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Departamentos do Campus Central da UA |
por Mariana Peruffo*
Estive hoje na Universidade de Aveiro, uma pérola em meio à queridíssima cidade de casas tradicionais de pescadores e belas construções Art Nouveau, entre outros estilos arquitetônicos históricos.
Já na chegada, nota-se da qualidade do plano urbano do Campus pela posição do estacionamento de veículos, no subsolo, deixando toda a superfície para que seja desbravada pelo pedestre. Nela, há inúmeros espaços para encontros coletivos, desde um grande anfiteatro em uma das extremidades que serve de cobertura para o Departamento de Artes, até os largos gramados ladeados por uma passarela coberta e aberta que tangencia os acessos dos edifícios dos departamentos sem tocá-los.
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Gramado e passarela pedonal |
Os edifícios dos departamentos, caixas em paralelepípedos de 3 a 4 pavimentos, quase todos construções em tijolos à vista da mesma cor, enganam bem o observador num primeiro momento, demonstrando tamanha semelhança morfológica. Entretanto, ao olhar mais atentamente, as diferenças entre eles aparecem e ficam mais evidentes quando observados em seus interiores.
O Departamento das Geociências (Arq.Eduardo Souto de Moura), todo em placas de concreto pré-moldado, laterais de vidros com brises horizontais destaca-se entre os outros edifícios de tijolos, que não são menos belos por repetirem o material.
Seu interior pouco elaborado abriga laboratórios, mas a arquitetura ali está nos detalhes: portas pivotantes de vidros leitosos, maçanetas com design e fechaduras diferenciadas é o que demonstra que tudo foi milimetricamente pensado.
Departamento das Geociências (à esquerda) |
Porta pivotante Dep.Geociências |
Vale à pena uma espiada curiosa nos interiores de cada departamento, todos se revelam únicos e representativos das disciplinas que abrigam, cheios de arquitetura, espaços agradáveis e mobiliários muito bem pensados.
Alguns grandes nomes da arquitetura estão entre os responsáveis pelas edificações da UA: Alcino Soutinho, Eduardo Souto de Moura e Álvaro Siza.
Álvaro Siza é o responsável pela biblioteca. O exterior, um tanto sujo e descuidado pela falta de manutenção, decepciona quando quem visita espera encontrar “obra do Siza”, mas é no interior dela que toda a expressão de sensibilidade arquitetônica se dá.
Biblioteca da UA |
A entrada com o guarda-volumes cheio de guarda-chuvas já prepara para a claridade e sensibilidade das salas de leitura.
Os pavimentos se dão em torno de um centro vazio de pé-direito total banhado de luz pelas aberturas zenitais arredondadas. As estantes de livros estão dispostas entre mesas de estudo em frente às janelas que emolduram a paisagem exterior, a Ria de Aveiro (qualquer semelhança com o Museu Iberê Camargo não é mera coincidência, pelo menos para mim).
O vão central é circundado não por guarda-corpos comuns e sim, por mesas largas e lineares de leitura, que protegem de qualquer queda eventual e ao mesmo tempo liberam a visão do observador. Móveis, banquetas, estantes de vidro e alunos lotam os lugares vagos e enchem de poesia o local.
O campus resume-se em espaços urbanos democráticos que estimulam os encontros coletivos nos anfiteatros abertos e gramados largos. O pedestre é agente principal nesse lugar que dá um toque contemporâneo ao visitante de Aveiro.
*Arquiteta e Urbanista
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