quarta-feira, maio 09, 2012

Consolo

* Esse pequeno texto é uma adaptação minha de alguns comentários de Richard Dawkins no livro Deus um delírio.

Chegou a hora de encarar o importante papel que Deus cumpre de nos confortar; e o desafio humanitário, se Deus não existir, de colocar alguma coisa em seu lugar. Muita gente que admite que Deus não existe, e que ele não é necessário para a moralidade, ainda recorre ao que frequentemente considera um trunfo: a suposta necessidade psicológica ou emocional de um Deus. Se você tirar a religião o que vai colocar no lugar? O que você tem a oferecer as pessoas que estão morrendo e seus parentes? 
A primeira coisa a dizer em resposta a isso é algo que nem deveria precisar ser dito. O poder de consolo da religião não a torna verdadeira. Mesmo que, em uma hipótese absurda, se comprovasse que a crença em Deus é absolutamente essencial para o bem-estar emocional e psicológico das pessoas e que os ateus fossem neuróticos desesperados levados ao suicídio por uma angustia cósmica por não crer - nada disso contribuiria para que se conceba a crença religiosa como verdadeira. Poderia ser evidência a favor da vantagem de se convencer que Deus existe, mesmo que ele não exista. Há significativa diferença entre crer em Deus e crer na crença, isto é, a crença de que é desejável acreditar mesmo que a crença em si seja falsa. Talvez se você repetir alguma coisa o bastante consiga se convencer de sua veracidade. 
É incrível quanta gente parece não saber a diferença entre "x é verdade" e "é desejável que as pessoas acreditem que x é verdade". Ou talvez elas não caiam nesse erro lógico, mas consideram a verdade pouco importante se comparada com os sentimentos humanos. Não quero desprezar os sentimentos humanos. Mas deixemos claro, em qualquer conversa, sobre o que estamos falando: sentimentos ou verdade. Os dois são muito importantes, mas não são a mesma coisa. 

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