sexta-feira, agosto 21, 2015

De carona no senso-comum


A direita programática historicamente sempre demonstrou notável habilidade em se apoiar no senso-comum, em se utilizar dele como ferramenta de manutenção de seus privilégios e de seu lugar hegemônico.
Se apoiar no senso-comum é uma estratégia com grande potencial de sucesso em uma sociedade passional e despolitizada como a brasileira. A experiência política e democrática da população brasileira é pequena e frágil.
A esquerda, ao contrário, tem enorme dificuldade de partir do senso-comum para levar suas pautas a um conjunto maior de pessoas. Historicamente a esquerda avalia como antiética essa prática, seria "usar o povo como massa de manobra". O discurso de esquerda, dotado de linguagem sociológica e economicamente refinada, restringe o alcance a grandes maiorias e preserva certa pureza às chamadas "vanguardas" (há quem se orgulhe dessa exclusividade).
A direita se aproveita de ondas de insatisfação e compra seus discursos fáceis para disseminar interesses subterrâneos e mais elaborados. A corrupção é um exemplo de pauta assimilada pela direita como cobertor semântico e moral para levar a diante seu projeto conservador.
Outro exemplo vivo de oportuna utilização do senso-comum pela direita é a crença transversalmente incutida nas classes médias brasileiras de que o atual governo federal é de esquerda. Pessoas saem as ruas para reclamar de um governo comunista e de esquerda sem nenhum constrangimento. Ou seja, a despolitização e o senso-comum inviabilizam as pessoas de perceber que, na prática, o governo atual é neoliberal conservador, vide suas ações concretas e alianças.
A insatisfação difusa e alienada é utilizada pela direita mais reacionária como bandeira anti uma suposta "esquerda corrupta", no fundo a direita sabe das vantagens que esse governo lhe garante, mas quer impor suas pautas no âmbito dos costumes e acelerar o processo privatizante já em curso, mas em ritmo moderado.
A incapacidade do cidadão médio brasileiro de diferenciar o PT e o governo do pensamento e ações de uma esquerda orgânica é o meio pelo qual a direita fortalece seus valores, isto é, com base na manutenção do senso-comum e da alienação é que a direita prospera e não com base na superação desses estágios limitados da consciência humana.
Ser contra o atual governo e contra o impeachment, por exemplo, são posições incompreensíveis para senso-comum de pensamento binário, assim como ser de esquerda e ser contra o governo e o PT. Enquanto as pessoas não vislumbrarem a complexidade da política em suas múltiplas dimensões, servirão de joguete para uma direita que escolhe cada palavra, cada termo e cada enunciado para montar no cavalo da insatisfação coletiva e cavalgar na despolitização.

Gregório Grisa

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