quarta-feira, outubro 02, 2013

As condições históricas existem

Sabem jovens mais velhos, que passaram dos 55 e 60 anos, estamos em um tempo em que vossas conquistas oferecem à nossa geração a possibilidade e a necessidade de superá-las. Isso é do ciclo da vida, que por vezes se rompe mais brutalmente e em outros casos até se paralisa. Esperar é a arte da nossa raça, relevar e se acostumar são algumas de nossas características, todavia, agir, se revoltar e intervir também são ações que nos constituem. As condições históricas se apresentam e as pessoas escolhem que caminho seguir, meus avós e meus pais tiveram suas condições, a minha geração tem a atual.

A atual condição histórica nos permite dizer basta! É tempo de acabar com absurdos politicamente construídos e economicamente naturalizados. Não há mais espaço para verborragias juridicamente calcadas e para discursos plasticamente bem constituídos, mas pouco dotados de realidade. O malabarismo retórico chegou ao seu limite, com o país em crescimento nada mais justifica a manutenção de salários de fome para os professores brasileiros, serviços de saúde e outros tão mal ofertados.

Nossa geração entende como funciona o poder, como se dão as alianças, as relações público-privadas, as escolhas de gestão e é por isso, não pelo contrário, que não suporta mais tamanhas discrepâncias. Não se pode deixar dormir quem tem a responsabilidade ética de imprimir mudanças reais e estruturais quando as condições históricas existem. É premente que os governantes saibam que somente reclamar das mãos atadas pelo atual sistema e fazer análises teóricas para sustentar essas queixas, não é o suficiente. É necessário coragem de romper com a lógica vigente, a vida demora pouco, a qualidade da vida dos muitos que a vivem em um sopro, sem desenvolver minimamente suas capacidades, depende dessa coragem.

Há um conjunto de meios, métodos e estratégias para exigir que as mudanças aconteçam, nossa geração está experimentando, aprendendo a voar no voo mesmo, indo à rua, fazendo barulho, se organizando, estudando, produzindo, se comunicando, amadurecendo de acordo com seus acessos e vivências. Hão-de existir erros, excessos e medos, como se verá coragem, criatividade e acertos.

O que tem de ficar claro é que em outras épocas as condições históricas impunham cuidados e as esperanças murchavam diante da alienação, da desinformação, da dificuldade de se entender as instituições públicas e da morosidade com que se previa algum processo de mudança. Agora não há tempo a perder, a vida é mais urgente, o tempo passa mais rápido hoje, uma ponta da corda está quase encostando na outra. Nossa geração ta entendendo que os meios estão disponíveis para que as transformações aconteçam com mais velocidade, para que a democracia dê um salto qualitativo maior do que propriamente nascer, como ocorreu na geração de vocês.

Os jovens mais velhos, que passaram dos 55 e 60 anos, minimamente progressistas que estão no poder político, irão morrer logo, daqui a algumas décadas no máximo. Eles têm a chance de iniciar uma mudança rumo à racionalidade da gestão da coisa pública, sem isso, seus legados serão pueris, menores do que poderiam ser.
Outros países, onde a tendência política de gestão é até difícil diagnosticar, pela capacidade de organização e adoção de simples critérios para priorizar o que deve ser feito, conseguem encontrar alternativas que não se enredam em alianças espúrias nem são reféns do capital financeiro.
Criatividade baseada na ciência, na escolha técnica e humana, combinada com a democratização das esferas, não para dialogar com quem pensa parecido, mas com quem vive a realidade da área ou da instância afetada. Dados numéricos dizem pouco quando não se convertem em melhoria da vida das pessoas, dizer que tal órgão, instituição ou área está melhor quantitativamente sem verificar que sentido tem isso pra quem vive nela é estéril. Pessoas não são números. 
Minha geração quer viver outra gramática das relações sociais e pra isso precisa agir, como está fazendo em muitos lugares do Brasil. Mudanças mais rápidas são possíveis, e é na disputa pela direção que elas devem ter que a ação está se dando. Como um artesanato de sentido que não se pretende tão eloquente e cauteloso, mas mais práticos e vivo, a juventude exige mais com toda ansiedade e energia que lhe caracteriza. 

Gregório Grisa  

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