sábado, outubro 01, 2011

Detalhes do processo educativo

É sempre difícil encarar uma folha em branco, temos receio de que nossas ideias que ali serão registradas ganhem um formato desajeitado, desarticulado. A ansiedade de dizer tudo da forma como nosso pensamento conjectura nos consome apesar de sabermos que a escrita ao mesmo tempo em que registra limita, pois tem suas formas e seus encaixes não tão sistemáticos e flexíveis como o pensamento.
Há métodos para escrever, uns seguem à risca algumas técnicas, outros preferem esperar inspiração (sentados de preferência) e tem ainda os que escrevem de modo mais aberto e artesanal. O processo de escolarização pelo qual passam os brasileiros ainda não garante uma formação para a pesquisa, só temos acesso a esse universo no ensino superior quando muito. A dificuldade de escrever é um sintoma desse processo, a escrita advém da prática de ler. Experimentem escrever uma página sobre algum assunto no fim de uma semana sem ter lido nada sobre ele e depois escreva outra página após uma semana em que você leu meia hora por dia sobre o tema. A diferença será significativa.
Qual é o padrão de avaliação que temos durante o ensino fundamental e médio? Salvo exceções a maioria das avaliações se resume a provas objetivas, de marcar a resposta certa. A influência desse modelo compartimentado de avaliar sobre a dificuldade de escrevermos e pesquisarmos é substancial. Tanto que ainda na universidade notamos o sofrimento que é para boa parte dos educandos exercitar a fala e a escrita, darem suas opiniões sobre assuntos corriqueiros ou até que tenham estudado para apresentar para os colegas.
Dissertar exige começar a fazê-lo, sem dúvida que outros elementos como o emocional e a história de vida influenciam nossa capacidade de falar em público, de se expressar com autonomia, porém é imperativo que nos posicionamos sobre questões de relevância, tanto universais como do nosso entorno. Dar uma opinião não requer estar certo, por vezes pelo contrário, no diálogo meus interlocutores só podem saber se estou equivocado ou se meu pensamento está restrito sobre algo se eu materializar por meio da linguagem (oral, escrita ou outras) meus juízos.
Daí a importância de sabermos ouvir e estimularmos as pessoas mais inibidas a contribuírem com suas versões sobre as coisas. Em debates mais profundos é necessário que tenhamos a sensibilidade no modo de se expressar para que o outro não nos entenda prepotente, a forma como se diz ou escreve algo pode limitar ou potencializar o conteúdo. Há casos em que você até concorda com o que a pessoa pensa, mas a maneira como tal noção é colocada faz com que nos distanciamos do seu bloco.
A diferença existe e deve ser respeitada, o fato de termos convicção de que nossa representação da realidade é mais correta não nos autoriza a desconsiderar a representação do outro. Não será por meio da imposição da nossa representação que o conhecimento vai se desenvolver, pelo contrário, será tendo como ponto de partida a representação do outro que se pode avançar, o processo educativo deve levar em conta esses detalhes. Aqueles que realmente nos ensinaram e irão ensinar levam em conta essas questões, isto é, analisam nossas representações do real e a partir delas nos mostram outras óticas para refinemos nossa capacidade de entender a vida, o mundo e as relações das quais somos frutos e construtores.

Um comentário:

rosane disse...

Bom, vai direto pra aula... Bj