Todo dia 14 de novembro eu penso no massacre de Porongos,
acontecido em 1844, no final da "gloriosa" Revolução(?) Farroupilha, quando, por
simples coincidência, tropas imperiais caíram justo sobre o acampamento dos
negros a serviço dos farrapos e os assassinaram. O acampamento dos brancos teve
mais sorte. Na véspera da chacina, o comandante farrapo Davi Canabarro recebeu
um aviso por um emissário da irmã do general Neto, fazendeira na região, de que
os imperiais estavam na área. Canabarro saiu-se com uma bravata: "O Moringue
sentindo a minha catinga aqui não vem. Marche para a sua casa e não ande
espalhando esta notícia aterradora aqui no acampamento". Não bastasse, mandou
desarmar a infantaria, tirando-lhe o cartuchame. Está tudo documentado. Faço uma
minuciosa análise de tudo o que aconteceu em meu livro, odiado por muitos, que
prometeram até me capar, "História Regional da Infâmia, o Destino dos Negros
Farrapos e Outras Iniquidades Brasileiras".
Não falo disso para fazer autopropaganda. Não é preciso. O livro vende muito bem. Falo para homenagear os negros que foram sacaneados. Eram, na maioria, escravos dos imperiais cooptados pelos farroupilhas com a promessa de liberdade em caso de vitória. Tornaram-se, porém, um obstáculo para a paz, pois seus donos exigiam que fossem devolvidos. O providencial ataque aos negros desarmados em Porongos eliminou uma parte considerável do problema. Aqueles que escaparam foram entregues a Caxias e enviados para o Rio de Janeiro, onde se tornaram escravos da Nação, depositados no Arsenal da Marinha. Existe também a famosa carta assinada por Caxias que dá conta de uma combinação com Canabarro, que acabou fugindo só de cuecas, para eliminar os negros. A carta teria sido assinada depois dos fatos. Um caso único. Assinatura verdadeira, conteúdo falso. Uma linda fábula farroupilha. Malabarismos são feitos para justificar Caxias e Canabarro, que morreram mudos sobre o assunto. Tenta-se explicar a retirada do cartuchame. Tudo lógico demais para ser verdadeiro. Os negros foram rifados em Porongos. Lanceiros e infantes negros morreram para que um acerto entre os fazendeiros brancos e o Império se concretizasse. Tentou-se apagar previamente a imagem futura de traição dos farrapos aos negros, com a entrega deles aos imperiais, com uma traição ainda maior, a entrega das suas vidas ao inimigo que se sabia próximo e pronto para atacar. Eu li tudo. Não me contaram. Não venham com "subsídios". Eu analisei como ninguém todo o processo e provei que os negros foram levados para o Rio de Janeiro, não para a Fazenda Santa Cruz como se dizia, quando não se negava isso, mas para o Arsenal da Marinha. Provei também que a revolução louvada como abolicionista vendeu negros no Uruguai para se financiar. Por isso, todo ano, em novembro, eu penso naqueles bravos negros massacrados em função de uma esperteza dos nossos "heróis". Aquilo foi malandragem e covardia. Não me venham com "eram os valores da época". A infâmia é intemporal e universal. Os negros sabiam muito bem disso. Juremir Machado da Silva |
segunda-feira, novembro 14, 2011
Farroupilhas e a Liberdade
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