sexta-feira, fevereiro 06, 2015

A queda na Bolsa de Valores é sempre ruim?


Quando ouvimos a notícia de que a Bolsa fechou em queda, que o índice Ibovespa fechou negativo, pensamos "que ruim, sinal que a economia não está bem". Se naturalizou essa ideia, de que os negócios dos investidores têm de estarem de vento em popa para que as empresas cresçam, se produza bastante e se crie muitos empregos. Isso não necessariamente é verdade. 
Você tem ideia de quantos brasileiros investem na bolsa? O mercado de ações não produz, apenas gera ganhos de capital para quem aposta em capital variável, aplicação de maior risco, pois é especulativa. Porém, para quem já tem capital sólido e significativo patrimônio, aplicar na bolsa não é tão arriscado mais, pelo contrário, arriscado seria investir na cadeia produtiva real cujo retorno em tempos de crise é incerto. 
O capital financeiro é o destino de quem já tem recursos e não quer se incomodar com infraestrutura, logística, relações trabalhistas, fornecedores e outras questões que envolvem o setor produtivo. Dentre as várias razões para crise atual do capitalismo, essa facilitação que a especulação oferece aos mais ricos de duplicarem seu dinheiro sem produzir é uma das fundamentais. 
Respondendo a pergunta que fiz antes, 0,29% da população brasileira investe na Bolsa de Valores, algo em torno de 580 mil pessoas. Pra se ter uma ideia, temos 0,3% da nossa população presa no Brasil, 590 mil encarcerados. 
Por essas razões, não torço para que ações de empresas privadas, bancos, lojas e financeiras cresçam na bolsa, não torço mesmo que as ações de estatais disparem, quem irá comprar, vender, revender, ao fim e ao cabo, especular e lucrar é um número reduzido de pessoas que, em geral, já são ricas. 
Quando alguma medida política desagrada o mercado, me agrada, quando a bolsa cai é porque menos será atrativa para aqueles empresários que se mantêm no setor produtivo garantindo emprego e dinâmica na economia. 
A notícia da queda do índice Bovespa, dada de noite como tragédia no Jornal Nacional, não me entristece, especulação não é uma prioridade nacional, lucro de poucos improdutivos não é motivo de orgulho ou estabilidade econômica. Todavia, é o interesse desses poucos investidores que vem definindo os rumos da política econômica, eles são os fornecedores e anunciantes dos grandes canais de televisão e jornais, daí que a mídia corporativa defende com unhas e dentes seus anseios. 
Os ganhos sobre capitais não são taxados no Brasil, o mercado financeiro praticamente não tem regulação, dessa forma ele é muito atrativo. Mas os dados são importantes para se ter noção de proporcionalidade, por exemplo, apenas um terço dos moradores de Porto Alegre investem na Bolsa em todo país, pequena parcela de privilegiados e alguns aventureiros.
É claro que sei que os valores das ações de empresas afetam preços de produtos, o câmbio, a situação concreta no mercado de trabalho, mas ao avaliar determinada ação política, por exemplo, de fortalecimento do Estado, distribuição de renda e investimento em serviços públicos, não podemos levar em conta a queda ou alta da Bolsa de Valores. Medidas desse tipo, tão desejadas pela imensa maioria da população e absolutamente necessárias não farão a bolsa subir, pelo contrário, são tidas como "gastos da máquina pública" pelos especuladores. 
O Deus mercado não gostar, via de regra, é sinal que a base da pirâmide social pode sair beneficiada. 

Gregório Grisa

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