quinta-feira, maio 22, 2014

Estado para quem?



Não resta dúvidas de que o Brasil foi chacoalhado politicamente com as manifestações do ano passado. Estamos vivendo uma significativa mudança no modo como os trabalhadores e a juventude encaminham suas demandas e se organizam. Há um amadurecimento político nesses grupos que promovem a aceleração do tensionamento político, as exigências qualificadas fazem com que a luta em si se qualifique.

Não se esta poupando aquele gestor que se propõe minimamente ao diálogo, pelo contrário, se compreendeu que quanto mais progressista for o político da vez, mais ele deve ser cobrado, pois é de sua responsabilidade encontrar alternativas para o imobilismo institucional e a preguiçosa burocracia que descaracterizam a democracia brasileira. 

Outro fator que vale destaque é a forte crise de representatividade dos sindicatos que em descompasso com suas bases optaram por se burocratizar confortados pelo forte processo de cooptação dos últimos anos. As greves que se espalham no Brasil, impactam a realidade e comprovam essa crise de representatividade, pois a base dos trabalhadores se organiza para além do sindicato e se reinventa. 

Greves, ocupações, manifestações, reivindicações são estratégias que vem se mostrando únicas alternativas para conquistas efetivas. Isso desacomoda, incomoda, constrange, irrita e aborrece muita gente, esses sentimentos são reforçados pela campanha rotineira dos grandes meios de comunicação contra essas ações. Todavia, a democracia brasileira ainda não desenvolveu mecanismo participativos, tampouco canais orgânicos que possibilitam que as grandes maiorias intervenham e pensem as políticas públicas. 

Ressalve todos avanços dos últimos anos, a via institucional, que ao meu ver deve ser disputada e utilizada massivamente até seu limite, ainda não oferece subsídio para garantir conquistas substanciais, de direitos e que transformem as condições materiais de vida da maioria da população. 

Hoje o Brasil tem um deficit de moradia de 7 milhões de casas, a reforma agrária desacelerou no último período, o tema da reforma urbana e da mobilidade urbana são centrais para qualquer planejamento político futuro. A especulação imobiliária nas grandes cidades não sofre nenhum tipo de controle por parte do Estado, pelo contrário, esse tem sido parceiro das grandes empreitarias, construtoras e incorporadoras através de financiamento e isenções. (Minha casa minha vida merece reconhecimento, mas não fere essa lógica segregacionista de organizar o espaço urbano).

A já bastante propalada reforma política é uma necessidade visceral sim, mas há outras necessidades como: a auditoria da dívida dos estados e da união, uma reforma tributária que mude o caráter regressivo do sistema nacional que privilegia a concentração de renda e riqueza, a desmilitarização da polícia, a taxação das grandes fortunas e propriedades, a regulamentação e democratização dos meios de comunicação, entre outras pautas (nem entrarei na minha área, necessária refundação da educação básica e valorização da carreira do magistério). 

Vejam que aqui não estou falando em "revolução comunista", mas de ações que muitos países no mundo fizeram, no intuito de retirar o Estado, e seu potencial para investir, das mãos do mercado financeiro especulador nacional e internacional. Hoje o Estado está capturado, principalmente através das dívidas públicas (pagamentos de juros), da compra de serviços genéricos e especializados, e isenções. Soma-se a isso o fato de vivermos uma democracia corporativa do ponto de vista político, em que o mesmo poder econômico que tomou o Estado, define os gestores e representantes (parlamentares de todas esferas) da população.

Ainda antes da eleição pretendo escrever um breve texto para dizer o óbvio que a direita não assume e grande parte da esquerda receia admitir. Dilma e Aécio são diferentes, os governos do PT trouxeram avanços que devem ser reconhecidos e os trabalhadores o fazem, porém a eleição não pode pautar nossa análise de conjuntura, mas isso é para outra hora. 

Gregório Grisa






Nenhum comentário: