segunda-feira, junho 18, 2012

De manta vermelha

Girava a chave no indicador para transferir o nervosismo às mãos, olhava para os lados com mais frequência que o normal. O gelo do nariz contrapunha o calor do peito, a ansiedade é umas das sensações que mais fazem o corpo falar e ela, como quem se vê nua no espelho, se percebia cantando em gestos involuntários. Esses instantes que precedem algo que pode vir a ser importante ou intenso, podem ser, por vezes, mais intensos que o evento em si. Eles nos mostram que naturalmente quase nada é natural na vida social, que a expectativa é umas das partes mais interessantes de se conhecer e viver algo. 
Aquela esquina já tinha se tornado um refúgio quando ele chegou a pé, e ao notarem a cor vermelha em comum da manta não foi necessário forçar nenhum sorriso de conveniência, os músculos da face não precisaram de ordem para se mexer. Duas quadras de caminhada, piadas ruins e convicções baratas, porém contundentes, já trocadas e ela, ainda refletindo a ansiedade, se atrapalha ao perguntá-lo o porque ele iria fazer isso por ela. Notou que poderia se assustar ou ainda não querer ouvir aquela resposta, entretanto, as vezes as bocas falam mais do que os neurotransmissores enviaram e a questão foi colocada. 
A demora dele para contestar criou um clima de suspense de inverno, quando as palavras foram saindo deu para notar que ele teria dificuldade de falar tendo que fazer, ao mesmo tempo, a complexa tarefa de atravessar ruas na faixa de segurança. Ela se divertiu com aquilo, em geral quando as pessoas demostram dificuldade de se expressar nos "papos emocionais" diante do foco da emoção, no caso ela, é porque estão no mínimo envolvidas.
Nesse caso era mais que isso, depois de responder por quase dez minutos sem dizer basicamente nada, ele deixou escapar: 
  - e também porque quero viver isso e outras coisas contigo.
Ela só sorriu por dentro porque o medo se misturava e naquele instante protagonizava suas feições. Quase chegando ele, torcedor fanático do Boca Juniors, respirou fundo e aquela foi a primeira vez dela no estádio Monumental de Núñes. Se beijaram demoradamente no meio da torcida no primeiro gol do River Plate.

2 comentários:

jose ernesto grisa disse...

Dá-lhe River. Muito legal, andas romantico meu filho, ou são só ficção?

Gregório Grisa disse...

é o ócio criativo ;)