sexta-feira, outubro 28, 2011

Mais de nós


Eu tenho andando tão contente e sinceramente isso está vindo de você
Cada alegria diferente faz com que a gente não consiga esquecer
Conto um, dois passos ao acaso pra deixar de lado tudo que não vou levar.
Monto um discurso decorado que é pra dar o recado logo que você chegar

Tento inventar mil motivos pra te dar um pouco mais de nós
Para descobrir se a paz que eu senti ainda mora lá.

Tem conversa boa, demorada e outras agitadas para o sangue aquecer
Tem o dia cinza que esfria, mas o da alegria não demora a amanhecer
Tive um sonho de realidade em que a cidade só se abria pra você
Acordei um pouco preocupado, com o café ao lado deu pra entender


Capotraste na quarta casa.

G – G/F# - Em – Em/D – C – C/ B – A

Refrão – C – Em – D – Am – Em – G – G7
                                                           (C) segunda volta. 

domingo, outubro 23, 2011

A memória




A memória é tecido
enredo de juízo
onde se encontram
manhãs dominicais
e objetivos universais

A memória é costura
de registro e previsão
por vezes um decide
e o outro não

A memória é o enlace
em que se atam
a ilusão do ser para sempre
às lembranças que para sempre serão

A memória é tear
máquina de sonhar e recordar
os dois fios do nó
que é viver e amar

Gregório Grisa

sexta-feira, outubro 21, 2011

Palavra povo

A palavra povo tinha um sentido exato quando se podia juntar em uma praça todos os cidadão de uma cidade, mas o crescimento das populações de milhares para milhões fez da palavra povo um termo monstruoso cujo sentido depende da frase em que entra. Algumas vezes povo é a totalidade indistinta e nunca presente em lugar nenhum, outras vezes é o maior número de indivíduos oposto ao pequeno círculo de pessoas ricas que decidem. 

Paul Valéry

Não existe amor em SP

Música de Criolo vencedora do prêmio de melhor música do VMB da MTV.
Não existe amor em SP
Um labirinto mistico
Onde os grafites gritam
Não dá pra descrever
Numa linda frase
De um postal tão doce
Cuidado com doce
São Paulo é um buquê
Buquês são flores mortas
Num lindo arranjo
Arranjo lindo feito pra você
Não existe amor em SP
Os bares estão cheios de almas tão vazias
A ganância vibra, a vaidade excita
Devolva minha vida e morra afogada em seu próprio mar de fel
Aqui ninguém vai pro céu
Não precisa morrer pra ver Deus
Não precisa sofrer pra saber o que é melhor pra você
Encontro duas nuvens em cada escombro, em cada esquina
Me dê um gole de vida
Não precisa morrer pra ver Deus

domingo, outubro 16, 2011

Sobre as mobilizações mundiais



O dia 15 de outubro de 2011 ficará marcado como dia de grandes manifestações pelo mundo, jovens em sua maioria, reivindicam várias demandas e clamam pelo que chamam de uma democracia real. Tendo como exemplo o movimento de Porto Alegre, do qual participei, fica evidente que algo novo está nascendo. Novo no sentido de agregar forças políticas diferentes e setores da sociedade que até então pareciam estar mais para ver a banda passar do que para tocar na banda.

As mobilizações nos países árabes e principalmente na Europa (Espanha, Portugal e Grécia) e nos EUA em Wall street parecem que deram o aval para que a juventude de classe média alta brasileira fosse para a rua e perdesse o temor de levantar uma faixa com tema político. Mesmo com demandas genéricas ou muito focalizadas esse movimento que se diz suprapartidário, embora coordenado e organizado por bases de partidos, traz consigo o aspecto inovador de ser algo minimamente unificado honra o nome do movimento que é “Juntos!”.

Nas falas e debates se faz menção direta aos grandes problemas mundiais, aos limites que o capitalismo e as formas de democracia de baixa intensidade vêm impondo ao nosso modo de organizar a política e a vida. Isso cumpre um papel formativo e pedagógico importante, tendo em vista que a juventude com a qual me deparei na praça não é a que cresceu ouvindo um discurso crítico socialista e muito menos anarquista como alguns setores desse movimento se reivindicam.

Aqui cabe uma observação, o povo, aqueles quase 60 milhões (levando em conta que temos 30 milhões de carteiras assinadas hoje no Brasil com uma população economicamente ativa de quase 100 milhões) de brasileiros que trabalham na informalidade e que dependem absolutamente dos serviços públicos, não esta inserido nesse contexto de mobilizações.

Apesar de sermos o povo enquanto projeto de sociedade e intencionalidade política não podemos ser ingênuos de não perceber que há nessas mobilizações mundiais mais parcelas da pequena burguesia e da classe média do que da classe trabalhadora, entendida aqui nos moldes clássicos para fins didáticos.

Acredito que essas características não retiram a relevância de todo esse processo, é legitimo que todos os grupos sociais se mobilizem e a juventude universitária e em geral vem mostrando que está despertando para algumas ações. Não podemos querer prever qual o resultado prático ou efeito histórico que o movimento “Juntos!” pode promover, mas é necessário olharmos para isso como algo novo sim, aglutinador e que apesar de ser feito basicamente por parcelas das esquerdas pode ter, inclusive por esse perfil agregador, muito a ensinar as esquerdas e os movimentos sociais populares brasileiros.

Um dos vários desafios que esses movimentos reivindicatórios têm, a partir dessas manifestações unificadas, é o de criar mecanismos de comunicação com essa grande parcela da população que não está inserida nesses processos. Não está envolvida por razões variadas e complexas que perpassam a anestesia do consumo que vivemos, os valores que nossa sociedade prioriza e a multiplicidade de experiências vividas pelos grupos sociais.

Isso significa, portanto, que para acessar essa grande parcela de trabalhadores é imperioso fazer a constante disputa do ponto de vista da subjetividade e da ideologia com a grande mídia monopolizada e com as igrejas exploradoras/conservadoras. E ainda há a disputa que deve se dar na objetividade do trabalho informal (sem direitos garantidos) e formal na busca de práticas sociais e econômicas que se orientem por outra lógica da produção material da vida e das relações de trabalho e humanas.

terça-feira, outubro 11, 2011

Flor da estação

Tarde de lembrar o que tem pra esquecer

Vontade de saber de vez

Noite de pensar no sonho a escolher

Luar pra iluminar vocês

Eles são um par de unir e separar

Se fosse só contar até três

Pode ser que não, histórias vem e vão;

Mas pode ser que sim, um ainda guarda o outro ali.

Domingo de sentir a paz que pode vir

Garoa pra molhar a mão

Sol pra esquentar o presente a se dar

Uma flor da estação

Em – A – D – F# - G – D – A

Refrão: Bm – F#m – G – A – Bb ° - Em

domingo, outubro 09, 2011

Che Guevara e os mortos que nunca morrem

Diz Eduardo Galeano, que conheceu o Che Guevara: ele foi um homem que disse exatamente o que pensava, e que viveu exatamente o que dizia. Assim seria ele hoje. Já não há tantos homens talhados nessa madeira. Aliás, já não há tanto dessa madeira no mundo. Mas há os mortos que nunca morrem. Como o Che. E, dos mortos que nunca morrem, é preciso honrar a memória, merecer seu legado, saber entendê-lo. Não nas camisetas: nos sonhos, nas esperanças, nas certezas. Para que eles não morram jamais.

sábado, outubro 01, 2011

Detalhes do processo educativo

É sempre difícil encarar uma folha em branco, temos receio de que nossas ideias que ali serão registradas ganhem um formato desajeitado, desarticulado. A ansiedade de dizer tudo da forma como nosso pensamento conjectura nos consome apesar de sabermos que a escrita ao mesmo tempo em que registra limita, pois tem suas formas e seus encaixes não tão sistemáticos e flexíveis como o pensamento.
Há métodos para escrever, uns seguem à risca algumas técnicas, outros preferem esperar inspiração (sentados de preferência) e tem ainda os que escrevem de modo mais aberto e artesanal. O processo de escolarização pelo qual passam os brasileiros ainda não garante uma formação para a pesquisa, só temos acesso a esse universo no ensino superior quando muito. A dificuldade de escrever é um sintoma desse processo, a escrita advém da prática de ler. Experimentem escrever uma página sobre algum assunto no fim de uma semana sem ter lido nada sobre ele e depois escreva outra página após uma semana em que você leu meia hora por dia sobre o tema. A diferença será significativa.
Qual é o padrão de avaliação que temos durante o ensino fundamental e médio? Salvo exceções a maioria das avaliações se resume a provas objetivas, de marcar a resposta certa. A influência desse modelo compartimentado de avaliar sobre a dificuldade de escrevermos e pesquisarmos é substancial. Tanto que ainda na universidade notamos o sofrimento que é para boa parte dos educandos exercitar a fala e a escrita, darem suas opiniões sobre assuntos corriqueiros ou até que tenham estudado para apresentar para os colegas.
Dissertar exige começar a fazê-lo, sem dúvida que outros elementos como o emocional e a história de vida influenciam nossa capacidade de falar em público, de se expressar com autonomia, porém é imperativo que nos posicionamos sobre questões de relevância, tanto universais como do nosso entorno. Dar uma opinião não requer estar certo, por vezes pelo contrário, no diálogo meus interlocutores só podem saber se estou equivocado ou se meu pensamento está restrito sobre algo se eu materializar por meio da linguagem (oral, escrita ou outras) meus juízos.
Daí a importância de sabermos ouvir e estimularmos as pessoas mais inibidas a contribuírem com suas versões sobre as coisas. Em debates mais profundos é necessário que tenhamos a sensibilidade no modo de se expressar para que o outro não nos entenda prepotente, a forma como se diz ou escreve algo pode limitar ou potencializar o conteúdo. Há casos em que você até concorda com o que a pessoa pensa, mas a maneira como tal noção é colocada faz com que nos distanciamos do seu bloco.
A diferença existe e deve ser respeitada, o fato de termos convicção de que nossa representação da realidade é mais correta não nos autoriza a desconsiderar a representação do outro. Não será por meio da imposição da nossa representação que o conhecimento vai se desenvolver, pelo contrário, será tendo como ponto de partida a representação do outro que se pode avançar, o processo educativo deve levar em conta esses detalhes. Aqueles que realmente nos ensinaram e irão ensinar levam em conta essas questões, isto é, analisam nossas representações do real e a partir delas nos mostram outras óticas para refinemos nossa capacidade de entender a vida, o mundo e as relações das quais somos frutos e construtores.