sexta-feira, julho 30, 2010

CHOMSKY E AS 10 ESTRATÉGIAS DE MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA

O lingüista estadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através da mídia:

1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.

O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')”.

2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.

Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.

Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.

Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!

10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.

No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

quinta-feira, julho 29, 2010

O bosque

Recordar com a idéia de fazer melhor

Superar com o desejo de uma outra chance

Respeitar o que não gostamos de ouvir

Aceitar que poderíamos ter feito


Em toda vontade de ver alguém bem.................Pré refrão

Está presente um sentimento que vai além


Se você conhece alguém, que só de lhe ver

Já lhe entende, e por isso não depende de palavras

Pra te fazer bem...


Alguns pensam que a compaixão

Está à venda em um bosque

E só sente quem se pinta em vão

para mostrar o quanto sofre


Do que se pode explicar,

E do que se pode entender

Cuide de quem gosta de você ..............Refrão

E goste de quem lhe cuida


Assim como um olhar nos move

Tudo acontece logo

Quase sempre, o que fizemos foge..................cai em C

Do que queríamos ter feito


Mas, agora é só resolver

O que fazer com o que aconteceu


refrão


D/F# - G ESTROFE

Em – A – G PRÉ REFRÃO

D – A – Em – G REFRÃO

C – G – D 2X CAÍDA

domingo, julho 25, 2010

Pra que serve a filosofia?

"Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes." (Marilena Chaui)

sábado, julho 24, 2010

Você sabia?

Antigamente, no Brasil, para se ter melado, os escravos colocavam o caldo da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo.
Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse.
Porém um dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam e o melado desandou.

O que fazer agora?

A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor.

No dia seguinte, encontraram o melado azedo fermentado.
Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo com o novo e levaram os dois ao fogo.

Resultado: o 'azedo' do melado antigo era álcool que aos poucos foi evaporando e formou no teto do engenho umas goteiras que pingavam constantemente.

Era a cachaça já formada que pingava. Daí o nome 'PINGA'.

Quando a pinga batia nas suas costas marcadas com as chibatadas dos feitores ardia muito, por isso deram o nome de 'ÁGUA-ARDENTE'

Caindo em seus rostos escorrendo até a boca, os escravos perceberam que, com a tal goteira, ficavam alegres e com vontade de dançar.

E sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo.

(História contada no Museu do Homem do Nordeste).


sábado, julho 17, 2010

Em teu nome


Ontem vi o filme gaúcho "Em teu nome" de Paulo Nascimento. Obra prima, tocante, delicado, poético. Para quem viveu no período da ditadura militar deve ser mais significativo ainda. O filme conta a história real de João Carlos Bona Garcia. Bona nasceu em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, em 1946, e ingressou no movimento estudantil aos 17 anos, influenciado pelos ideais das revoluções Russa e Cubana. Além de nos contar sobre a vida de personagens interessantes, o filme tenta com sucesso reconstruir a situação histórica vivida em Porto Alegre, em Santiago no Chile, em Argel na Argélia e por fim em Paris. Emociona pela situação política de violência e injustiça, mas basicamente por imaginarmos que nossa vida não seria tão diferente daquela. se vivessemos a época. As pessoas fazem escolhas todo o tempo sobre que rumo seguir, mas também somos escolhidos, estamos envolvidos em redes mais amplas e isso é tratado no filme. Uma produção grande, tecnicamente ligada a estética moderna de bom gosto do cinema. Vejam!

sexta-feira, julho 16, 2010

Contribuições de Gramsci

O presente texto tem como objetivo descrever a contribuição que as leituras de Antonio Gramsci, que venho fazendo na disciplina Relendo Clássicos, da professora Carmen Machado, têm trazido para o processo de elaboração do projeto de pesquisa para o doutorado. A temática que desenvolvi no mestrado tem a universidade como fenômeno de pesquisa, procurei acompanhar o processo de implantação das políticas de ações afirmativas na UFRGS. Esse acompanhamento se deu através da participação em espaços administrativos e políticos da instituição e se restringiu a descrever e problematizar reuniões que tratavam especificamente da implantação e avaliação da política.
Pelo fato de continuar participando das comissões relacionadas às cotas na UFRGS, tenho me defrontado com curiosidades, práticas e epistemológicas, que transcendem o processo de implantação da política. Com isso, para o doutorado, tenho o desejo de ampliar o leque de análise para aprofundar a compreensão sobre o fenômeno pesquisado. Como pensamos em fazer isso?
Com o processo de avaliação das cotas já bem avançado no trabalho da comissão constituída para esse fim, deparei-me com realidades, no que se refere a rendimentos dos alunos, real efetividade da política no ingresso na universidade e distintas situações conforme os cursos ou áreas, que desafiam. O acesso a essa quantidade de dados e informações me fez perceber que dentro da universidade, é inviável discutir um tema como as ações afirmativas sem tratar de formação dos professores e de avaliação, essa tanto de sala de aula como institucional. Já no que se refere à sociedade e, em caráter externo a universidade, também fica evidente para quem tem um envolvimento mais intenso, que sem a relação com os movimentos sociais negros e grupos de cursinhos populares, a universidade não consegue implantar uma política desse perfil com a mínima qualidade necessária.
Apesar da pouca idade histórica da temática das políticas afirmativas no Brasil, já há produções significativas sobre sua relevância ou não e esse debate deve avançar. E é aí que Gramsci começa a auxiliar, quando nos retiramos um pouco dos muros da universidade e passamos a pensar em âmbito mais global. O conceito de partido, guerra de posições, a concepção de hegemonia, intelectual orgânico e a própria noção de Estado em Gramsci são categorias que darão um suporte fundamental para entendermos a questão da luta do povo negro no Brasil.
O que está em jogo quando as cotas ficam fora da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial pelo Congresso Nacional? Qual relação de forças está dada? Por que o Estado se nega a transformar em voz jurídica uma medida que evidencia a existência do racismo na nossa sociedade? O papel dos intelectuais orgânicos dos grupos privilegiados tem sido central, através do monopólio da mídia, na formação de opinião acerca das políticas afirmativas, haja vista que o editor do Jornal Nacional da rede Globo, chamado Ali Kamel, tem um livro dedicado a combater a política de cotas.
Gramsci é ainda o clássico mais adequado para entendermos essa dinâmica desses intelectuais conservadores, mas orgânicos de sua classe social. Em uma nota de rodapé em seu livro, a professora Ivete Semionatto cita Coutinho (p. 37, 1990) para explicar a diferença entre intelectual orgânico e o tradicional:

Há uma tendência ao conceber o intelectual orgânico como igual ao intelectual proletário revolucionário e o intelectual tradicional como igual a intelectual conservador. Evidentemente não se trata disso em Gramsci. Para ele, o intelectual orgânico é elaborado pela classe no seu desenvolvimento e pode tanto ser burguês quanto proletário. (SEMIONATTO, p. 52, 1995)


Ainda pensando no cenário político, quando se discutem questões relacionadas aos direitos e conquistas do povo negro, como políticas afirmativas e reconhecimento de terras quilombolas, é fundamental se ter claro que quem ocupa as posições contrárias, majoritariamente, são os setores conservadores, representados pelo DEM (Partido Democratas) e por grandes produtoras rurais que se esforçam para manter a hegemonia, tanto econômica como dos espaços sociais. A universidade ainda é um espaço elitizado e de prestígio, sobretudo a pública que muitos consideram como o espaço da excelência acadêmica, da qualidade. Essa noção de qualidade também está sendo colocada em xeque com as políticas afirmativas, pois está se avaliando um novo contingente docente que historicamente não frequentava os bancos acadêmicos, da mesma forma que se avaliava o grupo privilegiado que ali sempre esteve e o resultado disso será notado.
Ainda como base clássica, Gramsci oferece subsídios fecundos para debater cultura e ideologia, que atravessarão o exercício de análise que pretendo fazer e ambas dão conteúdo ao processo de convencimento, parte fundamental do conceito de hegemonia em Gramsci. É evidente que terei de buscar autores contemporâneos que tratem de modo mais pontual cada problemática proposta, por exemplo, para responder a questão sobre qual a influência das ações afirmativas no processo de formação docente no ensino superior, terei que discutir formação de maneira pormenorizada, entretanto, não conseguirei fugir do debate sobre a cultura do professor universitário, seu papel na sociedade, a ideologia excludente de avaliação, entre outras questões.
Ter Gramsci como referência não significa segui-lo de modo mecânico, há de se ter claro que sua produção se deu em época e realidade muito diferentes da que vivemos. A idéia é perceber sua obra como um solo ético-político para entender a nossa realidade, fazer o movimento de conservação-superação que o mesmo Gramsci fez com relação a Marx e Lênin.
No projeto para o doutorado, há outras demandas que pretendo dar conta, como trabalhar para ampliar o diálogo do movimento negro com a universidade para que esse não fique restrito a ASSURGS (é bem mais avançada a relação com os funcionários do que com a instituição) e comparar distintas experiências de implantação de políticas afirmativas (UFRGS e UFSM, por exemplo). Abordar ainda, quais as transformações objetivas e subjetivas que ocorreram na UFRGS nos cinco anos de implantação, restringindo talvez cursos ou áreas do conhecimento e tendo formação docente e avaliação como temas centrais.


Referências bibliográficas:

COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci e as ciências sociais. Serviço Social e Sociedade, São Paulo: Cortês. 1990.

SADER, Emir (org). Gramsci, poder, política e partido. São Paulo: Expressão Popular, 2005.

SEMIONATTO, Ivete. Gramsci sua teoria, incidência no Brasil, influência no serviço social. São Paulo: Cortês, 1995.

segunda-feira, julho 12, 2010

Sobre a copa e a favorita

Pela primeira vez em qualquer tipo de jogo eu acertei, falo isso de peito inflado e de modo bem exibido. Falei ainda em 2009, quando a seleção espanhola de futebol estava em grande jornada invicta de vários jogos, sucesso que vinha ainda do título da Eurocopa e ótima campanha nas eliminatórias, que os espanhóis eram francos favoritos para a copa. Inclusive tiveram mais dificuldades do que eu imaginei, mas o futebol de alto nível está muito parelho, estudado, planejado haja vista, a final com a Holanda. Nesse POST de junho de 2009, eu já dava minha opinião sobre a Fúria e ela é a mesma ainda, com alguns acréscimos.
O fato da Espanha ser a mais nova campeã do mundo traz um conjunto de movimentos para pensar uma mudança de paradigma do futebol. Vocês sabiam que a Espanha tem o melhor time de futsal do mundo, o mais disciplinado, mais tático e mais eficiente. Nas últimas três decisões em copas do mundo com o Brasil venceu duas. O jeito de jogar da seleção de futebol de campo espanhola guarda muita semelhança com o tipo de jogo do futsal contemporâneo, toque forte rasteiro, movimentação constante e aproximada, passe selecionado com inteligência sem rifar a bola, passe curto, disciplina tática para voltar atrás da linha da bola quando está sem ela e variação de posição dos jogadores. Outro fator importante de destacar é que essa copa mostrou que é melhor ter vários "nânicos" que pensam do que gigantes sem cérebro; Iniesta, Xavi, Villa, Pedro, Xavi Alonso esses são os campeões, os craques. não vou entrar aqui em questões culturais e cognitivas que também fazem parte da formação de um time equilibrado. Isso serve pra mostrar que devem ter fim essas peneiras que muito vi, em que se quer somente jogadores fortes, altos e atléticos, com isso só não se vence. Nós aqui no sul penamos com isso nos profissionais ainda, "burucutus" bem preparados ao invés de jogadores mais sagazes e leves. Quem ganhou para o inter foi Iarlei, Sóbis... para o grêmio Paulo Nunes, Portalupe. Tem que pensar e executar independete do tamanho, e não ter tamanho pra tentar pensar e executar. A Espanha entendeu que no futebol de hoje, no alto rendimento físico não são individualidade com dribles (são impressindíveis, mas não sozinhos) que terão resultado, mas sim um coletivo inteligente e técnico. Parabéns Espanha é lindo vê-la jogar.

Os filmes e o mundo

Assisti sexta-feira última o filme: O escritor fantasma, de Roman Polanski. A história trata de descobertas que um escritor faz ao ser contratado para escrever a biografia do ex primeiro ministro britânico que seria no caso Tony Blair. As relações políticas com grupos econômicos, com a Cia e o apoio nas guerras do oriente médio são temas que tangenciam a película. É bom o filme, apesar de um pouco longo. Ao vê-lo e ao ler a reportagem sobre a história da British Petroleum (empresa de petróleo responsável pelo desastre no Golfo do México nos EUA), percebi que o filme não era nada fantasioso, e havia relação entre ele e a vida real. Essa empresa de poder mundial, britânica inicialmente tem seus tentáculos espalhados pelo mundo todo e em várias esferas, militares, políticas, ambientais e econômicas.
Para entender melhor tudo isso leia a reportagem abaixo e descubra que, apesar desse desastre ser um dos maiores já vistos na humanidade e o maior daquele país, ainda é fichinha perto do que essa empresa vem fazendo no mundo.

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16795

domingo, julho 11, 2010

Mujica defende reforma do Estado no Uruguai

Vou reproduzir aqui algumas passagens interessantes ditas pelo presidente uruguaio Mujica. Publicado originalmente no La República, de Montevidéu.

“Há gente que sonha com leis, que acredita que as mudanças em uma sociedade necessitam de uma avalanche de leis; e não é que as leis não tenham importância, para além da que têm, e ai dos homens se não existirem garantias de direito que em alguma medida nos regrem, nos regulem, nos ordenem, nos imponham limites.”

Neste contexto, Mujica anunciou que o Conselho de Ministros iniciou a discussão de “mudanças fundamentais” que, no fundo, modificam a forma de encarar filosoficamente a função pública.

“Há mais de 500 grupos econômicos neste mundo que superam amplamente o PIB de estados como o Uruguai e tantos outros. Ninguém vota nestes grupos, eles não têm hino ainda que possam ter bandeira, não ocupam um assento nas Nações Unidos, mas têm poder”, disse Mujica.

Qual é o futuro de governos como os nossos? Teremos que nos ocupar pura e exclusivamente de atapetar o ingresso de grandes investimentos que venham de fora, às vezes tratando-os melhor do que os que estão aqui? E como vamos enfrentar esse fenomenal poder nas sombras, que é real e que pesa mais que qualquer Estado?”, perguntou.

“Somente tendo estados vigorosos e fortes, somente tendo estados puro músculo, que coloquem limites, cuidem do terreno, estabeleçam as regras e garantam que a imensa multiplicidade de pequenas realizações e de pequenas empresas, que são em última instância as que terminam distribuindo a riqueza, as que compartilham, que geram uma imensidão de postos de trabalho, ainda que não sejam as que manuseiem as maiores quantidades de valores, estejam amparadas, possam subsistir, possam existir; e a única garantia é que existam estados fortes, vigorosos, que não renunciem a sua prerrogativa, mas que não sejam um peso para a nação, mas exatamente o contrário, que sejam um incentivo para a nação”.

“É preciso ter em mente que não será simples e que a primeira discussão deverá ser feita com os trabalhadores. E que, se os trabalhadores não entendem, é impossível caminhar. E que não se convence ninguém a força. Por isso esse processo será muito árduo e ele está apenas no início, mas toda a abertura que estamos praticando é para que algumas questões centrais se transformem em um acervo da nação e não em um acervo meramente partidário”.

segunda-feira, julho 05, 2010

Senso Comum

OBS: A linguagem é clássica, mas a interpretação serve para os nossos dias perfeitamente é muito didática a passagem a seguir.

"Para Gramsci é no terreno do senso comum que as classes subalternas incorporam as ideologias dominantes, cuja pretensa verdade se impõe às classes subalternas como única, como superstição. É portante, no terreno ideológico que se produzem e se mantêm, em função da divisão da sociedade em classes antagônicas, as resistências aos impulsos de unificação da consciência humana.
O senso comum é explorado e utilizado pelas classes dominantes para cristalizar a passividade popular, bloquear a autonomia histórica que poderia resultar, para as massas, no seu acesso a uma filosofia superior. O que importa nesse projeto da burguesia, é fazer com que as massas não tenham a possibilidade de assimilar em profundidade uma nova concepção de mundo, embora a ela possam ter acesso apenas para o senso comum assuma uma coerência formal e não seja desvendada sua incoerência real.
A classe dominante consegue impor a sua ideologia porque, em primeiro lugar, detém a posse do 'Estado' e dos principais instrumentos hegemônicos (organização escolar, religiosa, imprensa, ect.), lugar constituinte dos valores sociais e garantia da sua reprodução; e em segundo lugar, possui o poder econômico que representa uma grande força no seio da sociedade civil, pois além de controlar a produção e distribuição dos bens econômicos, organiza e distribui as ideias. "

Ivete Semionatto

sábado, julho 03, 2010

Carta ao Dunga

Caro Dunga

Minha solidariedade, Dunga. Tu foste genial. Eu me tornei definitivamente teu fã. A eliminação contra a Holanda não abalará em coisa alguma a minha admiração. Tu és ingênuo, Dunga. Quiseste ganhar com base na seriedade, na lealdade e no caráter. Tiveste a coragem de dizer sempre a verdade e de enfrentar os mais poderosos. Cometeste erros, Dunga, mas isso é normal. Só os cretinos imaginam fazer tudo certo. Deixaste de fora alguns meninos talentosos, Dunga, e o velho Ronaldinho Gaúcho. Tiveste boas razões para isso. Tu havias ganhado tudo com o grupo que levaste a Copa. Desejavas valorizar os teus comandados e vencer ou perder com eles. És um capitão de navio à moda antiga. Aceitaste afundar com teu navio. Tua vitória teria sido uma revolução nos costumes. Que pena!
É verdade que não apostaste na beleza. Outros, no entanto, ganharam sem beleza alguma e tampouco sem tua valentia e tua nobreza rude. A derrota foi o resultado de alguns erros que podem acontecer com qualquer um: um gol contra de Felipe Melo, uma agressão boba de Felipe Melo, que determinou sua expulsão, e a perda do controle emocional pelo time todo. O mesmo Felipe Melo, entretanto, deu o lindo passe do gol do Robinho. Estiveste a um passo da glória, Dunga. Agora, voltaste, apesar dos triunfos anteriores, a ser um desgraçado, um maldito, um desprezado. Conheço isso, Dunga. Por mais que tu venças, serás sempre um perdedor. É tua sina. Os donos do mundo não suportam a tua franqueza, que chamam de arrogância. Detestam tua simplicidade, que rotulam de grossura. Odeiam tua transparência, que os impede de conceder privilégios e de fazer negociatas na tua cara.
Foste um exemplo, Dunga. O mundo, porém, não está preparado para a tua vitória. Espero que esteja para a de Maradona, técnico antagônico e completar a ti, mas não acredito. Tomara que eu me engane. Foste bravo, Dunga, impávido, colosso. Não mandaste Felipe Melo pisar no adversário. Buscaste o equilíbrio. Apostaste no talento de Kaká e Robinho. Sonhaste com a beleza. Ela não sorriu para ti. A mídia te condenou por não teres feito o jogo dela. Viste o jogo como um jogo e tudo fizeste para alcançar os teus objetivos. Não compreendeste que o jogo é também um teatro no qual alguns devem sempre figurar nos camarotes. Até o teu sotaque incomodou, Dunga, neste país onde os que debocham do teu sotaque têm sotaques tão ou mais caricaturais. Tiveste personalidade, Dunga. Isso é imperdoável. Há muita gente feliz agora. Teus inimigos podem sorrir triunfantes e sentenciar: “Eu não disse...”
Nós, os ruins, os ressentidos, os malditos, os perdedores, apesar de todas as nossas vitórias, estamos contigo Dunga. Somos os teus representantes por toda parte. Tinhas razão, Dunga: boa parte da mídia estava dividida, torcendo pelo Brasil e, ao mesmo tempo, te secando. Para vencer neste mundo, Dunga, é preciso aprender a ser hipócrita. Tu nunca conseguirás. Tuas vitórias serão sempre laboriosas. Tuas derrotas te marcarão mais. Tu, ao contrário de outros, não te escondes jamais. Aceita, caro Dunga, meus cumprimentos.

por Juremir Machado da Silva - 03/07/2010