domingo, julho 11, 2010

Mujica defende reforma do Estado no Uruguai

Vou reproduzir aqui algumas passagens interessantes ditas pelo presidente uruguaio Mujica. Publicado originalmente no La República, de Montevidéu.

“Há gente que sonha com leis, que acredita que as mudanças em uma sociedade necessitam de uma avalanche de leis; e não é que as leis não tenham importância, para além da que têm, e ai dos homens se não existirem garantias de direito que em alguma medida nos regrem, nos regulem, nos ordenem, nos imponham limites.”

Neste contexto, Mujica anunciou que o Conselho de Ministros iniciou a discussão de “mudanças fundamentais” que, no fundo, modificam a forma de encarar filosoficamente a função pública.

“Há mais de 500 grupos econômicos neste mundo que superam amplamente o PIB de estados como o Uruguai e tantos outros. Ninguém vota nestes grupos, eles não têm hino ainda que possam ter bandeira, não ocupam um assento nas Nações Unidos, mas têm poder”, disse Mujica.

Qual é o futuro de governos como os nossos? Teremos que nos ocupar pura e exclusivamente de atapetar o ingresso de grandes investimentos que venham de fora, às vezes tratando-os melhor do que os que estão aqui? E como vamos enfrentar esse fenomenal poder nas sombras, que é real e que pesa mais que qualquer Estado?”, perguntou.

“Somente tendo estados vigorosos e fortes, somente tendo estados puro músculo, que coloquem limites, cuidem do terreno, estabeleçam as regras e garantam que a imensa multiplicidade de pequenas realizações e de pequenas empresas, que são em última instância as que terminam distribuindo a riqueza, as que compartilham, que geram uma imensidão de postos de trabalho, ainda que não sejam as que manuseiem as maiores quantidades de valores, estejam amparadas, possam subsistir, possam existir; e a única garantia é que existam estados fortes, vigorosos, que não renunciem a sua prerrogativa, mas que não sejam um peso para a nação, mas exatamente o contrário, que sejam um incentivo para a nação”.

“É preciso ter em mente que não será simples e que a primeira discussão deverá ser feita com os trabalhadores. E que, se os trabalhadores não entendem, é impossível caminhar. E que não se convence ninguém a força. Por isso esse processo será muito árduo e ele está apenas no início, mas toda a abertura que estamos praticando é para que algumas questões centrais se transformem em um acervo da nação e não em um acervo meramente partidário”.

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