domingo, outubro 16, 2011

Sobre as mobilizações mundiais



O dia 15 de outubro de 2011 ficará marcado como dia de grandes manifestações pelo mundo, jovens em sua maioria, reivindicam várias demandas e clamam pelo que chamam de uma democracia real. Tendo como exemplo o movimento de Porto Alegre, do qual participei, fica evidente que algo novo está nascendo. Novo no sentido de agregar forças políticas diferentes e setores da sociedade que até então pareciam estar mais para ver a banda passar do que para tocar na banda.

As mobilizações nos países árabes e principalmente na Europa (Espanha, Portugal e Grécia) e nos EUA em Wall street parecem que deram o aval para que a juventude de classe média alta brasileira fosse para a rua e perdesse o temor de levantar uma faixa com tema político. Mesmo com demandas genéricas ou muito focalizadas esse movimento que se diz suprapartidário, embora coordenado e organizado por bases de partidos, traz consigo o aspecto inovador de ser algo minimamente unificado honra o nome do movimento que é “Juntos!”.

Nas falas e debates se faz menção direta aos grandes problemas mundiais, aos limites que o capitalismo e as formas de democracia de baixa intensidade vêm impondo ao nosso modo de organizar a política e a vida. Isso cumpre um papel formativo e pedagógico importante, tendo em vista que a juventude com a qual me deparei na praça não é a que cresceu ouvindo um discurso crítico socialista e muito menos anarquista como alguns setores desse movimento se reivindicam.

Aqui cabe uma observação, o povo, aqueles quase 60 milhões (levando em conta que temos 30 milhões de carteiras assinadas hoje no Brasil com uma população economicamente ativa de quase 100 milhões) de brasileiros que trabalham na informalidade e que dependem absolutamente dos serviços públicos, não esta inserido nesse contexto de mobilizações.

Apesar de sermos o povo enquanto projeto de sociedade e intencionalidade política não podemos ser ingênuos de não perceber que há nessas mobilizações mundiais mais parcelas da pequena burguesia e da classe média do que da classe trabalhadora, entendida aqui nos moldes clássicos para fins didáticos.

Acredito que essas características não retiram a relevância de todo esse processo, é legitimo que todos os grupos sociais se mobilizem e a juventude universitária e em geral vem mostrando que está despertando para algumas ações. Não podemos querer prever qual o resultado prático ou efeito histórico que o movimento “Juntos!” pode promover, mas é necessário olharmos para isso como algo novo sim, aglutinador e que apesar de ser feito basicamente por parcelas das esquerdas pode ter, inclusive por esse perfil agregador, muito a ensinar as esquerdas e os movimentos sociais populares brasileiros.

Um dos vários desafios que esses movimentos reivindicatórios têm, a partir dessas manifestações unificadas, é o de criar mecanismos de comunicação com essa grande parcela da população que não está inserida nesses processos. Não está envolvida por razões variadas e complexas que perpassam a anestesia do consumo que vivemos, os valores que nossa sociedade prioriza e a multiplicidade de experiências vividas pelos grupos sociais.

Isso significa, portanto, que para acessar essa grande parcela de trabalhadores é imperioso fazer a constante disputa do ponto de vista da subjetividade e da ideologia com a grande mídia monopolizada e com as igrejas exploradoras/conservadoras. E ainda há a disputa que deve se dar na objetividade do trabalho informal (sem direitos garantidos) e formal na busca de práticas sociais e econômicas que se orientem por outra lógica da produção material da vida e das relações de trabalho e humanas.

Um comentário:

jose ernesto grisa disse...

beleza de texto, pois leva a reflexão do leitor.