segunda-feira, julho 15, 2013

Ocupação da FACED-UFRGS

Muito poderia ser dito, nos desafia a complexidade política do que estamos vivendo na FACED - UFRGS. Porém, não quero recorrer ao estatuto infinito da complexidade, mas me deter ao seu oposto, à simplicidade das coisas. 

A ocupação do ex-bar da FACED pelos estudantes do DAFE, com apoio de outros diretórios, do DCE e da APG, se deu em um contexto bastante ímpar da universidade, da cidade, do estado e do país. 

As relações sociais de poder estão radicalizadas e precisamos entender isso, radicalizar não quer dizer ser sectário e/ou desrespeitoso. 

As razões dessa ocupação são inúmeras, destaco as simples:

- o DAFE diante da saída do bar e das várias tentativas de dialogar com a direção e comunidade da FACED para que o espaço fosse sua sede, não poderia perder a chance de que aquele lugar fosse dos estudantes. Não há existência orgânica possível para o DAFE na sua antiga sede.

- a FACED além de ter a pedagogia recebe as licenciaturas e os espaços físicos de convivência e organização dos estudantes são limitadíssimos. 

- as experiências dos estudantes nas instâncias deliberativas da universidade são de regulares derrotas, e o mais triste, derrotas mesmo quando o segmento vence no argumento e na comprovação de demanda. Exemplos como o das cotas no CONSUN, da resolução 19 do CEPE, a redução de representação do PPGEDU e várias micro decisões em câmaras e comissões das unidades podem ser listados. Portanto, jogar somente esse jogo não dava mais.

A ocupação já produziu resultados, a direção sinalizou a montagem de uma comissão paritária para discutir sobre o espaço. Porque agora? Porque somente os espaços estudantis devem ser discutidos por todos? Porque quando o tema é outro, os espaços são outros não se convidam os discentes paritariamente? Por uma razão muito simples, nossa universidade, na sua estrutura, não é democrática. 

Das 54 universidades federais brasileiras, 37 delas (68% do total) adotam modelo paritário nas eleições. Segundo levantamento realizado pela UnB Agência, apenas 16 universidades usam o modelo proporcional, onde os votos dos professores têm 70% do peso total, enquanto alunos e servidores têm 15% cada. Estamos atrasados nesse quesito sim. 

Outra coisa simples: para saber o que está realmente acontecendo em determinado fenômeno é necessário participar dele. Defendo que o ex-café da FACED seja a nova sede do DAFE e um espaço de convivência gerido pelo mesmo, porque quero o melhor para a FACED, acredito nisso.  

As alunas e alunos da pedagogia corajosamente estão dando uma aula de coerência pedagógica, educador que luta também educa.

Ninguém está ocupando aquele espaço por prazer de dormir mal, sem privacidade, comer mal, ficar sujeito a constrangimentos e julgamentos. A força e maturidade desses estudantes indicam o tamanho da necessidade da conquista desse espaço para o DAFE. Todos estão cansados para pensar e construir argumentos em um momento que exige muita capacidade para isso. 

Ouvi muito a classificação de que a ocupação é um ato estremado e violento. Bom, não conheci reforma agrária e desapropriações que produzam justiça social sem ocupação, a desse caso inclusive foi lúdica e inteligente. Se conformar, esperar, aguardar e até dialogar um diálogo por vezes improdutivo é única escolha que tem os estudantes nas relações normalmente constituídas na universidade

A ocupação muda a qualidade do fenômeno, permite que as relações desiguais de força se desequilibrem minimamente. 

Não se trata de uma luta entre professores, técnicos e estudantes, esse caminho é o pior que nossa comunidade pode tomar, o que está em jogo é a democratização dos espaços universitários. Em um cálculo simples, o segmento mais representativo quantitativamente é o que menos têm possibilidade de usufruir de atividades extraclasses na universidade.  

Todos os dez andares da FACED são geridos por professores e técnicos. 

A proposta que os estudantes apresentam contempla a convivência dos três segmentos da comunidade acadêmica da FACED em atividades conjuntamente elaboradas, e, ao mesmo tempo, garante a autonomia do DAFE

Estudantes da pedagogia com desafios políticos de se organizar, tomar decisões, iniciativas terão uma formação mais completa e bonita, pra isso precisam de espaço, confiança e apoio.

A normalidade vicia, o conforto anestesia, romper com isso dói o corpo e a mente. Pra conquistar os direitos sociais que existem alguém rompeu com o dado, lutou, bradou. Quem fez isso pode ter sido visto como um radical em seu tempo, a juventude tem mostrado no Brasil que sem um fato desestabilizador a morosidade e a manutenção da realidade vencem. 

Nem todas as urgências são nítidas, entende-se, por isso a necessidade de se fazer ser visto e resistir, para ser prioridade e modificar o estado das coisas. 

Nesse caso isso significa conquistar esse espaço para os estudantes.


Gregório Grisa 


2 comentários:

Anônimo disse...

A Comissão para a discussão do espaço já existia ANTES da ocupação, fazendo parte inclusive aluna do DAFE. Os alunos deveriam brigar por espaços deles que eles mesmos privatizaram (espaços do DCE). Se liguem.

Anônimo disse...

Concordo, o espaço de convivência do campus do vale é um exemplo claro de privatização dentro da UFRGS, e corrigindo a comissão de espaço físico possui DUAS estudantes do DAFE na representação.