segunda-feira, setembro 06, 2010

O mundo é maior que eu



Dia desses estava no meu quarto lendo à espera de um amigo que passaria lá para cambiar umas idéias, ele havia perdido o pai há alguns meses e não nos falávamos havia um tempo. “Fogo morto” de José Lins do Rego era o objeto o qual meus olhos passeavam, a leitura oscilava, isto é, me concentrava por hora e me pegava pensando nas minhas últimas, digamos assim, desastradas experiências por vezes. Não poderia eu me incomodar com os últimos fatos acessando tal livro, a vida árida do município de Pilar, na Zona da Mata paraibana no início do século XX era bem pior que a minha. Saber da seca, da distância e da violência, embora através da ficção, é para esquecer esse momento de baixa auto-estima, me pensava. Não seria isso que faria olvidar-me de tal situação como veremos.
Pablo chegou acompanhado da saudade e do violão, mantinha o mesmo rosto terno e forte. Marquei e fechei o último representante do "Ciclo da Cana-de-açúcar" neo-realista e demos início a longa tarde de músicas e conversas. Não demorou muito para que eu, inconvenientemente, começasse a lamúria com minhas histórias de insucessos amorosos e financeiros. Ele me ouvia atento como que planejando a réplica. Depois de tantos causos, Pablo tomou a palavra e me contou o seguinte:
“Sabes Alfredo que há pouco faleceu meu pai, e antes disso ele ficou em situação grave no hospital por três meses. Nesse período de visitas eu e minha família descobrimos que ele tinha outra família, outra mulher e mais dois filhos, um rapaz e uma moça. Com o choque da doença, que não permitia que ele falasse e da descoberta, minha mãe parou de ir visitá-lo no hospital, ela perdeu aos poucos a legitimidade já que a outra família era presença constante. No velório e no enterro do meu pai eu estive sozinho, rodeado de pessoas estranhas, ninguém da minha família foi e no dia que me despedi do meu pai não pude abraçar ninguém.”
Pablo me contou tudo sem derramar uma lágrima e sorria às vezes, não foi lendo José Lins do Rego que esqueci as minhas histórias banais mal-sucedidas e sim, ouvindo meu amigo. O mundo é maior que eu, e devo entender que sou feliz.

Um comentário:

rosane disse...

Muito bom, tanto o gancho com o livro quanto com a vida. Corrigindo, pra não perder a mania: há tempos morreu...usa h quando o tempo passou.
Beijos