quarta-feira, novembro 16, 2011

A teoria em evolução Darwin Estava Errado? Não. Os indícios da evolução são inegáveis.

  Trecho desse texto retirado do site da National Geogrpihic Brasil.


A evolução por meio da seleção natural, a concepção fundamental de toda a obra de Charles Darwin, é uma teoria – uma teoria sobre a origem da adaptação, complexidade e diversidade dos seres vivos na Terra. Para os mais céticos e menos familiarizados com a terminologia científica, é grande a tentação de dizer que se trata de “apenas” mais uma teoria. No mesmo sentido, a relatividade, tal como descrita por Albert Einstein, não passa de uma teoria. A noção de que a Terra gira em torno do Sol, proposta por Copérnico em 1543, também é “apenas” uma teoria. A deriva continental é outra. A existência, estrutura e dinâmica dos átomos? Teoria atômica. Até mesmo a eletricidade é uma elaboração teórica, postulando a existência dos elétrons, minúsculas unidades de massa eletricamente carregadas e jamais vistas. 
Todas essas teorias são explicações que foram confirmadas, até certo ponto, por meio de observações e experimentos, e que os especialistas aceitam como fatos. É isso o que os cientistas querem dizer quando propõem uma teoria: não uma especulação vaga e pouco confiável, mas uma explicação capaz de dar conta das evidências. Eles adotam tais explicações de maneira provisória – considerando-as como a melhor concepção disponível da realidade, até que surjam dados conflitantes ou melhores.
Nós, que não somos cientistas, em geral concordamos na prática com eles. Ligamos nosso aparelho de TV na tomada da parede, nosso ano é medido pelo comprimento da órbita da Terra e, de muitas outras maneiras, levamos adiante nossa vida, confiando na realidade dessas teorias.
A teoria da evolução, porém, é um pouco diferente. Afinal, é uma concepção da vida tão fantástica e abrangente que alguns a consideram inaceitável, apesar da montanha de indícios comprobatórios. Quando aplicada à nossa própria espécie, Homo sapiens, ela parece ainda mais ameaçadora. Muitos cristãos fundamentalistas e judeus ultra-ortodoxos não se conformam com a idéia de os seres humanos descenderem de primitivos primatas, em contradição com suas leituras literais do Gênesis bíblico. O desconforto tem paralelo entre os criacionistas islâmicos que consideram uma verdade literal o relato da Criação em seis dias. Para o falecido Srila Prabhupada, do movimento Hare Krishna, Deus criou “os 8,4 milhões de espécimes vivos no princípio”, a fim de oferecer múltiplos patamares para a ascensão das almas reencarnadas.


por David Quammen

segunda-feira, novembro 14, 2011

Farroupilhas e a Liberdade


<br /><b>Crédito: </b> PEDRO LOBO SCALETSKY



Todo dia 14 de novembro eu penso no massacre de Porongos, acontecido em 1844, no final da "gloriosa" Revolução(?) Farroupilha, quando, por simples coincidência, tropas imperiais caíram justo sobre o acampamento dos negros a serviço dos farrapos e os assassinaram. O acampamento dos brancos teve mais sorte. Na véspera da chacina, o comandante farrapo Davi Canabarro recebeu um aviso por um emissário da irmã do general Neto, fazendeira na região, de que os imperiais estavam na área. Canabarro saiu-se com uma bravata: "O Moringue sentindo a minha catinga aqui não vem. Marche para a sua casa e não ande espalhando esta notícia aterradora aqui no acampamento". Não bastasse, mandou desarmar a infantaria, tirando-lhe o cartuchame. Está tudo documentado. Faço uma minuciosa análise de tudo o que aconteceu em meu livro, odiado por muitos, que prometeram até me capar, "História Regional da Infâmia, o Destino dos Negros Farrapos e Outras Iniquidades Brasileiras".

Não falo disso para fazer autopropaganda. Não é preciso. O livro vende muito bem. Falo para homenagear os negros que foram sacaneados. Eram, na maioria, escravos dos imperiais cooptados pelos farroupilhas com a promessa de liberdade em caso de vitória. Tornaram-se, porém, um obstáculo para a paz, pois seus donos exigiam que fossem devolvidos. O providencial ataque aos negros desarmados em Porongos eliminou uma parte considerável do problema. Aqueles que escaparam foram entregues a Caxias e enviados para o Rio de Janeiro, onde se tornaram escravos da Nação, depositados no Arsenal da Marinha. Existe também a famosa carta assinada por Caxias que dá conta de uma combinação com Canabarro, que acabou fugindo só de cuecas, para eliminar os negros. A carta teria sido assinada depois dos fatos. Um caso único. Assinatura verdadeira, conteúdo falso. Uma linda fábula farroupilha. Malabarismos são feitos para justificar Caxias e Canabarro, que morreram mudos sobre o assunto. Tenta-se explicar a retirada do cartuchame. Tudo lógico demais para ser verdadeiro. Os negros foram rifados em Porongos.

Lanceiros e infantes negros morreram para que um acerto entre os fazendeiros brancos e o Império se concretizasse. Tentou-se apagar previamente a imagem futura de traição dos farrapos aos negros, com a entrega deles aos imperiais, com uma traição ainda maior, a entrega das suas vidas ao inimigo que se sabia próximo e pronto para atacar. Eu li tudo. Não me contaram. Não venham com "subsídios". Eu analisei como ninguém todo o processo e provei que os negros foram levados para o Rio de Janeiro, não para a Fazenda Santa Cruz como se dizia, quando não se negava isso, mas para o Arsenal da Marinha. Provei também que a revolução louvada como abolicionista vendeu negros no Uruguai para se financiar. Por isso, todo ano, em novembro, eu penso naqueles bravos negros massacrados em função de uma esperteza dos nossos "heróis". Aquilo foi malandragem e covardia. Não me venham com "eram os valores da época". A infâmia é intemporal e universal. Os negros sabiam muito bem disso.

Juremir Machado da Silva

quarta-feira, novembro 02, 2011

Sobre educação, racismo e miséria


Douglas Belchior

 
A presidenta Dilma Rousseff elegeu o combate à miséria como prioridade de seu governo. A relevância do tema provoca expectativa, em especial por conta da óbvia compreensão de que o combate à miséria requer algo mais do que políticas compensatórias superficiais, marca das ações governamentais nos últimos anos.
A superação da pobreza depende, fundamentalmente, do rompimento com os interesses do grande capital, no Brasil representado por uma elite racista e preconceituosa, formada por latifundiários e empresários do agronegócio, por banqueiros, especuladores financeiros, grandes meios de comunicação e empresas transnacionais de diversas áreas. Daí porque somente uma mudança estrutural nas relações políticas, sociais, raciais e econômicas seria capaz de combater efetivamente as desigualdades.
 
Pobreza e analfabetismo
Não podemos permitir ou compactuar com corte de recursos ou investimentos públicos nas áreas sociais. Ao contrário, devemos exigir uma ampliação desses investimentos, sempre considerando o peso da variável “raça” na estruturação das desigualdades sociais no Brasil. Para isso, basta analisar os dados do Censo 2010 do IBGE, segundo o qual aproximadamente 16,2 milhões de brasileiros vivem em condições de extrema pobreza. Desses, mais de 70% são negras e negros.
Já a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) divulgada no final de 2010 apontou que o Brasil possui 14 milhões de analfabetos. E mais uma vez, percebe-se a população negra entre os mais preteridos no acesso ao direito à educação.
Aqueles que conseguem superar o analfabetismo encontram inúmeros desafios para completar o ensino médio, ter acesso a cursos técnicos e, principalmente, às universidades. Mesmo com o ProUni e o Enem enquanto via de acesso, as camadas mais empobrecidas têm ficado às margens das oportunidades visto o déficit na preparação prévia adequada e a própria limitação dos programas. São os cursinhos comunitários em todo Brasil que ocupam as lacunas deixadas pelo abandono do Estado. No caso da UNEafro-Brasil, mais de 2 mil jovens oriundos de escolas públicas se organizam em 42 núcleos, aliando estudo e luta em favor da educação pública. Será possível uma política efetiva de combate à miséria sem que haja ações dirigidas à população negra?
 
Lei 10.639/03 e o PNE
O racismo é constitutivo do capitalismo brasileiro. É uma ideologia de dominação sem a qual a elite brasileira não se manteria. Esse quadro explica, em parte, o fato de a Lei 10639/03 (alterada pela lei 11645/08), apesar de sua histórica e festejada aprovação, não ter saído do papel. Afinal, sua intenção é justamente contribuir para a superação dos preconceitos e atitudes discriminatórias por meio de práticas pedagógicas que incluam o estudo da influência africana e indígena na cultura nacional.
É necessário trabalhar para que o Plano Nacional de Educação (PNE), que volta a ser debatido, contemple a necessidade de radicalizar na efetivação das leis 10639/03 e 11645/08. E mais que isso. Em tempos de reivindicação pelo aumento dos investimentos em educação para a ordem de 10% do PIB, a UNEafro-Brasil propõe uma bandeira paralela tão importante quanto: a obrigatoriedade da destinação de, no mínimo, 10% dos recursos da educação de municípios, estados e federação para a aplicação das Leis 10639/03 e 11645/08. É preciso também regulamentar punições severas aos gestores públicos que as descumprirem.
A educação, num sentido ampliado, é tudo o que rodeia e forma o indivíduo, seja na escola formal, no ambiente familiar, nos diversos espaços de sociabilidade. E hoje, mais que nunca, também através dos meios de comunicação, em especial a televisão, a produção cultural (sobretudo na música) e as redes sociais da internet. Essa realidade nos coloca o desafio de pensar numa radical reformulação da educação brasileira, não apenas no que diz respeito aos recursos, mas ao modelo educacional, aos valores e aos métodos.
No Brasil, os afro-brasileiros representam 51% da população (IPEA). Diante dessa realidade, é sempre bom lembrar as palavras do mestre Kabengele Munanga: “Para qualquer pessoa se afirmar como ser humano ela tem de conhecer um pouco da sua identidade, das suas origens, da sua história”.
 
10% do PIB para educação
Não é possível imaginar um desenvolvimento sustentável e socialmente justo em uma sociedade que não prioriza a educação, não valoriza professores e não democratiza o acesso. Sobretudo, é necessário dar uma basta ao modelo neoliberal de educação que, infelizmente caminha a passos largos em nosso país. Exigimos 10% do PIB para o investimento em uma educação de qualidade, gratuita, popular, laica, antirracista, antimachista e antihomofóbica.
 
Douglas Belchior é professor de História e membro do Conselho Geral da UNEafro-Brasil.