimentos sociais que, com razão, lutam pela saída de Feliciano do cargo. A opinião pública, também com razão, se mobiliza e debate o tema, (aspecto positivo de tudo isso) membros do governo fazem coro a esse bonito levante contra o obscurantismo e o preconceito que o Brasil está assistindo, mas não fica claro que foi por omissão dessa base aliada do governo que isso tudo ta acontecendo. 
Sei que ser militante defensor de um governo de colisão é um desafio que pode chegar a esses labirintos, a contradições como essas. Mas foram os deputados da base aliada, orientados por uma postura estratégica do Governo Dilma, que permitiram a ascensão do Pastor Feliciano e são eles que, por pressão popular, vão ter de tirá-lo do cargo.
Pelo que se está percebendo Feliciano afirma que "só sai morto", agora parece que o trabalho político e regimental vai ser dobrado, tendo em vista que a estratégia de "deixar o povo esquecer" não vai ser eficaz nesse caso. O governo vai ter que, desfazer o que fez, ou se preferirem, concertar o que deixou que fosse feito. 

terça-feira, março 19, 2013

Universitária

Ontem foi muito difícil chegar na 'facul', trânsito cheio e aqueles ônibus e lotações cortando a frente todo tempo. Se bem que na hora que sai da academia, ainda de tarde, pra ir no 'super' o tráfego já era grande, tinha umas carroças travando a passagem também, bem chato. Isso que é tudo bem perto. 
Na aula sempre tem aqueles colegas malas que ficam estendendo discussões ao invés de deixar o 'profe' dar o conteúdo logo, mas também tem professores que gostam de falar bastante sobre coisas nada a ver com o curso, ficam criticando as empresas e tal, mas enfim. 
Me interesso por várias coisas na aula, to pensando em fazer voluntariado com uns colegas em uma associação que ajuda crianças, só não gosto quando começa os assuntos polêmicos. Quase sempre depois da aula passo em casa, como uma salada que a Diva deixa pra mim, olho a novelinha e o BBB, porque ninguém é de ferro, e entro no Face. 
Agora tenho ido a vários lugares legais com as gurias, revezamos a motorista da rodada, mas elas preferem me pegar porque demoro demais pra me arrumar. Tem uma colega que entrou na turma agora e nos sugeriu ir em um barzinho, achei meio chinelagem, pessoal meio estranho, não falei pra ela, mas notei que as gurias não curtiram também. Tanto foi que nem tiramos foto pra postar no instagram, temos registrados todas nossas festas, mas essa era muita queimação. 
Descobri que essa colega nova é bolsista na 'facul' e quando fomos deixar ela em casa, vi que ela mora bem pertinho da casa da Diva, tri coincidência.
Falei pra Diva que tinha uma colega que era vizinha dela, ela me disse que conhece a menina há um bom tempo. Contei que a guria é super querida, mas que gostava de uns filmes diferentes, de saraus e tal. Nada contra, mas essas coisas não são balada mesmo e são entediantes às vezes.  Ela nos contou que participou de uns protestos organizados pela internet, sobre coisas do meio ambiente e feminismo. Falamos que pra quem está no trânsito essas manifestações atrasam a vida e que as mulheres tinham que se preservar mais. Ela nos respondeu que a intenção era impactar e incomodar mesmo. Pela cara das gurias já vi que aquela conversa não iria longe. 
Quem entra no meu face sabe que não to metida nessas coisas de política, mas essa colega fica mandando convites e tem umas fotos que não gosto. Não sei o que fazer com isso, afinal a internet é diversão e coloco ali coisas legais tipo restaurantes e viagens. 
São as diferenças né, é a vida. 

quarta-feira, março 13, 2013

Para entender o caso Feliciano

Para quem não está entendendo o grande apelo na internet pela retirada do pastor e deputado Marco Feliciano da presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal:
Temos algo para aprender e entender!
O que está ocorrendo vem sendo pensado há mais de um ano, uma clara aliança entre a bancada ruralista e a bancada evangélica. Blairo Maggi, um dos maiores produtores de Soja e desmatadores do mundo, foi eleito recentemente presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado com apoio dos evangélicos, em contra partida, Feliciano teve apoio dos ruralistas. 
O que está em jogo? Muitos temas relacionados à demarcação de terras de remanescentes de quilombos, reservas indígenas e áreas de preservação ambiental interessam aos ruralistas, que desejam expandir suas propriedades. A Comissão de Direitos Humanos e Minorias vinha rejeitando projetos que mudassem a legislação  sobre essas matérias, o que, de certa forma, protegia o direito dessas populações. 
Agora, com Feliciano, esses projetos ruralistas tendem a passar e com o controle da Comissão de Meio Ambiente do Senado abri-se caminho para os projetos privados. 
Em troca de passar as pautas ruralista os evangélicos garantem que qualquer projeto das causas gays, transexuais, dos movimentos de caráter étnicos sejam bloqueados. O que impede que se avance nos direitos dos negros, de homossexuais e em temas que envolvam aborto, prostituição e afins. 
Se perde dos dois lados, se coloca em risco direitos fundamentais de minorias, se relativiza garantia constitucional da propriedade de povos citados, se fortalece o obscurantismo conservador e se fomenta o preconceito e a impunidade no principal lugar de representação política do país. 
Por isso era preferível excluir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da  Câmara Federal do que eleger o pastor Feliciano para sua presidência. 
Já no primeiro dia o pastor mudou toda a pauta da reunião da comissão, de todos projetos da nova pauta, metade são de sua própria autoria. 
Esse é o tamanho do problema gente, por isso a mobilização é grande, por isso é importante compreendermos o que ta acontecendo no nosso país. Diretos Humanos e Meio Ambiente não poderiam ser negociáveis, os partidos que compõe o governos federal não poderiam permitir o que está ocorrendo. Como se portou os deputados do seu estado e do partido que você votou?
Sem entender o que está em jogo não seremos capazes de encontrar alternativas para os problemas que estamos enfrentando. 

Gregório Grisa

sexta-feira, março 08, 2013

Chávez, multidão vermelha faz história



Rodrigo Vianna direto de Caracas, 

A multidão nas ruas nem sempre é boa medida para avaliar um sistema político. Existem as multidões enfurecidas, as multidões conduzidas por ditadores. As multidões amorfas.

Acima, vemos a multidão vermelha (foto) que tomou as ruas de Caracas para se despedir de Chavez. Do alto, imagem que impressiona. Mas é preciso baixar à rua e olhar a história da América Latina para compreender de que multidão se trata.

De táxi, eu tentava me aproximar do Forte Tiúna – sede do comando das Forças Armadas da Venezuela, onde ocorre o velório de Hugo Chavez. O motorista que me conduzia olhava a multidão nas ruas e dizia: “quanto estão pagando a essa gente para vir até aqui?” Ah, os taxistas…

Desci do carro, segui a pé com o cinegrafista Josias Erdei. Multidões desciam dos morros. Mães com crianças de colo, homens jovens de mãos dadas com as mães já alquebradas pelas idade, pais conduzindo famílias inteiras pelas ruas. Tristeza, sim, mas sem desespero. E os gritos: “Chavez vive, la lucha sigue”.

Essa é a multidão da democracia, tantas vezes pisoteada na América Latina. Pisoteada no assassinato de Gaitán na Colômbia em 1948, no suicídio de Vargas em 54, nols golpes militares do Cone Sul dos anos 60 e 70. A multidão vermelha de Caracas é a mesma que baixou dos morros, em 2002, e garantiu o mandato de Chávez. Os golpistas tinham as televisões, os empresários, a classe média. Chavez tinha o povão. Ou seria o contrário: o povão tinha Chávez, e dele não abriu mão.

É preciso lembrar sempre: a multidão precede Chávez na história da Venezuela. Não foi Chávez que inventou a multidão, mas a contrário: a multidão é que inventou Chavez.

1989. O governo neoliberal venezuelano anuncia um aumento geral de tarifas. A multidão, sem líder, sem controle, põe fogo em Caracas. O Caracazo era o sintoma de que a multidão retomava o fio da história que os idiotas neoliberais imaginavam extinto.

A multidão do Caracazo gerou o Chavez de 92: líder de uma rebelião frustrada. Depois, viria a vitória chavista nas urnas em 1998. E um governo sustentado pela multidão. Sempre.

Chávez é filho da multidão, por mais que dezenas de pessoas com as quais conversei nas ruas de Caracas tendam a ver o contrário: “era como um pai para nós”. Ah, a eterna necessidade humana de se proteger à sombra de um pai poderoso e justo. Mas quantas vezes são os filhos que – sem perceber – conduzem os pais!

A multidão vermelha de Caracas tem o fio da história nas mãos. Vejo cenas emocionantes nas ruas: gente que chora ao falar o nome de Chávez. E um bordão que se repete, mas que não se desgasta: “Chávez somos todos nós, Chávez é a multidão”.

Na fila que passa lentamente ao lado do caixão, senhoras desesperadas se debruçam, fazem o sinal da cruz. Soldados fardados batem continência. Mas às vezes tudo se inverte: o soldado chora, e mulheres batem continência ao “comandante”.

O taxista do começo do texto, coitado, faz parte de um outro mundo. Preso à lógica mercantil, acredita que as pessoas só se movem quando são “pagas”. Mas a multidão de Caracas se move por outros caminhos. A multidão de Caracas parece disposta a conduzir o fio da história.

Discursos derramados na TV. E de repente o aviso (chocante para mim, confesso) de que Chávez será “embalsamado”. Que apego à figura do líder! Chávez, preso numa urna de cristal, não pode fazer nada. É apenas uma alegoria – algo fantasmagórica – num país em que a história se escreve pelas multidão: em 89 no Caracazo, em 2002 na reação ao golpe, em tantas e tantas eleições… E agora também na despedida do líder.

Dia seguinte, sexta-feira: a multidão interrompe sua lenta caminhada ao largo do saguão onde ocorrre o velório. Agora são os chefes de Estado que prestam homenagem a Chávez. Simbolicamente, Nicolás Maduro ergue uma réplica da espada de Bolívar. E a deposita sobre o caixão.

Bolívar conduzia a multidão. Chávez foi conduzido por ela. A multidão vermelha de Caracas faz história.

Mulher

O ser raiz
casa da força
da vida matriz
de meninos e moças

Doce é a mulher
é mãe, sangra
tem forma, colher
do canto e da dança.


Gregório Grisa

quarta-feira, março 06, 2013

Sobre Chávez e a Venezuela

Vendo a televisão e lendo os jornais brasileiros, concluí que o caso Chávez e a situação da Venezuela é um dos temas que mais sofreram manipulação na história recente. É impressionante como articulistas da grande imprensa conseguem deturpar informações, depreciar, desrespeitar e fazer juízos vazios com base em suas convicções pessoais sobre democracia, economia e afins. Rotulam o ex-presidente venezuelano e o processo político desse país de todos os clichês que o pensamento liberal pode inventar.
Para fins didáticos vou listar aqui apenas alguns momentos de disputa e participação da população nas últimas décadas na Venezuela.

Eleições 

dezembro de 1998 -  Chávez foi eleito com 56% dos votos para presidência do país.

em julho de 1999 - eleições para a Assembléia Constituinte os apoiadores de Chávez - conquistam 120 dos 131 lugares.

2006 - Hugo Chávez foi reeleito presidente com 62.9% dos votos.

2012 - Hugo Chávez foi reeleito com 56% dos votos.

Referendos 

abril de 1999 - 70% dos venezuelanos manifestam-se favoráveis à instalação da Assembleia Constituinte chamada por Chávez.

1999 - A nova constituição foi redigida e, após submetida a plebiscito, é aprovada por 71,21% dos eleitores.

2002 - Chávez sofre golpe de Estado apoiado e articulado pela mídia privada. Em 48 horas volta ao poder por pressão popular. Sobre esse fato há um excelente documentário irlandês chamado "A revolução não será Televisionada".

2003 - A Coordinadora Democrática (uma coligação de partidos de direita e de esquerda, liderados pela Súmate, ONG contra o governo), organizou no final de novembro de 2003 uma recolha de assinaturas cujo propósito era convocar uma consulta popular na qual os venezuelanos se pronunciariam sobre a permanência ou não de Hugo Chávez no poder.

agosto de 2004 - ocorre a consulta e 58,25% dos votantes apoiaram a permanência de Chávez na presidência até ao fim do mandato.

dezembro de 2007 - Referendo sobre mudanças na constituição propostas pelo governo. 51% da população rejeitou as mudanças. O comparecimento às urnas foi de 55,1% e a abstenção de 44,9%.

Esse resumo que faço é no intuito de justificar minha repulsa quando ouço alguns comentaristas chamar Chávez de ditador, de caudilho, de autoritário. Isso além de um atentado a inteligência alheia é um desrespeito com o povo venezuelano e com os processos políticos lá construídos.
Por fim, quero propor um raciocínio simples na busca da imparcialidade possível. Chávez foi um governante corajoso que buscou mudanças de acordo com o que acreditava. Imprimiu seu pensamento sobre gestão, política e humanidade em suas ações, enfrentou interesses gigantescos e trilhou reformas com a radicalidade necessária para que elas acontecessem. Seguiu seus valores e sua ideologia.
Da mesma forma que fez Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, se apoiou em um pensamento neoliberal e privatizou o que pode, diminuiu o poder do Estado porque pensava assim e queria atender a determinados interesses. Assim como vários governos latino-americanos o fizeram, nos anos 90 principalmente.
Discordo frontalmente desses governos, porém, não os acho ditaduras, censores nem autoritários. Eles seguiram um pensamento, um conceito de democracia e de Estado dos EUA (país de dois partidos). Já Chávez, com quem concordo bem mais, seguiu o caminho oposto, teve outra postura diante da noção hegemônica de democracia.
A experiência venezuelana é rica e o país melhorou em todos aspectos, diferente do que se vê divulgado na mídia internacional.
Duas dicas para entender melhor isso:
1 - o livro "A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez" de Gilberto Maringoni.
2 - O documentário já referido "A revolução não será Televisionada"







terça-feira, março 05, 2013

A arte

A arte é um trabalho coletivo até quando produzida de modo isolado. Um escritor no mínimo se relaciona com seus "eus". Mas sem dúvida são as pessoas nas filas, nas ruas da vida e suas histórias que constituem as estórias. Um pintor abstrato pode até deixar a pulsão primeira irracional ser o inicio da obra, mas há retoques, revisões e incisões. A intuição para a arte é a soma da sensibilidade com a capacidade de se expressar de algum modo material. A intuição, na a arte, pode ser considerada a madrinha da linguagem, essa tem outras madrinhas e padrinhos, mas a intuição é sua protetora mais poética. 
A palavra intuição vem de IN, "em", mais TUERI, "olhar para, prestar consideração", logo se olhamos algo ou consideramos alguém não se pode descartar a participação do outro na criação. Ser coletiva é premissa da arte, ser plural na sua individualidade e ser única da sua multidimensionalidade. A arte de todo dia pode ser a grande responsável por transformar os seus dias em arte. Pense nisso. 

sexta-feira, março 01, 2013

Confirmação do eu

Talvez seja verdade que não existimos de fato até que haja alguém para nos ver existindo, não conseguimos propriamente falar até que haja alguém que possa compreender o que estamos dizendo, em essência, não estamos completamente vivos até sermos amados. 
O que significa dizer que o homem é um animal social? Apenas que os humanos necessitam um do outro para se definirem e alcançarem a autoconsciência, de uma forma que moluscos e vermes não conseguem. Não podemos chegar a ter um sensação adequada de nós mesmo se não houver outros ao redor para nos mostrar o que somos. "Um homem pode adquirir qualquer coisa na solidão, menos um caráter", escreveu Stendhal, sugerindo que o caráter tem sua gênese nas reações dos outros às nossas palavras e ações. Nossas identidades fluidas e exigem os contornos proporcionados pelos outros. Para nos sentirmos inteiros, necessitamos da proximidade de pessoas que nos conheçam tão bem quanto nós mesmo, às vezes melhor.
Sem o amor, perdemos a capacidade de possuir uma identidade própria; com o amor, existe uma constante confirmação do eu.

Allan de Botton in Ensaios de Amor pg 107 e 108. Ed L&PM POCKET.

Nem

Nem todo conto conta
a trama do drama
nem toda ponta aponta
a direção da chama