segunda-feira, março 12, 2012

Leituras e releituras

"Há qualquer coisa de indizivelmente patético na natureza da nossas São Petersburgo quando nela desperta a primavera, quando de repente ostenta todo o seu sortilégio e exige todas as graças que o céu lhe empresta, quando se cobre da tenra grama nova e se enfeita de flores garridas e de delicadas florzinhas. Então faz-me sempre lembrar a menina triste para a qual olhamos chegamos cheio de pena, às vezes com piedosa simpatia, e na qual às vezes também nem sequer reparamos, mas que um dia, de repente, quando menos se espera, como por encanto se torna, de um momento para o outro, tão bonita que ficamos desconcertados e aturdidos e, ao vê-la, perguntamos admirados: que poder teria lançado esta luz nos olhos tristes e sonhadores desta mocinha? Quem fez subir o sangue às suas faces pálidas e murchas, quem fez com que o seu rosto suave mostre agora uma tal paixão? Porque o seu peito arfa? Quem foi que, assim tão de repente, trouxe força e vida e beleza ao  rosto da pobre menina, cujo sorriso suave brilha agora e se transforma num riso ardente". 

Página 19 do livro "Noites Brancas" de Fiódor Dostoiévski.

"Como já disse os personagens não nascem de um corpo materno, como os seres vivos, mas de uma situação, uma frase, uma metáfora que contém em embrião uma possibilidade humana fundamental que o autor imagina não ter sido ainda descoberta, ou sobre a qual nada ainda foi dito de essencial. " 

Página 221 do livro "A insustentável leveza do ser" de Milan Kundera. 

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